#10

Data 22/08/2009 21:34:21 | Tópico: Poemas


ninguém sabe quando se acaba a vida,
não se dão conta.
a morte vem, simplesmente chega,
rouba o resto que já não pertence a esta história
e vai, para sempre vai connosco dentro dela.
talvez seja o fim ou um recomeço,
talvez não seja nada,
certo é que desse nada nos ficam memórias,
coisas porque chorar:
um rosto do tamanho do mundo,
um coração sentado à porta de uma casa,
a quarta casa a contar do fim da rua,
aquela que afinal é um beco.
possivelmente os gatos não se recordam,
não há lembrança que aguente sete vidas.
provavelmente os velhos do costume
perdem as avé-marias no rosário
mas ela, amélia, ainda chora,
para sempre a solidão no seu colo.

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era uma vez amélia das dores,
viúva, sozinha, corcunda,
tricotava à porta da casa uma solidão tamanha
que os gatos subiam paredes.
tinha poucos amigos, dos poucos, muitos morreram,
outros há que ficaram perdidos na rua
como cães vadios a uivar por carinho.
dela não reza a história.



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