MEMORIAL DE MIM

Data 10/09/2009 20:47:55 | Tópico: Poemas

"Non mi rimane piú che e la mia orige.
Ho goduto di tuto, e soffrero.
Non mi rimare che rassengari a morrire.
Quando un apperito maligno mi spengeva la vita."

Ungaretti, sobre o poema Lucca

nada mais espero de mim
nada mais espero de ti
a manhã que acontece lá fora
é igual a todas as outras
um poeta não se constrói apenas
com boas intenções
também o amor não vive
só de boas intenções

perdão: não me interessa mais
saber que dia é hoje
da janela vejo com tristeza
as crianças que brincam na praça

hoje entendo que a minha poesia
foi um exercício de inutilidade plena
vivi meio século dividido
entre o ócio e o desespero
para descobrir que o morto esquecido
na morgue porque ninguém o reclamou
chama-se júlio saraiva

tenho dúvidas a meu respeito
: vivi meio século
para descobrir que em todos os carnavais que inventei
fui o grande folião o destaque maior
dançando comigo mesmo nos bailes de mascarados

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"Conheço enfim meu destino, a minha origem.
Sei de passado e de porvir que um homem pode saber.
Nada me resta para profanar, nada para sonhar."

J.S.

na minha tradução, feita sob encomenda ao editor ênio silveira, procurei respeitar duas coisas: a primeira, o poeta, que veio morar no brasil, onde por algum tempo lecionou literatura na universidade são paulo.
dois: a dor de ter perdido seu filho no brasil.antonieto está sepultado no cemitério da consolação, onde fui ao seu túmulo pedir perdão ao pai, por ser péssimo tradutor.
três e a última: por giuseppe ungaretti (pronuncia-se com o Ê assim fechado nunca ter ido a lucca, mas vivido em alexandria, egito, onde seus pais moraram.


júlio


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