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 CrostaData 07/04/2006 12:59:55 | Tópico: Poemas -> Sombrios
 
 |  | Paredes escuras, humidade viva e sufocante. Doce lar infernal que me embriaga os sentidos,
 E me faz seu escravo, um defunto amante...
 Não sou mais que isso desde tempos antigos...
 
 As minhas vísceras já as consumi eu próprio;
 Entusiasmei-me com falsas e frágeis esperanças
 Que findaram antes mesmo de se tornarem vício,
 Tornando meus fortes desejos em atitudes mansas...
 
 Alimentava-me de mim próprio sofregamente
 Para não morrer consumido pelo meu cubículo.
 E assim lá ía sobrevivendo dolorosamente,
 Deixando a Morte abandonada e o Diabo fulo.
 
 Agora que me conheço por dentro e por fora,
 Submeto minha alma e espírito aos meus caprichos.
 Expulsei-os de mim e em muito boa hora.
 Não passavam de vermes, repelentes bichos.
 
 Os espíritos, outrora atrás de minha alma,
 Atacam-me, atazanam-me, enlouquecem-me.
 Riem-se de mim, ouço-os à noite na cama.
 Cheio de medo e intranquilo querem ver-me...
 
 Não me dão um minuto de tréguas que seja.
 Querem os restos que deixei de mim próprio
 Mesmo que nas derradeiras forças eu me veja,
 Querem-me desperto, alerta e sóbrio...
 
 Chupam-me as entranhas até ao tutano;
 Sou seu alimento e desprezível brinquedo;
 Uma oferenda a um deus tirano,
 Que se livrou de meus irmãos muito cedo...
 
 Vagueio de mão em mão à espera
 De que um dia felizmente me abandonem.
 Era o princípio de uma nova Era;
 Desejem-me isso, rezem e sonhem.
 
 Necessito de liberdade; não, de ser livre!
 Longe da merda, perto da vida...
 Talvez o único sítio onde não estive,
 Pois sou alguém que só com a Morte lida.
 
 Com Ela faço todo o tipo de jogos,
 Mas o que mais gosto é o das "Escondidas"!
 Digo-lhe:-"Não me apanhas, talvez mais logo!"
 E enfadada vai ceifar outras vidas...
 
 Mas morrerei e tal como nasci.
 Sem nada e com nada para sempre.
 Com um vazio foi como vivi...
 Quem me dera ainda estar no ventre...<br />
 
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