Mítica Fénix que renasce
Das cinzas. Mítico é o amor
Que nasce por entre
As brumas do teu leito

Memória em deleite
Por saber exactamente
O que estou a dizer

Sentimento profundo
Sadio aos olhos da devoção
Num crepúsculo divino

inovadora crase
a gastar-se
sem dizer o motivo

pronuncia o que
outrem há-de escrever
simulando a caquéctica
rima mórbida

ímpia súplica
insignificante em
sepulcro sumptuoso


(nobre a consciência)

em ventos calmos
serenos, esvaindo-se
em quimeras
num campo de cereais
idolatrando as
quatro estações

Ouço rumores quem vêm da muralha
Mas eu confesso-me em desespero
Por não saber que a última mortalha
È de linho, ou pano cru em puro zelo

Há uma cancela semiaberta
Há um retoque na minha entrada
Há um acto que me desperta
Há a última relíquia ali encontrada

Tomara ver uma só janela
Que me abrisse à luz que é tua
E me vestisse dos trajes de outrora

Quisera ver uma imensa estrela
Que me quisesse tão nua e sua
Que me levasse no tempo, sem hora

chegou o fim da noite
e há um dia para começar
longe dos olhares indiscretos

a madrugada
é tardia
e fria
e há quem diga
que viu
e sentiu
o desfalecer
das novas folhas

mesclas cores
têm os jardins
de pedra

que é do tempo
dos vendavais
atafulhado nos canaviais?

(longe vão os tempos
das searas)

o voo mais incauto
aquieta o lado
obscuro da noite

flutua por entre
a neblina
somente
um enigma
capaz de o
levar por aí
colhendo o ar
denso
mas propenso
a novos espaços

há quem o saiba
pitoresco
por transformar
o preto
e o branco
em frescos
eclécticos
sem os tons
celestiais

até que o dia
seja um novo dia
tornadas são as noites
e com elas
o desdém de outrora
de outros dias

uns quantos loucos
vagabundos das ruas
a preencher
os buracos antigos
da noite

as horas passadas
as palavras cansadas
de tantos riscos tortos
nas paredes
os olhos fincados
no tecto
e o canto da cotovia
lá fora

iluminada por todos
em arritmia perfeita
é a poesia
e quem a sabe
ou pressente
a eleita

entenda-se que
no renascimento
de cada palavra
nasce o ritmo
do poema

por todas as formas
enigmáticas
por todas as figuras
carismáticas
rejubilemos então
por quanto
o tempo da Ode…


Abraço a todos

Imperfeição senil
Acidental velhice
Confiante na distância
Que se percorre entre
Dois lugares

Etapa inflexível
Deleite entre mundos
Num vai-e-vem da mente
O antro do desconhecido

Informe o espírito
Que não acredita
Nas ameias
Intensificadas e reais
Da beleza humana

Lamechas os crentes
Que tentam fazer
Chorar as pedras
Da calçada

Confissões caricatas
Comovedoras
E castradoras
Da simples existência
A Vida

libertou-se um poema
logo pela manhã
a meio da
agitação normal
estrábico o olhar
sobre a livre vontade
de beber da seiva matinal

descasco uma laranja
para o pequeno almoço
e satisfaço os desejos
de beber o suco
e a sede de
me lambuzar
no fruto proibido
matutino

há o café, e o leite
e os bolos
e o pão com manteiga
há os croissants
com creme
mas o sumo da laranja
é prodígio
para quem chega
estafado com passos
incertos e madrugadores
do árido deserto



Abraços e boa semana

alguém
déspota e mal
-amada
que se sente
ninguém
mas que por ser aquém
talvez ali
-além
encontre o ciúme
a esfregar-se
no asfalto
um meio
de se sentir
caída e delambida
a saborear
o fruto da ilusão

alguém
dos tempos
modernos
o tempo da má
-criação, fonética
a inexistência
da estética
fraude poética
e a poesia assim
sem fé
em mim
sem os pés no chão
a lamber o alcatrão