"Caminho da Vontade", de Paulo Afonso Ramos (Texto da apresentação)
Membro de honra
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Conheço o Paulo Afonso Ramos há cerca de um ano. Foi na bela vila alentejana do Alvito, aquando da apresentação de um livro meu: “O livro do regresso” e de um outro do excelente poeta José-Augusto de Carvalho.

Começámos a conversar, a trocar ideias sobre a forma de estar nestas coisas da escrita. Acabei, por sugestão dele, por entrar no grupo Luso-Poemas e tive o prazer de prefaciar e apresentar o seu volume: “Mínimos instantes”.

Não satisfeitos com os meros almoços e jantares que estas coisas propiciam, um bom tempo mais tarde entendemos que era a hora, a tal hora pessoana, de se fazer qualquer coisa de diferente.

Pois bem... armámo-nos em empresários, melhor: em editores. E cá andamos, felizes e contentes, porque mesmo que tenhamos sérias divergências sobre alguns pormenores, estamos safos. Ele para as bandas de Lisboa e eu na minha bela Santa Clara, em Coimbra.

Como escritor, Paulo Afonso Ramos tem, na minha opinião, o mérito de prender o leitor e ade a essa característica o mérito do saber organizar um livro. Torná-lo, não numa compilação de textos, mas num corpo arquitectónico solidamente urdido.

Tal como Antonio Machado, que dizia não existir caminho, mas caminhar, Paulo Afonso Ramos, neste seu: “Caminho da vontade”, preconiza esse princípio.

Mostra-nos portanto um conceito de necessidade de alcançar algo para o valorar. Qualquer coisa, material ou imaterial, só se torna de facto algo para nós a partir do instante em que dela temos noção. Daí a necessidade de aprimorar o conhecimento das coisas do mundo.

Talvez por isso, e digo talvez porque só o autor poderá dizer se essa era ou não a intenção, logo nas páginas iniciais se encontre uma citação de Allan Poe e que é a seguinte:

“Quem sonha de dia tem consciência de muitas coisas que escapam a quem sonha só de noite”

Urge portanto depurar a máscara para a revelação do rosto. A máscara que nos auxilia a enfrentar o dia deve ser qual pedra sob o olhar do escultor. Há que retirar o excesso, criando condições para meditar sobre o que nos rodeia para desta forma se traçarem objectivos, mas sobretudo para que se faça o caminho, aquele que fazemos caminhando, e assim cumprir os desígnios da vontade.

Mas o poeta é um fingidor, escreve Pessoa, portanto tem de haver precaução no que se lê, ou, como diz o povo, saber que nem tudo o que reluz é ouro.

E o poeta inicia o seu caminhar exactamente com essa citação, servindo esta de epígrafe a “O poema enganador”. Mas não é, na minha leitura, um mero aviso ao leitor do que se segue seja ou não fingimento, antes nos recorda de que a poesia é arte e, como tal, criação do Homem, exercício intelectual edificado para fruição do outro.

Paulo Afonso Ramos lega-nos possíveis pistas para esse exercício como, por exemplo, e passo a citar:

“Escrevo com o sangue ainda quente” ou “Escrevo a ideia” ou “E a gente lê o que escreve / sonha” para concluir que “há um poeta que luta (...) / que inventa um novo mundo que nunca teve”.

Nestes quatro excertos de “O poema enganador” há um movimento implícito. Repare-se em “o sangue ainda quente”, como se nos dissesse que recolheu agora, neste momento, sensações da sua vida, digamos assim, normal porque desperto para o espanto, o tal sonhar de dia.

Mas essas sensações têm de ser transformadas, há que torná-las ideia (“escrevo a ideia”) e posteriormente a metamorfose através do sonho (“a gente lê o que escreve / sonha). Recordo estes versos de António Gedeão: “quando o homem sonha / o mundo pula e avança”.

Finalmente, após este processo de depuração, a invenção do mundo, através da acção, o poeta que luta.

Este é o fazer-se caminho pela vontade porque, como refere José Félix no prefácio a esta obra: “a vida é falsa, logo é função da poesia corrigi-la; a vida é vil, cumpre à poesia torná-la sublime; a vida é imperfeita, cumpre à poesia torná-la perfeita poeticamente”.

E cada passo adicionado ao caminho tem um ensejo que se revela no poema “Transmutação” em que o poeta afirma, e passo a citar: “Um dia morrerá o personagem / para que nasça o homem”.

A poesia, embora mundo outro, tem, não direi a obrigação, mas a possibilidade de mudar o mundo. E este é o caminho que só a vontade pode desenhar.

Criado em: 20/5/2009 21:53
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Re: "Caminho da Vontade", de Paulo Afonso Ramos (Texto da apresentação)
Membro de honra
Membro desde:
4/10/2006 13:50
De Amadora
Mensagens: 4098
O Paulo costuma dizer que sou suspeita para falar da sua poesia, mas penso que nem ele próprio tem consciência muitas vezes do que escreve e da forma como toca o leitor, como abre um mundo de possibilidades, de esperança e mostra até novos caminhos.
Por tudo isto, e por muito mais, que caberá a cada leitor dscobrir, o "Caminho da Vontade" é um livro que todos deveriam descobrir... Uma leitura que toca a alma!


Criado em: 21/5/2009 9:59
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Vera Sousa Silva

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Palavras Soltas
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Re: "Caminho da Vontade", de Paulo Afonso Ramos (Texto da apresentação)

Membro desde:
2/3/2007 19:42
De Queluz
Mensagens: 3731
Conheci a poesia do Paulo aqui, nesta casa. E logo me cativou a forma como a escrevia e o modo como ela se entranhava no sentir de quem a lia, nesta caso, em mim. Gostava da maneira simples e única que ele arranjou de comentar os textos/poemas dos outros colegas de casa; com um toque poético tão seu. Mais tarde tive o prazer de o conhecer pessoalmente e confirmou-se o que afinal já sabia; o Paulo é aquela pessoa simples e cativante e isso é algo que transparece em tudo o que escreve.
Acredito pois, que este livro seja uma espécie de espelho de si próprio, não do rosto, mas do interior do sentir ou da alma, como se costuma dizer.

Será portanto, um bom livro para ler e reflectir!

Criado em: 21/5/2009 10:23
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*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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Re: "Caminho da Vontade", de Paulo Afonso Ramos (Texto da apresentação)
sem nome
Agradeço e retribuo; que seja um sucesso este seu livro que terei prazer em ler.

Bjs

Dolores

Criado em: 21/5/2009 17:49
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