Hora dos trevos-mordidos

Data 14/09/2009 18:16:17 | Tópico: Poemas

vou levar-te a morder trevos frescos, trincá-los,
para que a seiva escorra aveludado pela tua boca
e um travo de natureza-nua se cristalize no teu tronco.

terá Matisse pintado trevos nus?

experimenta morder a textura húmida das quatro folhas, agitando-se.
desprendem sementes rugosas, estames inchados, pólenes leves
na gestação das trevas.

fazem-me lembrar o teu tronco ocluso pela ténue luz de uma lua açucarada,
a semear insónias.

minha vocação?
é levar-te a morder trevos frescos.
é que esta paixão que me prende ao teu corpo trevo onde me atrevo a plantar trevos
faz-me invasora de invenções.

(planto sempre de noite com a tua presença etérea a meu lado.)

não sei se os meus vizinhos se inquietarão ao perceberem desta plantação ilícita, mas dá-me prazer.
é que enquanto planto, desponta a tua raiz nos vasos, por entre trevas e luz,
onde o meu mais secreto jardim se mantém,
amanhã iniciar mais uma Primavera.
(mas é imprevista a gestação das estações)



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