PARA ALEXANDRE O'NEILL

Data 08/09/2009 05:47:03 | Tópico: Poemas

"Mas sofre de ternura, bebe demais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse..."

- Alexandre O'Neill, Auto-Retrato -


também bebo demais e rio-me
das penas deste purgatório - não o de torga -
que construí para mim mesmo
tenho sonhos terríveis talvez em decorrência do álcool
sonho sonhos de necrotério
ainda ontem alexandre vi meu corpo nu
deitado na morgue
acordei suando frio
fui até à janela e olhei para o céu
havia uma gorda lua cheia debochando de mim
pela manhã tive a certeza de que ainda estava vivo
olhei meu rosto no espelho
e reparei que os meus olhos estavam mais tristes
do que de costume
a puta da minha vida tem disso
as mulheres me roubam a consciência de homem
nessas horas queria ser o poodle branco da minha vizinha
come bebe ignora o tempo e ainda vive cercado de mimos
esta vida do caralho vive a nos dar bananas
agora dei de beber pela manhã
gosto do desprezo com que me olham no bar
o sofrimento pra mim é um vício que não vou largar nunca
escrevo meia dúzia de poemas e me dou por satisfeito
tenho a capacidade de morrer quando quero
mas o porteiro do prédio onde moro não sabe disso
e vive dizendo aos outros que eu sou louco
de vez em quando até sou
sempre quando converso comigo acabo em discussão
desculpe se este poema é ruim
qualquer dia lhe faço outro
com cinco doses na cabeça é impossível fazer melhor
até breve
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júlio, 8-09-09




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