Um dia normal do trolha Aristides Pinheiro

Data 23/06/2009 09:38:55 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

Acorda, Aristides.

Aristides Pinheiro,
Trolha honesto e aplicado,
Foi picar o ponto
Depois de dormir um bocado.

Ainda antes de poder lá chegar,
Acercou-se de um companheiro.
Ele trazia uma amiga,
Companhia de tiro certeiro.

Tu é que és o Aristides?
E antes que ele pudesse responder,
Enfiou-lhe um beijo na boca
E um abraço que o sufocava.

Parecia daqueles abraços
Entre parentes ou irmãos,
Mas mesmo tão bom
Que nem sabia a incesto.

Ela tinha os dentes estranhos.
Mas ele não se importou,
Pensando que finalmente
Alguém valorizava o rapaz.

Ele sabia do que era capaz,
Mestre do heroísmo aleatório...
Afinal era só chegar ao emprego
E levar um beijo obrigatório.

Uns minutos a seguir,
Agarrou a rapariga e deu-lhe outro,
Desta vez mais intencional
E cada vez menos racional.

Lá picou o dito cujo ponto,
Pronto para ir trabalhar,
Quando na fila de produção,
Aparece a patroa.

Nesse dia, Aristides não foi trabalhar.
Só se via uma tabuleta que dizia
"Candeias - 17km"
E uma estrada a subir em direcção ao céu.

Até lhe doíam os ouvidos
De tanta inclinação.
Ele nem desconfiava
Que ia haver mais acção no guião.

Quando chegou à vivenda
Senhorial de patrões de gente,
Correram para a cozinha
Assim num repente.

A patroa serviu-lhe camarão.
Estava bom.
Não sei o que aconteceu a seguir,
Mas o marisco foi de borla.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=88027