Para não ferir o tempo

Data 17/07/2009 02:40:15 | Tópico: Prosas Poéticas

De posse de uma ou outra convicção ainda inviolada, caminho de mão dada ao relógio – o tempo é um remédio amargo mas é doce o ir e vir dos ponteiros.
Posso eu aventurar-me lenta por entre os descaminhos estreitos que meus passos já plantaram mesmo antes que eu soubesse o que é andar ( quando em criança eu gostava de molhar a terra e pisotear a lama assim formada, depois sapateava com um vigor grande e desnecessário para ter nos pés a tinta mais viva que na ocasião conhecia; o chão de cera da varanda de minha mãe ganhava as impressões dos meus passos jovens de artista e eu, mesmo antes de ser descoberta, fecundava a fazenda com o meu melhor sorriso, o que creditava-me a obra )
Sim, hoje caminho de mão dada ao relógio, num sempre temor de feri-lo com minha noção de saudade. Nunca digo ao tempo que já tive anjos em carrossel nos meus sonhos; príncipes em galope nas florestas dos meus desejos; homens trabalhando, cada um no meu lugar;
e uma sede de qualquer outra coisa.




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