O meu Luso do mês de Agosto é António Paiva

Data 31/07/2009 23:11:15 | Tópico: Textos

“António Paiva, nasceu a 21 de Março, de 1959, em Santo André, Vila Nova de Poiares, uma vila situada entre a Serra da Lousã e o Rio Mondego. Cresceu na aldeia do Travasso, concelho de Penacova. Uma aldeia isolada na época, a estrada que a servia terminava na própria aldeia, sem ligação à sede do concelho.
Por lá estudou e pastoreou até à idade de 18 anos, a partir daí foi para a cidade de Coimbra, onde prosseguiu os estudos e iniciou a sua vida profissional. No ano de 2000 decidiu rumar à bela ilha da Madeira, onde reside actualmente.
Apesar de a escrita o acompanhar desde muito cedo, só em finais de Agosto de 2006, surge a publicação do seu primeiro livro de poemas, “Juntando as Letras”. Em Maio de 2007, é editado o seu segundo livro, “Janela do Pensamento”, uma compilação de poemas e prosa poética. Quase a terminar o ano, em Outubro de 2007, nasce mais um livro de poemas e prosa poética, intitulado “Navegando nas Palavras”. No ano de 2008 fez parte de um grupo de onze autores, que lavraram e assinaram as páginas do livro, “Leituras Soltas”, uma edição conjunta da Fnac e da editora “O Liberal”, lançado a 13 de Dezembro, tendo o total da receita das vendas revertido a favor da AMI e do Rotary Clube do Funchal. Em Dezembro de 2007, O Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, confere-lhe o Diploma de Honra e Mérito ao Escritor. Os livros “Juntando as Letras”, “Janela do Pensamento” e “Navegando nas Palavras”, para além da poesia e da prosa poética, têm um outro denominador comum, que muito orgulha o autor. Angariam fundos para instituições, que apoiam e acolhem crianças carenciadas e em risco. Aldeias de Crianças SOS de Portugal, Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro, Núcleo Regional da Madeira e Ajuda de Berço, instituição que acolhe crianças em risco dos 0 aos 3 anos de idade.
Em Abril de 2009 é editado o seu primeiro livro exclusivamente em prosa "Pedaços de Vida e Fantasia".
António Paiva conta já com um considerável número de escolas visitadas, no Continente e na Ilha da Madeira. Fomentar o gosto pela leitura e pela escrita, junto dos mais jovens, têm-lhe proporcionado dos mais gratificantes momentos na sua vida, quer como homem, quer como escritor. Sendo por isso, uma actividade que procurará intensificar, e tudo fará para responder afirmativamente, a todas as solicitações que lhe forem endereçadas nesse sentido.”

" Tenho as minhas hesitações, passo a vida pendurado no instinto, passo tempos infinitos ansioso e febril, outros completamente desligado, reconheço que sou portador de algum egoísmo, gosto de pentear luares e recordações.”

"Uma vida não se justifica pela justificação dos actos, tão pouco dos factos. Um processo de aprendizagem permanente, onde as palavras se defendem do orgulho. Nos extremos, a dor coabita com elas e com a vida. Às vezes nada as distingue do silêncio, são apenas uma forma de o suavizar. Nelas respiro e me abrigo; as minhas mãos movem-se obedecendo ao meu pensamento, pela força das palavras. Convém lembrar que um coração tem duas faces, é a morada perfeita para a inspiração de um caçador de palavras".

António Paiva revela-se ao leitor como um escritor multifacetado que vive fascinado pela magia das palavras, ávido de conhecimento, introvertido, altruísta e modesto. Posto este manancial de talento e sensibilidade, a minha escolha para o Luso-Poeta do mês de Agosto recaiu, conscientemente, num escritor de inegável e reconhecido valor literário ao mesmo tempo que num homem solidário e detentor de uma rara grandeza humana.

- A fim de te podermos conhecer um pouco melhor talvez nos possas falar um pouco da tua profissão e de como habitualmente decorre o teu dia-a-dia.

- A minha actividade profissional tem sido enriquecedora e variada, aos 18 anos de idade entrei para a Portugal Telecom, ao mesmo tempo que prosseguia os estudos, aos 22 anos já liderava um grupo de vinte pessoas, todas elas mais velhas do que eu. Depois de 14 anos na Portugal Telecom, saí para exercer funções de director comercial na ASP Telecomunicações. A vontade de querer conhecer outros ramos de negócio, levou-me até à Vila Azul Propriedades, uma empresa do norte onde fui director comercial. E, porque novos desafios são para mim um estímulo, entrei para o Grupo Jerónimo Martins como director de lojas. Voltando a exercer a função de director comercial no Grupo Machados, empresa da Região Autónoma da Madeira. A minha actividade profissional sempre me deixou pouca, ou quase nenhuma disponibilidade, para me dedicar aos sonhos e à minha paixão – a escrita. Daí que, há cerca de 3 anos decidi mudar o rumo das coisas, passando apenas a colaborar em regime de prestador de serviços com algumas empresas, o que me permite ter mais tempo disponível para a escrita, e para actividades a ela ligadas. O que faz de mim uma pessoa mais feliz e realizada.

- Com qual dos géneros literários te identificas mais, poesia ou prosa?

- Esta é uma questão que me tem sido colocada diversas vezes, ao que eu invariavelmente respondo; identifico-me com a escrita. É que, ambas as formas de criar me seduzem de igual modo, ao ponto de; lhes dedicar um amor despudoradamente sério. Ou ainda; às palavras tudo darei, até a minha vida, a minha morte não serve a ninguém, por isso a guardo para mim.

- Na tua biografia sobressai o teu lado humanitário. Cresce em ti a vontade de aliares a tua escrita às necessidades daqueles que são mais vulneráveis. Em que é que o teu contributo a determinadas causas sociais contribui para o teu crescimento como escritor e ser humano?

- O meio onde cresci foi uma escola que me preparou para a vida, tratando-se de um meio rural onde a grande maioria das pessoas eram pobres ou remediadas. Havia um grande espírito de entreajuda até nas lides do campo. Quem tinha alguma coisa partilhava com quem tinha menos ou nada. Isso marcou a minha personalidade sem dúvida.
Exercer a Cidadania na sua plenitude, entendo-o como um dever de cada um de nós. E irrita-me observar que tanta gente escreve e fala sobre as misérias e dificuldades do seu semelhante, mas na prática nada fazem. Têm muita pena dizem – como eu tenho tanta pena da pena deles – melhor fariam se estivessem quietos e calados. Ninguém precisa de pena, muitos necessitam isso sim, da nossa solidariedade activa e efectiva. Sobretudo os que não se podem defender por si mesmos – as crianças. E, tudo o que eu possa fazer ou faça nesse sentido, será sempre muito pouco e, para além disso não faço mais do que o meu dever. A verdade é que têm sido as crianças me mais têm ensinado a crescer como ser humano, e ao mesmo tempo me ajudam a corporizar o meu sonho de escrita.


- Conta-nos como te surgiu a ideia de lançares o repto aos empresários para que associassem as suas marcas aos livros e à cultura e como a “Vinícola Castelar” resolveu acatar a sugestão e transformar em rótulo do novo vinho Regional das Beiras a capa do teu livro “ Pedaços de vida e fantasia”?

- Isso é algo em que acredito convictamente, aliás; os países mais desenvolvidos, os países onde se registam os índices mais elevados de produtividade e criação de riqueza, são aqueles onde os governos e as empresas investem a sério na cultura e nas artes. E, entendo que em momentos como os que agora vivemos, são a melhor altura para dar passos decididos nesse sentido. No final de 2008 lancei esse desafio em Anadia, a Vinícola Castelar decidiu aceitá-lo, na minha opinião foi uma decisão extremamente inteligente, não tardará por certo a colher frutos dessa decisão. Espero sinceramente que outros lhe sigam o exemplo.

- Um menino da serra que conhece o mar aos 12 anos. Esse fascínio e deslumbramento pelo mar em que medida esteve mais tarde na base da tua escolha por residir na Ilha da Madeira?

- Não tenho consciência formada sobre isso, no entanto o mais certo, é que esse fascínio e deslumbramento que continua em crescendo dentro de mim, esteja na base dessa decisão, a Madeira é uma ilha que conheço há cerca de 30 anos, tenho assistido à sua evolução e transformação, no entanto a sua beleza e essência continuam vivas e apaixonantes. Desde a primeira vez que pisei este chão rodeado de mar, que senti o desejo de o habitar a tempo inteiro. Até que no ano de 2000, tomei a decisão de fazer as malas e cá estou até hoje, plenamente satisfeito e feliz com a minha decisão.

- O teu próximo livro “ 70 poemas por um sorriso” foi concebido a pensar numa causa que apadrinhaste com muito carinho e sensibilidade. Podes falar-nos desse livro e o porquê da escolha da APPACDM de Setúbal, enquanto Instituição que apoia crianças e jovens portadores de deficiência mental?

- A causa é muito mais importante que o livro, e do que eu. Sobre o conteúdo do livro não adiantarei nada, isso é uma tarefa que caberá aos possíveis leitores. A ideia e a escolha da APPACDM de Setúbal, nasceu de alguns contactos que tivemos a propósito de outras iniciativas de escrita. Poder alcançar mais este objectivo, é extremamente gratificante para mim. Claro que, este projecto só foi possível, graças à extrema generosidade de algumas pessoas e empresas. Refiro-me Ao Sr. José Paiva, que não sendo meu familiar, fui carinhosamente adoptado como amigo pela sua família. A Helena Paz, que emprestou o seu talento e arte na pintura, criando numa tela a óleo a pintura que será o rosto do livro. A empresa Lusis, Lda., a Editora Reditep, Lda. e a Gráfica Linkprint, Lda.
Posso assegurar que o resultado final é um trabalho gráfico e editorial de excelente qualidade. O livro será comercializado a um preço extremamente acessível, o que permitirá alargar o leque de pessoas que o poderão adquirir, podendo desse modo ajudar a APPACDM de Setúbal, a ultrapassar as dificuldades quotidianas vividas por instituições que se entregam a ajudar a sociedade atenuando dramas e carências.


- Se te perguntassem qual o teu livro, filme e música favorita, conseguirias eleger entre muitos?

- Livro favorito, é quase uma violência para mim, escolher um livro como favorito, no entanto deixo como uma referência incontornável das minhas leituras, o Livro do Desassossego, de Bernardo Soares.
- Filme Favorito, de novo, de tantos e bons filmes com que já me deliciei, sonhei e cresci, atrevo-me a colocar em evidência Fuga Para a Vitória, se já o viram compreenderão porquê, se não, vejam e estou certo que compreenderão.
- Música favorita, a música sempre me acompanha, sobretudo nos momentos de escrita, destaco no entanto As Quatro Estações, de Vivaldi.


- Qual o papel da Luso-Poemas na divulgação do teu trabalho?

- Curiosamente esta nomeação coincide com o mês em que faço 2 anos como utilizador deste site. Como já disse em tempos, em determinados momentos este espaço funciona para mim como um “laboratório”, um veículo para chegar a pessoas que possivelmente não chegaria. Por aqui tenho criado alguns laços fortes, tenho consolidado as minhas opções sobre o que quero ser, e também definitivamente, sobre aquilo que não quero mesmo ser.

- Quem sugeres para poeta do mês de Setembro?

- Como a regra que me foi transmitida diz que o homem escolhe mulher, e a mulher escolhe homem.
Eu escolho Maria Verde, e se ela aceitar a minha escolha, ficarão a saber porquê.


A ti, fico-te grato pela oportunidade e pela tua coragem.
Um abraço de estima a todos os que sabem estimar e cultivam a estima.



Maria Fernanda Reis Esteves
49 anos
Natural: Setúbal



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