NAMORO A CAVALO (ÁLVARES DE AZEVEDO) - O HUMOR NA "LIRA DOS VINTE ANOS" |
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26/7/2009 18:46 De Rio de Janeiro - RJ.
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Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça Que rege minha vida malfadada Pôs lá no fim da rua do Catete A minha Dulcineia namorada. Alugo (três mil réis) por uma tarde Um cavalo de trote (que esparrela!) Só para erguer meus olhos suspirando A minha namorada na janela... Todo o meu ordenado vai-se em flores E em lindas folhas de papel bordado Onde eu escrevo trêmulo, amoroso, Algum verso bonito. . . mas furtado. Morro pela menina, junto dela Nem ouso suspirar de acanhamento. . . Se ela quisesse eu acabava a história Como toda a comédia—em casamento. Ontem tinha chovido. . . que desgraça! Eu ia a trote inglês ardendo em chama, Mas lá vai senão quando uma carroça Minhas roupas tafuis encheu de lama... Eu não desanimei. Se Dom Quixote No Rocinante erguendo a larga espada Nunca voltou de medo, eu, mais valente, Fui mesmo sujo ver a namorada. . . Mas eis que no passar pelo sobrado Onde habita nas lojas minha bela Por ver-me tão lodoso ela irritada Bateu-me sobre as ventas a janela... O cavalo ignorante de namoros Entre dentes tomou a bofetada, Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo Com pernas para o ar, sobre a calçada. .. Dei ao diabo os namoros. Escovado Meu chapéu que sofrera no pagode Dei de pernas corrido e cabisbaixo E berrando de raiva como um bode. Circunstância agravante. A calça inglesa Rasgou-se no cair de meio a meio, O sangue pelas ventas me corria Em paga do amoroso devaneio! (Obras, 1853. Lira dos vinte anos, 2ª parte) ___________________________________________________________ É um namoro, isto é, a estória de um namoro! O jovem enamorado “vive” mil peripécias. Apesar de todos os “desconcertos” o jovem não diz se é correspondido. São quarenta versos (cada uma das linhas gráficas) divididos em dez estrofes (conjunto de versos). São decassílabos (dez sílabas poéticas). Vejamos a escansão (divisão em sílabas sonoras) da primeira estrofe: “Eu-mo-roem-Ca-tum-bi-mas-a-des-gra-/-ça Que-re-ge-mi-nha-vi-da-mal-fa-da-/-da Pôs-lá-no-fim-da- ru-a-do-Ca-te-/te A-mi-nha-Dul-ci-nei-a-na-mo-ra-/-da.” O conjunto de rimas é o mesmo para todas as estrofes: o segundo verso rima com o quarto verso. O jovem faz de tudo para ver a namorada: aluga um cavalo por três mil réis (Que fortuna!), gasta seu ordenado em flores, furta versos bonitos, sonha com o casamento, reclama que um dia fora ver a namorada e uma carroça jogara lama suas roupas bonitas, etc. Além do Quixote sonhador não ter sido recebido pela “bela”, o cavalo, “ignorante de namoros”, jogou nosso herói de pernas para o ar sobre a calçada que, raivoso “como um bode” e calças rasgadas “meio a meio” não conseguiu ver a namorada. Nas profundezas textuais podemos observar que o poeta faz analogia com o Quixote de Cervantes, mas, ao que parece, não realiza seu ato de amar, e volta para casa sonhador. Augusto de Sênior. (Amauri Carius Ferreira) (FERREIRA, A. C.)
Criado em: 7/10/2013 22:02
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Augusto de Sênior (Amauri Carius Ferreira) (FERREIRA, A. C.) |
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