A CANTIGA DO SERTANEJO (ÁLVARES DE AZEVEDO) - HUMOR EM LIRA DOS VINTE ANOS |
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26/7/2009 18:46 De Rio de Janeiro - RJ.
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A CANTIGA DO SERTANEJO (ÁLVARES DE AZEVEDO)
Donzela! Se tu quiseras Ser a flor das primaveras Que tenho no coração: E se ouviras o desejo Do amoroso sertanejo Que descora de paixão!... Se tu viesses comigo Das serras ao desabrigo Aprender o que é amar... — Ouvi-lo no frio vento, Das aves no sentimento, Nas águas e no luar!... Ouvi-lo nessa viola, Onde a modinha espanhola Sabe carpir e gemer!... Que pelas horas perdidas Tem cantigas doloridas, Muito amor, muito doer... Pobre amor! O sertanejo Tem apenas seu desejo E as noites belas do vau!... Só o ponche adamascado, O trabuco prateado E o ferro de seu punhal!... E tem as lendas antigas E as desmaiadas cantigas Que fazem de amor gemer!... E nas noites indolentes Bebe cânticos ardentes Que fazem estremecer!... Tem mais... Na selva sombria Das florestas a harmonia, Onde passa a voz de Deus, E nos relentos da serra Pernoita na sua terra, No leito dos sonhos seus! Se tu viesses, donzela, Verias que a vida é bela No deserto do sertão: Lá têm mais aroma as flores E mais amor os amores Que falam do coração! Se viesses inocente Adormecer docemente À noite no peito meu!... E se quisesses comigo Vir sonhar no desabrigo Com os anjinhos do céu! É doce na minha terra Andar, cismando, na serra Cheia de aroma e de luz, Sentindo todas as flores, Bebendo amor nos amores Das borboletas azuis! Os veados da campina Na lagoa, entre a neblina, São tão lindos a beber!... Da torrente nas coroas Ao deslizar das canoas É tão doce adormecer!... Ah! Se viesses, donzela, Verias que a vida é bela No silêncio do sertão! Ah!... Morena, se quiseras Ser a flor das primaveras Que tenho no coração! Junto às águas da torrente Sonharias indolente Como num seio d’irmã!... — Sobre o leito de verduras O beijo das criaturas Suspira com mais afã! E da noitinha as aragens Bebem nas flores selvagens Efluviosa fresquidão!... Os olhos têm mais ternura E os ais da formosura Se embebem no coração!... E na caverna sombria Tem um ai mais harmonia E mais fogo o suspirar!... Mais fervoroso o desejo Vai sobre os lábios num beijo Enlouquecer, desmaiar!... E da noite nas ternuras A paixão tem mais venturas E fala com mais ardor!... E os perfumes, o luar, E as aves a suspirar, Tudo canta e diz — amor! Ah! vem! amemos! vivamos! O enlevo do amor bebamos Nos perfumes do serão! Ah! Virgem, se tu quiseras Ser a flor das primaveras Que tenho no coração!.. Love me, and leave me not. *”Ama-me e não me deixe.” Shakespeare – O mercador de Veneza. Tradução: Coleção L&PM e pocket nº 118, pág. 29. ____________________________________________________________ Cantiga é um tipo de poema lírico, ou seja, sentimental e de origem medieval, composto por versos redondilhos (sete sílabas poéticas) dividido em estrofes (conjunto de versos) iguais, podendo ser cantado, daí o nome. A “cantiga do sertanejo” é uma canção de amor e apresenta dezesseis estrofes de seis versos, totalizando noventa e seis versos. O sistema de rimas é o seguinte: o primeiro verso rima com o segundo, o terceiro rima com o sexto verso e o quarto verso rima com o quinto (ab-cf-de). Vejamos a escansão (divisão em sílabas poéticas) da primeira estrofe: (“Don-ze-la-se-tu-qui-se/-ras”) (“Ser-a-flor-das-pri-ma-ve/-ras”) (“Que-eu-te-nho-no-co-ra/-ção:”) (“E-se-ou-vi-ras-o-de-se/-jo”) (“Doa-mo-ro-so-ser-ta-ne/-jo”) (“Que-des-co-ra-de-pai-xão!.../”) E o estilo poético do jovem, continua na segunda estrofe e em todas as outras. Fala o poeta em sentimentos (amor), a procura é por sua amada (“Se tu viesses comigo...”), procura sempre o consola da natureza (as serras e o vento, as águas e o luar). Lembra-nos, ainda, da viola, da modinha espanhola, das cantigas doloridas de amor. Temos em seguida uma pequena descrição do sertanejo (tema da cantiga) e, que procura o seu amor e, tem no seu olhar a beleza das noites do vau (o lugar mais raso do rio) o ponche (ou poncho: capa de lã ou couro, de forma quadrado, com uma abertura no meio por onde se enfia a cabeça) adamascado (cor de damasco), tem um trabuco prateado e um punhal (arma branca de lâmina curta e firme). O Sertanejo conhece as histórias antigas e também as cantigas que de amor fazem gemer e que são companheiras noturnas. E assim, continua a cantiga com todo o seu lirismo e beleza clamando por seu amor, lembrando as flores e o sertão querido e, finaliza com um verdadeiro grito de paixão: (...) “Ah! Virgem, se tu quiseras Ser a flor das primaveras Que tenho no coração!...” Augusto de Sênior. (Amauri Carius Ferreira) (FERREIRA, A. C.)
Criado em: 6/9/2013 18:56
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Augusto de Sênior (Amauri Carius Ferreira) (FERREIRA, A. C.) |
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