Há escassos dias, um amigo perguntou-me por que a Temas Originais não utilizava a palavra “Qualidade” no rótulo do seu catálogo tal como ocorre amiúde com as editoras que se situam (ou que pretendem situar-se) no patamar em que se encontra a Temas. Era, assim o entendi, uma pergunta a brincar, um meter-se comigo, pouco mais do que isso. No entanto, levei a coisa a peito e fui – e várias vezes o fazemos; ou não fosse a concorrência fonte de inspiração; ver e ler para crer do uso de tal qualificação.



Sabendo que os editores deste perfil mui raramente justificam as edições que chancelam, entrando mudos e saindo calados relativamente à obra em questão, eis-me perante um cenário deveras interessante: não há justificação para o uso, e abuso da palavra “Qualidade”. É de qualidade, e está dito. Bem sei que esta palavra pode significar muitas coisas, mas, não havendo justificação para o uso da dita, cocei a cabeça e nada tinha que ver com o facto de a esmagadora maioria dos homens na minha família serem carecas e, mesmo que inconscientemente, eu, para não fugir à regra, também o poder desejar. Nada disso.



Pois bem: investigo obras procurando algo a que se possa atribuir uma espécie de padrão, e nada; características até do próprio produto, e nada; e outras coisas que tais; até se quem as apresentava era a mesma pessoa, e nada.



Bom, mas como nunca soube o que era essa coisa de escrever com qualidade (além da gramática, claro!, que sempre dava jeito para clarificar o assunto), pensei com os meus botões que, afinal, muito provavelmente, até porque o não dizer, o não justificar, o não argumentar é algo muito próximo do objectivo, falando agora de um dos géneros que se edita, do próprio ofício poético, ou seja: o silêncio. Assim sendo, a Temas, deduzi, não tem qualidade pelo que não pode dizer que a possui.



Fui para a cama. Encostei a minha cabeça à minha almofada e coloquei nos pés o tal poster da Playboy, o tal do tal poema, para me os aquecer. Resultado, quando acordei, apareceram-me miraculosamente alguns parâmetros, coisa rara em mim, para que possa auxiliar os meus caros colegas de mister, que sempre podem, até para aqui, no burgo da Temas, justificar o tal rótulo, a tal palavra, a “qualidade”, assim:



1 - Quem tem autores cujo trabalho foi alvo de teses universitárias? – a Temas tem. Isto deve ser relevante, pensei. Há uma coisa qualquer que designação de cânone. Olha, curioso, constatei meio estremunhado, as outras, as que dizem qualidade, não têm!



2 - Quem tem autores que conseguiram fora dos seus países reconhecimento através da edição e posterior distinção? – a Temas tem. Isto deve ser relevante, pensei. Se, no país de origem e noutro país, então... Olha, curioso, constatei enquanto carregava no botão da máquina do café, as outras, as que dizem qualidade, não têm!



3 - Quem tem autores cujos livros, após a edição, receberam distinções? - a Temas tem. Isto deve ser relevante, pensei. Se houve o reconhecimento dessa obra em particular, então... Olha, curioso, constatei enquanto colocava o açúcar, as outras não têm!



4 - Quem tem autores que receberam, sob anonimato, distinções atribuídas por júris de reconhecido mérito científico? - a Temas tem. Isto deve ser relevante, pensei. Se assim o consideraram.... Olha, curioso, constatei enquanto a colher, maquinalmente, misturava o açúcar com o café, as outras, as que dizem qualidade, não têm!



Pois bem, agora que o café me acorda, até para não invocar mais parâmetros (consegui desenrascar oito), pergunto-me somente isto: vamos lá pôr a palavra “Qualidade”?, a resposta: “Não”; os autores e os leitores merecem consideração. Seja uma obra de um autor do cânone, seja uma obra de estreia, que não siga os parâmetros instituídos, deixamos a fruição (e qualificação) para o leitor.



A Temas Originais diz do porquê de cada edição. Se um dia destes se escrever genericamente “Qualidade” haverá muito certamente uma justificação para tal, mesmo que seja o silêncio o que, enquanto poeta, procuro.



Xavier Zarco

.