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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Colaborador
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29/10/2008 17:21
De guimarães
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embora as teias que ligam o que se escreve ao que se é sejam sinuosas, é completamente artificial dizer -se que existe um sujeito literário completamente desvinculado do sujeito humano.e claro que no seu caso o homem se retira completamente da vontade de se dar a conhecer,como homem...nessa postura já se dá um pouco a conhecer.já tinha reparado nisso,observadora que sou...apenas achei piada,por isso,à pergunta "quem sou eu?"...
embora me fascine muito a literatura,fascinam-me ainda mais as pessoas...é delas e da vida que nascem os meus tão menos complexos e tão mais pobres textos.não veja nesta minha observação qualquer tipo de critica.sou completamente avessa a juízos de valor.não gosto que me digam o que se pode ou deve fazer.nunca o diria,por isso,aos outros...apenas vou constatando...limitadas que são as minhas constatações,como execícios de um pensar...sempre à espera de contrapontos inteligentes...beijo (eterno)desconhecido!

Criado em: 26/7/2009 16:28
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Cara Alexis,

Naturalmente que a fronteira entre o que se escreve e o que se é, melhor: o que se experienciou; é ténue. No entanto, por via dos múltiplos processos criativos, muitas vezes faz-se o contrário do que de facto se pensa.

O debate sobre processos seria sem dúvida um tópico bastante relevante.

O certo é que sou muitas vezes diverso do que escrevo, sobretudo pela forma como desenvolvo alguns conceitos e pelo facto de não colocar amarras na forma como lá chego.

Isto não quer dizer que todos os meios justificam os fins, mas que há necessidade de esquecer o que sou para que a missiva seja o mais clara possível para o fim que preconiza.

Dou-lhe um exemplo: há um ciclo aqui, no Luso-Poemas, publicado chamado "Sonho de Benta de Aguiar", o qual tem múltiplas referencias cristãs.

Tive necessidade de entrar nesse universo, sentir-me como cristão (o que não sou). Não sei se o consegui, mas, pela maneira como me chegou certa informação, apontam que tal efeito foi conseguido.

Um beijo
Xavier Zarco

Criado em: 26/7/2009 17:13
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Colaborador
Membro desde:
29/10/2008 17:21
De guimarães
Mensagens: 7238
...como é evidente,meu caro...nem precisava explicar...não sou assim tão básica(risos)!acho que começamos finalmente a dialogar...aqui vai um poema interessante que tavez tenha um pouco a ver com este assunto,embora não completamente...

Dois Rumos

Mentir, eis o problema:
minto de vez em quando
ou sempre, por sistema?

Se mentir todo dia,
erguerei um castelo
em alta serrania

contra toda escalada,
e mais ninguém no mundo
me atira seta ervada?

Livre estarei, e dentro
de mim outra verdade
rebrilhará no centro?

Ou mentirei apenas
no varejo da vida,
sem alívio de penas,

sem suporte e armadura
ante o império dos grandes,
frágil, frágil criatura?

Pensarei ainda nisto.
Por enquanto não sei
se me exponho ou resisto,

se componho um casulo
e nele me agasalho,
tornando o resto nulo,

ou adiro à suposta
verdade contingente
que, de verdade, mente.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Boitempo'

...um presente desta sua desconhecida camarada,frágil e sem medo,trapezista sem rede,na corda bamba da vida.com um beijo,quiçá menos frio.

Criado em: 26/7/2009 17:36
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
Membro desde:
17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Cara Alexis,
Fantástico exercício hexassilábico do Carlos Drummond de Andrade. Obrigado por esta oferenda para leitura. Mesmo sendo o poeta um fingidor, como anunciava o Pessoa, ele transpira sempre um pouco, ou muito, do que ele é. Mas o poeta não cria para consumo próprio. Ele cria porque julga, tem a pretensão de que tem algo a dizer. O que se diz, para além do emissor, necessita de um receptor e é para este último que a missiva se dirige. As gavetas são sempre muito maus sítios para o repouso da palavra, não para a depuração das palavras.
Um beijo
Xavier Zarco

Criado em: 26/7/2009 18:11
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Colaborador
Membro desde:
29/10/2008 17:21
De guimarães
Mensagens: 7238
de nada!e claro que o pedro terá sempre algo a dizer através do xavier.a alexis e alexandra gostaram de conversar com os dois.aqui vai um abraço da receptora para o emissor das mais variadas mensagens.adoro conversar,como já deve ter reparado.e gosto quando há comunicação na conversa.que é como quem diz um ponto de encontro ainda que no meio de imensos desencontros.nem sempre é fácil chegar lá...por curiosidade,sabe que tenho um "pseudo-poema" que tem o título "quem sou eu?"...acho que seria capaz de escrever mil poemas com o mesmo tema,sem nunca revelar a resposta...procuro-me constantemente,como procuro os outros,como procuro a vida,a sua essência,como procuro as palavras,a sua magia...procuremo-nos!talvez encontremos luz no meio da escuridão!ou talvez apenas sombras,provas reais da existência de luz.ou nada.apenas inquietação.a sua consequência.os caminhos a que ela nos leva.

Criado em: 26/7/2009 18:30
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Colaborador
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12/7/2007 21:56
Mensagens: 1988
..acompanhei o diálogo dos dois (xavier e alexis)
e nesta primeira analise anotei várias frases que merecem ser repensadas..é enriquecedora esta tertulia...da forma como se desenrola, sem preconceitos ,sem matrizes apenas a transparencia da palavra dita! nao notei falhas de comunicaçao mas sim o enriquecimento deste espaço.

citaçao :

"talvez encontremos luz no meio da escuridão!ou talvez apenas sombras,provas reais da existência de luz."
Alexis



merecemos mais discussoes destas...
abraços




Criado em: 26/7/2009 22:51
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Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
Membro desde:
17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Camarada Caopoeta,
Como bem sabes isso é bastante difícil de ocorrer. Embora este tópico seja de "umbigo", ou seja: diga o que fez o indivíduo em apreço, propiciou este debate, tal como outros que deveriam ocorrer. Quem se expõe tem de possuir capacidade para, sobretudo, saber "ouvir". Volto a referir que até hoje não tive a sensação de crescimento em escrita através do sistema de "palmadinha nas costas", mas através da discussão franca. Embora, também confesse, que nunca revelei a minha metodologia criativa, mas quem me ler saberá muito certamente por que etapas ela se rege.
Um abraço
Xavier Zarco

Criado em: 26/7/2009 23:48
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
Membro desde:
17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Pois, hoje o convite é escutar o Hino de Santa Clara, que é a minha terra, onde nasci e da qual tenho o privilégio de ser o autor do respectivo hino. O "link" é o seguinte:

http://www.jfsantaclara.com/

No topo encontrarão onde este hino se pode escutar.

Aproveito também para "postar" aqui a explicação do mesmo, naturalmente segundo o próprio autor, ou seja: eu.

Espero que este - sobretudo este meu trabalho - seja do vosso agrado (sobre este não aceito críticas, excepto as positivas).



EXPLICAÇÃO DO HINO DE SANTA CLARA

O Hino de Santa Clara foi apresentado pela primeira vez em vinte e cinco de Novembro de dois mil e quatro, no âmbito das comemorações dos cento e cinquenta anos da fundação da freguesia de Santa Clara num dos locais de excelência dos seus domínios, o Convento de São Francisco.

Com letra de Xavier Zarco e música de Alexei Valerievich Kozlov Iria, foi cantado pelo Coro de Santa Clara sob os acordes da banda da Sociedade Filarmónica Penelense. No entanto, as honras da estreia foram para um grupo de crianças do Clube dos Tempos Livres de Santa Clara, os Santaclarinhas.

Assente em dois grupos de quadras e um refrão, também ele em quadra, que se repete no início e fim, bem como entre as duas sequências, o Hino de Santa Clara segue a linha popular ao escrever-se em redondilha maior, com versos de sete sílabas métricas, e com um esquema de rima cruzada, predominantemente grave ou inteira.

Inicia com o aproveitamento das designações do património e referências geográficas, dando-nos a ideia de um movimento necessário para a compreensão sensível do local em foco, Santa Clara. Segue os passos da Paixão pelo Monte da Esperança, embora correspondam, os passos da Paixão, de facto, às três capelas existentes na Calçada de Santa Isabel, assim como o monte que por ela se sobe se chame da Esperança, traz-nos uma outra mensagem, um outro conceito.

Esperança significa esperar com confiança um bem futuro, algo que se sabe ou sente como provável, que se deseja, uma expectativa, uma suposição. Por seu turno, paixão, para além de estar associada aos padecimentos de Cristo desde a captura até ao calvário, vale também como ímpeto ou entusiasmo.

Uma audição sem se conhecer as referências mencionadas, patrimoniais e geográficas, diz-nos que para se alcançar algo que se julga possível, há que investir por um caminho de vontade, que é a nossa própria via. Daí a sequência, segue e sente, seguir a via para poder sentir. E o que pode sentir, se seguir a via, é a própria memória de Santa Clara, a que existe no facto concreto dos monumentos e a que se transmite por lendas, pela oralidade.

No entanto, a História não se edifica somente por quem a memória preservou o nome, mas, e, porventura, sobretudo, pelos que ficam no anonimato, mas que por sua acção foram as mãos que deram [a] vida a esta terra.

No segundo e último grupo de estâncias, a necessária alusão aos marcos importantes que fazem de Santa Clara um ponto de referência ao nível mundial. Por um lado, a ligação de Santa Clara aos amores de Pedro e Inês identificada como terra de amor ofendido pelo tempo eternizado e com a lenda do milagre das rosas sendo esta aludida como roseiral de pão florido em regaço coroado.

O final do poema como que qualifica a terra, o valor da terra, como elemento matricial onde se desenrolam os actos enformadores da memória que embora seja dira, cruel, não deixa de ser doce. Porque sendo de fortuna, no sentido da deriva dos tempos, do desenrolar da História, da crise da sucessão ao trono de Portugal, do início do século catorze, às invasões francesas, da industrialização à pressão imobiliária, porque Santa Clara não ficou incólume a todos esses momentos, não perdendo o seu encanto, muito pelo contrário, antes soube superar cada um dos instantes por mais negativo que fosse.

Talvez seja essa a sua verdadeira magia e que a levou a ser uma das localidades em Portugal mais cantadas pelos poetas, muito por via de Inês de Castro, mas, também, pela sua beleza intrínseca, um aspecto que advém dos tais anónimos que souberam depurar a argamassa com que se erguem as estrofes.

E por ser este último o mais valioso pormenor de todos, a força e o querer das suas gentes, que o refrão menciona ser Santa Clara um poema nado em sossego, no dia a dia, no decurso da respiração que marca a cadência do que tem de ser feito e que seus versos semeara, porque há o intuito de haver futuro, no que, desde os seus primórdios, foi, quase direi, o seu martírio, as águas do rio Mondego, levando, por exemplo, ao fim do Mosteiro de Sant’Ana, mas, também, o seu impulsionador, fazendo com que se expandisse pelo monte da Esperança.



Um abraço
Xavier Zarco

Criado em: 29/7/2009 20:51
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Colaborador
Membro desde:
12/7/2007 21:56
Mensagens: 1988
..."passei" lá pela Junta Freguesia de Santa Clara..gostei do que ouvi...vejo que és uma pessoa de meter maos ás obras...é preciso esse empenho no ambito social nacional! é preciso criar novos habitos e receptividade por parte dos orgaos indicados para o efeito...

abraço.

Criado em: 30/7/2009 16:23
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Camarada,
E deste poema tenho muito orgulho. É uma das tais sensações que é difícil de explicar, as que metem os pêlos em pé... e se pensarmos que estou representado no blogue do sítio dos peludos, bom!, conclusão: eles são bastantes. Arrepia mesmo ouvir este hino.
Um abraço
Xavier Zarco

Criado em: 30/7/2009 19:33
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