Poemas : 

#10

 


. façam de conta que eu não estive cá .

ninguém sabe quando se acaba a vida,
não se dão conta.
a morte vem, simplesmente chega,
rouba o resto que já não pertence a esta história
e vai, para sempre vai connosco dentro dela.
talvez seja o fim ou um recomeço,
talvez não seja nada,
certo é que desse nada nos ficam memórias,
coisas porque chorar:
um rosto do tamanho do mundo,
um coração sentado à porta de uma casa,
a quarta casa a contar do fim da rua,
aquela que afinal é um beco.
possivelmente os gatos não se recordam,
não há lembrança que aguente sete vidas.
provavelmente os velhos do costume
perdem as avé-marias no rosário
mas ela, amélia, ainda chora,
para sempre a solidão no seu colo.

_________________________________________________________

era uma vez amélia das dores,
viúva, sozinha, corcunda,
tricotava à porta da casa uma solidão tamanha
que os gatos subiam paredes.
tinha poucos amigos, dos poucos, muitos morreram,
outros há que ficaram perdidos na rua
como cães vadios a uivar por carinho.
dela não reza a história.
 
Autor
Margarete
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 22/08/2009 22:05  Atualizado: 22/08/2009 22:05
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: #10
É impressionante Margarete como tu nos contas uma história como se nos fizesses ouvir o som plangente de um violino no cimo de um telhado.
Tudo o que escreves é tocante, de uma sensibilidade tal que nos transporta muita vez para os becos do nosso eu... onde encontramos a tal menina que fomos e que por um qualquer motivo desconhecido, deixou de rir.
A introdução final dá ao poema uma consistência ainda maior,porque belo e visceral é tudo quanto escreves.
Desculpa não saber dizer-te melhor o que sinto quanto te leio. Os teus escritos mereciam-no, mas eu quedo-me perante essa impossibilidade gritante.
Beijinho.
Vóny Ferreira

Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 22/08/2009 22:06  Atualizado: 22/08/2009 22:06
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: #10
a tua "personagem",a amélia perdeu para a morte o(s) seu(s) amor(es).encheu-se de solidão.esqueceu-se do sentido da vida.
da imensidão do seu sofrimento,das suas memórias,não reza a história...ou talvez reze.cantada que fica nestes teus poemas.
a saudade.

beijos mar.
alex

Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 22/08/2009 22:07  Atualizado: 22/08/2009 22:09
Colaborador
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: #10
ninguém sabe mesmo quando se acaba a vida, menina margarete, ou melhor, poeta margarete, porque eu odeio a palavra poetisa. eu mesmo já morri muitas vezes, e devo morrer outras tantas. não sou gato,não: tenho medo dos muros e pavor das alturas. sete vidas não tenho. mas ainda viverei muito, com ou sem tropeços, para, mesmo aqui de longe, separado pelo mar imenso, ler e aplaudir as coisas que você escreve.

adoro você, menina.

júlio

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/08/2009 23:22  Atualizado: 22/08/2009 23:22
 Re: #10
mar
respiro bem no teu ambiente poético, mas mesmo que assim não fosse, é inegável que tens um vozeirão destinado a ressoar nas páginas de livros irmãos das nossas grandes referências.

Enviado por Tópico
mariamateus
Publicado: 25/08/2009 23:15  Atualizado: 25/08/2009 23:15
Da casa!
Usuário desde: 16/04/2009
Localidade: Vila Nova de Gaia..Porto
Mensagens: 452
 Re: #10
Margarete



era uma vez amélia das dores,
viúva, sozinha, corcunda,
tricotava à porta da casa uma solidão tamanha
que os gatos subiam paredes.
tinha poucos amigos, dos poucos, muitos morreram,
outros há que ficaram perdidos na rua
como cães vadios a uivar por carinho.
dela não reza a história.

PARABÉNS!!

GOSTEI IMENSO.

ABRAÇO LUZ