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PEQUENAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A POESIA
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26/7/2009 18:46
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"Poesia é doença que só encontra remédio na morte".

Esta frase escrita em um dos prefácios (aquele que está em Lira dos vinte anos) de Atílio Milano e Edgar Cavalheiro para as Poesias completas de Álvares de Azevedo (1831 - 1852) (Rio de Janeiro: Ediouro, 1995) sem nenhuma dúvida, põe fim às indagações mais profundas daqueles que escrevem e lêem poesias, ou seja, atinge diretamente ao produtor (autor/poeta) e ao consumidor (leitor), resumindo tudo isto, poeta é aquele indivíduo que sofre de um mal que não tem cura.

Definir o que é Poesia não é tarefa das mais simples, nos vários manuais que estudam o tema, encontramos uma definição básica: "arte de escrita em versos", declaração esta insatisfatória, pois, esquece-se de muitos valores incutidos na temática (sensibilidade, formação cultural, condição intelectual, etc.).

Ainda com base na resposta (acima) percebemos que fica fora desta análise a insistência do poeta para encontrar a sonoridade (pura) do verso, a beleza (escondida) que toda palavra encerra, aquela "desconfiança" de que o vocábulo está fora de sua função real(poética) e muitos outros nuances não englobados por esta definição.

Podemos considerar como Poesia uma mistura de todos estes pensamentos, somados com aquela capacidade de sentir emoções que emanam do interior da alma e que nos levam a perceber toda essência (infiltrada) em uma temática.

Poesia também é arte (falada, pintada, esculpida, etc.) de cultivar o belo, o sonho, o doce que a vida oferece.

Poesia é toda comunicação (em todas as suas possibilidades) que pode modificar o mais duro dos Regimes, transformar o mais insensível dos corações, renovar o Mundo e torná-lo um lugar seguro e gostoso de viver.

Finalizando, independente de manuais ou das "reflexões" apresentadas, Poesia também é (e sempre será) trabalho com a linguagem.


Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)



Criado em: 20/8/2013 0:35
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Augusto de Sênior
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TEXTOS COMENTADOS DA LITERATURA BRASILEIRA - POESIAS - BALADA DO AMOR ATRAVÉS DAS IDADES
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BALADA DO AMOR ATRAVÉS DAS IDADES
(Carlos Drummond de Andrade)

Eu te gosto, você me gosta Depois (tempos mais amenos)
desde tempos imemoriais. fui cortesão de Versailles,
Eu era grego, você troiana, espirituoso e devasso.
troiana mas não Helena. Você cismou de ser freira...
Saí do cavalo de pau Pulei muro de convento
para matar seu irmão. mas complicações políticas
Matei, brigamos, morremos. nos levaram a guilhotina.

Virei soldado romano, Hoje sou moço moderno,
Perseguidor de cristãos. remo, pulo, danço, boxo,
Na porta da catacumba tenho dinheiro no banco.
Encontrei-te novamente. Você é uma loura notável,
Mas quando vi você nua boxa, dança, pula, rema.
Caída na areia do circo Seu pai é que não faz gosto.
E o leão que vinha vindo, Mas depois de mil peripécias,
Dei um pulo desesperado eu, herói da Paramount,
e o leão comeu nós dois. te abraço, beijo e casamos.

Depois fui pirata mouro Poesia e prosa.
Flagelo da Tripolitânia. Rio de Janeiro,
Toquei fogo na fragata Nova Aguilar, 1988.
Onde você se escondia
Da fúria do meu bergantim.
Mas quando eu ia te pegar
E te fazer minha escrava,
Você fez o sinal-da-cruz
E rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.


Podemos perceber através do poema de Carlos Drummond de Andrade (31/10/1902 – 17/08/1987 – natural de Itabira do Mato Dentro/MG - Modernismo Brasileiro) a intensidade do amor puro, que sobrevive a tudo, até mesmo ao poder destrutivo dos tempos (“idades”) e a essência (imortal) do texto literário (aquele que visa provocar emoções, sentimentos, ou seja, produzir beleza).

A poesia em questão é objeto, em literatura, utilizada para mostrar a força expressiva do texto literário e os dois principais níveis de leitura de um texto (Primeiro: o nível literal, aquilo que está realmente escrito, em outras palavras, é a compreensão dos elementos iniciais e estáticos do texto.

Segundo nível: é o da interpretação, ou seja, aquilo que o autor realmente quis dizer, nesse nível o texto apresenta vários sentidos) e está dividida em cinco estrofes (conjunto de versos, sendo entendido que, graficamente, cada linha do texto é um verso) que “contam”, “narram” uma historia de amor, com tempo (imemorial), lugares (diversos: Grécia, Roma, França, Brasil, etc.), personagens (um casal de namorados que, se encontra e separa em diversas “idades”).

A poesia inicia-se muito além da imaginação (tempos desconhecidos), passa pela Grécia (a mítica Troia de Helena de Esparta, que passou para a História como Helena de Troia, e do espartano Paris), lembra-nos o episódio do cavalo de Ulisses e avança pelas “idades”, contando as “transformações” porque passam o aventureiro casal de namorados.

Em seguida, vai para Roma, e novo final triste, comidos por um leão no Coliseu (“na areia do circo...”). Continuando as desventuras, o casal “reencontra-se” no Oriente, Ele, pirata mouro, Ela, a jovem donzela cristã indefesa, e entre, incêndios, fúrias e aventuras, acontece o duplo suicídio que, mais uma vez, separa o casal de amantes.

Na quarta estrofe, tempos mais felizes (“tempos mais amenos”), os dois são cortesões na Versailles dos nobres de França, até que surge a guilhotina de Guillotin (Joseph-Ignace Guillotin 1738-1814 – médico que sugeriu a utilização da mortífera máquina durante a Revolução Francesa) e, num salto para o presente, Ele é um moço moderno que rema, que pula, que dança, que joga, e que tem dinheiro no banco.

Ela, “uma loura notável” que também joga, dança, pula e rema, e depois de mil desventuras, Ele (herói de cinema) faz filmes na Paramout (companhia americana de películas cinematográficas), encontra sua mocinha e temos um final feliz e, juntamente, a explicação do poema, que pode ser um filme, um sonho ou um relato verídico.

Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)



Criado em: 20/8/2013 0:23
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Augusto de Sênior
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TEXTOS COMENTADOS DA LITERATURA BRASILEIRA - POESIAS - SONETO DA FIDELIDADE (VINÍCIUS DE MORAES)
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SONETO DA FIDELIDADE
(Vinícius de Moraes)

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quanto mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive);
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Antologia poética.
Rio de Janeiro. A Noite, 1949.



O soneto (composição poética de forma fixa, de origem italiana, que significa – pequeno som - composta de quatorze versos, divididos em dois quartetos – estrofes de quatro versos – e dois tercetos – estrofes de três versos e com o seguinte esquema rítmico: abba – abba – cde – dec) de fidelidade de autoria de Vinicius de Moraes (Marcus Vinícius da Cruz e Melo Moraes – natural do Rio de Janeira, nascido em 19/10/1913 e falecido em 09/07/1980 – Modernismo Brasileiro) poeta que, nos anos sessenta, emigrou para a Música Popular Brasileira, pode ser classificado como um dos mais belos da poesia brasileira.

No primeiro conjunto de versos, percebemos uma declaração explícita ao Amor, isto é, atenção total ao sentimento amoroso e o cuidado que devemos prestar a esse sentimento, haja vista o nome do soneto (de fidelidade), no sentido de valorização, adoração, e que mesmo em vista de outros “encantos”, o Amor não deve esmorecer e sim, fortificar-se em seu pensamento.

Na segunda estrofe (conjunto de versos, entendendo-se que, graficamente, cada linha do poema significa um verso) temos um grande louvor ao Amor, ou seja, “vivê-lo em cada vão momento”, e em sua homenagem espalhar um riso solto, agradável, leve, revigorador, e também nas horas tristes, derramar o pranto, a tristeza, e até mesmo a felicidade.

No primeiro terceto do poema (estrofe de três versos) percebemos que o ”pequeno poeta” (apelido de Vinícius de Moraes) almeja uma morte tardia (que, infelizmente, ocorreu aos sessenta e seis anos de idade), que é a angústia de quem vive (a dúvida de não saber a data), ou seja, a contradição eterna entre vida e morte, e finaliza com outra questão crucial: a solidão (a triste solidão) fim de quem ama.

No segundo e último terceto, o autor procura concluir o seu raciocínio poético, contando de suas relações com o Amor, pedindo que não sejam imortais, uma vez que, são chamas, ou seja, quentes, ardentes, mas que podem apagar-se com o sopro do destino, mas que sejam infinitas, isto é, eternas, enquanto durarem.

Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)



Criado em: 20/8/2013 0:02
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TEXTOS COMENTADOS DA LITERATURA BRASILEIRA - POESIAS - NÃO HÁ VAGAS (FERREIRA GULLAR)
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NÃO HÁ VAGAS (Ferreira Gullar)

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabem no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores
está fechado:
“não há vagas”

Só cabem no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema senhores,
não fede
nem cheira

Antologia poética. Rio de Janeiro, Fontana/Summus, 1977.

Podemos perceber de imediato que o poema (“Não há vagas”) traz uma das características do Movimento Modernista Brasileiro, ou seja, a ausência de pontuação, e também é perfeito exemplar para estudar a literatura em sua função social, ou seja, a literatura engajada (panfletária) na defesa do “ideário político, filosófico ou religioso”, com o intuito maior de alertar, informar, modificar, denunciar, etc. Com um tom de contestação o poeta denuncia o desemprego, ou seja, a situação do operário brasileiro (e mundial) que, ao procurar meios de sustento para enfrentar a dura realidade que o cerca, esbarra com este “pequeno lembrete de negação” e, em contrapartida, precisa enfrentar o preço absurdo dos gêneros de primeira necessidade (feijão e arroz). Lembra-nos também o valor de outras necessidades diárias (gás, luz e telefone), fala da sonegação (no caso aqui, quando o Estado deixa faltar, isto é, o desabastecimento de produtos importantes na dieta do cidadão como, por exemplo, leite, pão, carne e açúcar). Critica o Funcionalismo Público “que mantêm pessoas enclausuradas e sem perspectivas de promoção ou avanço intelectual” entre milhares de arquivos e conduzidas por “seu salário de fome”, em seguida, chega ao trabalhador de aço e carvão que perde seu dia (e seu tempo) nas oficinas escuras e indevidas. Por fim, crítica o próprio poema, que é fechado, ou seja, com tudo que “relata” e diz, não consegue modificar esta situação, não se faz ouvir, só traz aqueles que são vítimas das mazelas sociais como: o homem faminto (”sem estômago”), a mulher fútil (“de nuvens”), a fruta cara (“sem preço”), e o último grito lancinante de Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira – 1930/ )“O poema senhores” não diz nada (“não fede”/”nem cheira”), isto é, não cumpre sua função e mantêm-se o “status quo” (ou seja, nada mudou) em nossa sociedade.

Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

BIBLIOGRAFIA:

AMARAL, E. /et al/ Novas palavras: literatura, gramática, redação e leitura. V.1.
São Paulo: FTD, 1997, págs 18 e 19. (Coleção Novas palavras)




Criado em: 19/8/2013 18:49
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Augusto de Sênior
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TEXTOS COMENTADOS DA LITERATURA BRASILEIRA - POESIAS - POÉTICA (CASSIANO RICARDO)
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26/7/2009 18:46
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POÉTICA (Cassiano Ricardo)

1
Que é poesia?
Uma ilha cercada de palavras por todos os lados.

2
Que é o poeta?
Um homem que trabalha o poema com o suor de seu rosto.
Um homem que tem fome como qualquer outro homem.


Jeremias sem-chorar. Rio de Janeiro, José Olympio, 1968.


Podemos observar no texto poético de Cassiano Ricardo (1895 – 1974), autor da primeira fase do Modernismo (1922 – até os dias atuais), a tentativa de esclarecer duas velhas questões que afligem teóricos, professores, estudantes, leitores e admiradores da arte de transformar escrita em emoções.
Que é poesia?
Que é o poeta?
Na primeira questão, o autor é muito feliz em sua definição, uma vez que, não esquece o elemento principal de tudo isso, isto é, a palavra (“uma ilha cercada de palavras por todos os lados.”), em outros termos, toda palavra pode ser poesia desde que seja dita com sensibilidades. Avançando a interpretação, podemos entender também, de acordo com o autor, que poesia, é o início de uma boa escrita (“... palavras por todos os lados.”), pois, trata-se de textos leves, descompromissados (desde que não sejam de fundo social), divertidos, e ajudam no desenvolvimento da leitura e do raciocínio intelectual.
Na segunda pergunta, o autor fala especificamente do poeta, discute (em poucas linhas) o ofício (“...que trabalha o poema com o suor do seu rosto.”) de construir poemas, questiona, diretamente, valores financeiros (“Um homem que tem fome...”).
Aprofundando a interpretação, Cassiano Ricardo, diz claramente, que poeta também é aquele que vive do seu suor (“... com o suor de seu rosto.”) e, que precisa se alimentar como qualquer outra pessoa, ou seja, acaba com o romantismo da profissão, traz a dura realidade do homem de letras que se dedica à poesia, necessita, como outro qualquer, de rendimentos, isto é, precisa vencer inúmeros obstáculos para viver e ainda tem de vender seus livros.
Resumindo, dá respostas profundas e simples para questões antigas: poesia é palavra trabalhada com sentimentos e o poeta é aquele que burila emoções.


Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

Criado em: 19/8/2013 18:38
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Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

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