A morte de não sei

Data 06/09/2009 22:13:29 | Tópico: Textos

Renitente, ornado de reticente, o indeciso refugiou-se em terra de não sei. Entre duas ou três lágrimas e alguns risos lá se fabricou um encolher de ombros acompanhado de dúvidas e indefinições.
Lá na terra de não sei, onde as pedras são moles e as almofadas são recheadas delas, o regime reinante é abstencionista e sem interesse por coisas concretas. Não há quem decida, não há quem queira decidir e ninguém sabe, sequer, o que comer.
Um dia, o indeciso, apesar de ser não saber muito, sentiu-se responsável... alto! Responsável?
Na terra de não sei?
Violaria a lei, se houvesse.
"Rua!" gritaram incomodados e com decisão os nativos.
Com decisão?
"Mas o que se passa aqui?" perguntou o regime, tentando saber algo de concreto.
Tentando saber algo de concreto? Na terra de não sei?...
Morreu assim. Morreu a terra de não sei. Faliu por não saber que até para ser ignorante há limites.

Valdevinoxis

(originalmente publicado no Luso em 06/02/2008)


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