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A morte de não sei

 
Renitente, ornado de reticente, o indeciso refugiou-se em terra de não sei. Entre duas ou três lágrimas e alguns risos lá se fabricou um encolher de ombros acompanhado de dúvidas e indefinições.
Lá na terra de não sei, onde as pedras são moles e as almofadas são recheadas delas, o regime reinante é abstencionista e sem interesse por coisas concretas. Não há quem decida, não há quem queira decidir e ninguém sabe, sequer, o que comer.
Um dia, o indeciso, apesar de ser não saber muito, sentiu-se responsável... alto! Responsável?
Na terra de não sei?
Violaria a lei, se houvesse.
"Rua!" gritaram incomodados e com decisão os nativos.
Com decisão?
"Mas o que se passa aqui?" perguntou o regime, tentando saber algo de concreto.
Tentando saber algo de concreto? Na terra de não sei?...
Morreu assim. Morreu a terra de não sei. Faliu por não saber que até para ser ignorante há limites.

Valdevinoxis

(originalmente publicado no Luso em 06/02/2008)


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
jaber
Publicado: 07/09/2009 00:14  Atualizado: 07/09/2009 00:14
Membro de honra
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 Re: A morte de não sei
Um abstencionista pode não ser indeciso, pode até decididamente ser abstencionista.

Abraço Val

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/09/2009 11:47  Atualizado: 07/09/2009 11:47
 Re: A morte de não sei
Muito interessante este texto porque nos chama a atenção para um facto preocupante, o abstencionismo, e não falo apenas no contexto politico, mas na vida em geral.

Abraço,
Vitória

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 21/09/2009 11:49  Atualizado: 21/09/2009 11:49
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 Re: A morte de não sei
..sem tirar mérito ao que escreves tenho que implementar este escritor de literatura portuguesa,pois a ironia assemelha-se..e eu gosto!

http://goncalomtavares.blogspot.com/


abraço.