Todas as mensagens (Xavier_Zarco)


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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
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Cara Bertha M. Costa,
Agradeço-lhe esta anotação. Sendo mais um que anda por aqui, pelo Luso Poemas, só tenho de fazer melhor para a merecer.
Um beijo
Xavier Zarco

Criado em: 10/7/2009 21:37
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
Membro desde:
17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Cara Alentejana,
E eu retribuo. E faço-o não só por delicadeza, mas porque tenho por si uma grande consideração, não só pelo mote para um poema, mas pela forma como se expressa: gosto de quem menciona o que pensa, sem rodeios e sem receios. São estas as condições fundamentais para o verdadeiro diálogo.
Um beijo
Xavier Zarco

Criado em: 10/7/2009 21:35
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Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
Membro desde:
17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Pois!, é bem verdade. Estou aqui há um ano e nunca me apresentei. Pelo menos, vendo o que se encontra na minha "área pessoal".

Ora bem, quem sou eu?

Chamo-me Pedro Manuel Martins Baptista, embora em termos literários utilize o pseudónimo Xavier Zarco.

Sou natural de Coimbra, residindo em Santa Clara (Coimbra).

Em termos literários, publiquei:

O livro dos murmúrios (Palimage Editores, Viseu, Portugal, 1998)

No rumor das águas (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2001)

Acordes de azul (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2002)

Palavras no vento (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2003)

In memoriam de John Lee Hooker (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2003)

Ordálio (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

Hino de Santa Clara (DVD, Junta de Freguesia de Santa Clara, Portugal, 2005), Vencedor do Concurso para a Letra do Hino da Freguesia de Santa Clara, efectuado pela Junta de Freguesia de Santa Clara, em 2004

O guardador das águas (Mar da Palavra, Coimbra, 2005), Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2004, organizado pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

O ciclo do viandante (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2005)

O fogo A cinza (LASA – Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, Setúbal, 2005), Prémio de Poesia do Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage - 2005, promovido pela LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão

Stanley Williams (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2006),

À beira do silêncio (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2006)

Monte maior sobre o Mondego (e-book, ArcosOnline, Arcos de Valdevez, 2006), Menção honrosa (poesia) no Prémio Literário Afonso Duarte – 2004, realizado pela Câmara Municipal de Montemor-o-Velho

Afluentes do poema (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2006)

Trinta mais uma odes (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2007)

Divertimento poético (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2007)

Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros (edium editores, Maia, Portugal, 2007), Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2007, do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Poemas com rosto (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2007)

O livro do regresso (edium editores, Matosinhos, Portugal, 2008), Prémio de Poesia Raúl de Carvalho - 2005, levado a efeito pela Câmara Municipal do Alvito

Nove ciclos para um poema (edium editores, Matosinhos, Portugal, 2008), Prémio Literário da Lusofonia - 2007, da Câmara Municipal de Bragança

Instantes de Actéon (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2008)

Lições de Thanatos (edium editores, Matosinhos, Portugal, 2008), edição em parceria com: Lições de Eros, de José Félix

Uma Serenata para Zara (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2009)

Encontra-se inédito o título: 25 Cravos de Abril, que recebeu uma Menção Honrosa (Poesia) no 1.º Concurso de Conto e Poesia da CGTP-IN – 2007, promovido pela CGTP.

Tive, também, o grato prazer de prefaciar as seguintes obras:

Algo indecifravelmente veloz, Andityas Soares de Moura, Edium Editores, 2007
Fui... O que já não sou!, Paulo Themudo, Edium Editores, 2008;
Da humana condição, José-Augusto de Carvalho, Edium Editores, 2008;
Rio de sal, Luís Ferreira, Edium Editores, 2008.
Mínimos instantes, Paulo Afonso Ramos, Edium Editores, 2008
A metáfora das asas, Manuel C. Amor, Edium Editores, 2008
O áspero hálito do amanhã, Alberto Pereira, Edium Editores, 2008
27 Poemas, António Rebordão Navarro, Edium Editores, 2008
Ser Poeta, António MR Martins, Temas Originais, 2009

Em termos literários foi o que fiz até à data.
Um abraço

Xavier Zarco

Criado em: 4/7/2009 23:59
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Re: Nota de Leitura: "Linhas Incertas", de Conceição Bernardino
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17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Cara Conceição Bernardino,
Não há nada para agradecer, só há que escrever e ler.
Um beijo
Xavier Zarco

Criado em: 26/6/2009 12:33
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Nota de Leitura: "Linhas Incertas", de Conceição Bernardino
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
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Acabo de ler: "Linhas Incertas", de Conceição Bernardino, uma edição da Mosaico das Palavras, 2009. E aproveito para partilhar convosco algumas breves impressões de leitura.

Se aparentemente estamos perante uma poética de cariz lírico, dado que o eu se encontra omnipresente neste volume, o certo é que este eu é um actor. Encarna cada uma das vivências retratadas, criando um espaço dramático no cerne de cada poema.

A poetisa, através desse novo eu, o que habita o drama, abre-se às sensações captando-as e configurando-as ao seu discurso.

Mascara-se ou migra, portanto, consoante a cena que se prepara para efectuar. Quase diria que se trata de uma escrita sob o recurso da metempsicose.

Mais do que um tomo de poesia de temáticas sociais, interventivo, é um registro de impressões sobre situações que amiúde nos surgem, nos visitam quase sempre sem convite.

Xavier Zarco

Criado em: 25/6/2009 20:53
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Re: “Cem Poemas... Diversos”, de António Boavida Pinheiro
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
E eu vou lá estar para apresentar este livro. Obrigado, camarada António Boavida Pinheiro, pelo convite e desafio.
Até logo, um abraço
Xavier Zarco

Criado em: 13/6/2009 1:05
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Diário de Maria Cura, de José Ilídio Torres, texto de apresentação
Membro de honra
Membro desde:
17/7/2008 21:41
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Camaradas,

Partilho convosco o texto que serviu de base à minha apresentação do livro: Diário de Maria Cura, de José Ilídio Torres, que ocorreu ontem, 10 de Junho de 2009, na Feira do Livro de Barcelos, assim:

Muito boa tarde. E muito obrigado pela vossa presença.

Hoje, cumpre-me uma tripla tarefa: representar a editora, a Temas Originais; apresentar o autor, José Ilídio Torres; e a obra, este seu mais recente livro, Diário de Maria Cura que, em boa hora – naturalmente que sou suspeito em dizê-lo; a Temas Originais entendeu editar. O certo é que como leitor assim o considero.

Sobre a Temas Originais pouco há a dizer. É uma editora extremamente recente, tendo nascido no passado mês de Fevereiro, embora em Março, de facto, essa sua existência se tenha tornado visível. Nasceu no Porto, e, pouco tempo depois, mudou-se para a cidade de Coimbra, onde fixou a sua sede. Mas o mais curioso é que a maior parte da sua actividade é desenvolvida em Lisboa.

Até à data possui um catálogo com cerca de duas dezenas de títulos, o que nos surpreendeu. Esperávamos menos, sobretudo porque trabalhamos em part-time.

Quanto à distribuição dos nossos livros, temos optado por uma estratégia de proximidade, negociando directamente com os pontos de venda, isto porque queremos que todos, mas todos os autores estejam em todos os pontos onde a nossa editora está. É um ponto de honra do qual não abdicamos, nem abdicaremos. Como toda a regra tem uma excepção, há situações esporádicas, sobretudo quando o autor é de uma localidade onde o acesso às livrarias com quem temos acordos é difícil. Neste caso, optamos por colocar o livro desse autor num ponto de venda local.

Nesta feira de Barcelos podem encontrar os nossos títulos no stand da Associação Às Artes, que, amavelmente, nos desafiaram para este evento. Vindo de quem veio o convite, a nós só nos restava dizer que sim e agradecer.

E sobre a editora, no fundo, está tudo dito. Aliás, o que é uma editora para além de uma simples parte da ponte entre autor e leitor?

Estando fechado este dossiê, passemos para o próximo: o autor.

Se não tenho quaisquer dúvidas do local onde conheci o José Ilídio Torres, não me recordo se, quando colocámos a casa em pantanas, tal como se diz na minha terra, foi nesse local, no sítio da Luso Poemas ou se foi quando colaborava com uma outra editora.

Não me recordo, mas o certo é que isso tem pouco relevâncias. Conhecêmo-nos e pronto, o resto é conversa. E tanto assim é, que conversámos, discutimos, debatemos forte e feio. E é mesmo assim que se deve estar, na minha opinião, nestas coisas da Literatura. Ou se diz o que se pensa ou se fica calado.

José Ilídio Torres partilha dessa mesma opinião, pelo menos assim o penso e, menos uma dúvida, disso estou convicto. E acreditem que partimos mesmo a louça toda, mas, como somos ecologistas, enviámos esses cacos para a reciclagem, ou seja: do espaço antagónico, nasceu um profícuo diálogo que, estou em crer, nos fez e faz crescer.

É assim que eu, hoje, continuo a ver o José Ilídio Torres. Alguém que é avesso ao tão bonito gesto da palmadinha nas costas.

Tem custo?, tem. Mas nunca ninguém disse que crescer era uma tarefa fácil. Bem hajas por isso.

Quanto ao autor fico-me por aqui. A contracapa revela outros passos, o onde nasceu, o que fez e faz e o que editou até à data.

E mais um dossiê fechado.

A obra: Diário de Maria Cura.

Confesso-vos que sou um mau leitor de romances. Aprecio ao nível literário mais o género poético. No entanto, este livro tem condimentos capazes de prender, de cativar mesmo um leitor rezingão como eu.

E digo-o porque a dado instante me fez esquecer que estava perante um policial, aliás, já nem queria saber quem matou Maria Cura.

Debrucei-me mais sobre o que guardava em segredo a forte personalidade de D. Eugénia e o por quê, sobretudo este pormenor, do autor ter escolhido a vertente sexual como imagem, digamos, de marca para a sua Maria.

Este romance é, na minha opinião, não um policial, embora tenha todos os condimentos do género, inclusive estruturais, mas um alerta, uma janela aberta para a reflexão, dado constituir uma visão crua sobre a condição da mulher.

Talvez por isso o autor nos informe de uma forma curiosa a data de nascimento da sua personagem: o ano dos Jogos Olímpicos de Munique, 1972.

Ora bem, realizando-se os jogos, tal como o próprio nome indicia, de quatro em quatro anos, o que ocorrera de significativo na sociedade onde a personagem se movimenta relativo à condição da mulher?

Pois bem, quatro anos antes, em 1968, foi instituída formalmente a igualdade de direitos entre homens e mulheres (por mera curiosidade, no ano seguinte, é revogada a necessidade de autorização do marido para a saída do país das mulheres casadas).

No pólo oposto, quatro anos depois, ou seja: 1976, entra em vigor a nova constituição que estabelece a igualdade plena entre homens e mulheres em todos os domínios (também por curiosidade, no ano seguinte, em 1977, é feita a revisão do Código Civil que extingue a figura de “Chefe de Família” e atribui às mulheres, no âmbito do Direito de Família, um estatuto de igualdade com o homem).

Naturalmente que desconheço se este era o intuito do autor, mas o livro já não lhe pertence. Agora é de quem o lê.

Se o sexo e a morte são duas parcelas que cativam indiscutivelmente a atenção, elas são aqui utilizadas, repito, na minha leitura, como elemento quase diria de choque.

A morte, o trágico fim da personagem Maria Cura, é-nos relatado com beleza, como se nos dissesse que é necessário continuar, que o fim, de facto, não o é. Daí a opção de colocá-lo logo na abertura do romance.

O sexo, por seu turno, é retratado como algo do foro pessoal, como uma opção de liberdade, como símbolo dessa mesma liberdade.

Agora, pensemos nisto: e se a personagem Maria Cura fosse Manuel Cura?

Provavelmente o choque não existiria. Vendo bem, somos latinos e homem que se preze, já se sabe. Agora uma mulher, ainda por cima com tanta meia por coser, valha-nos deus.

Estamos, portanto, perante uma obra que nos desafia para a reflexão, que nos diz da diferença que há entre o administrativamente decidido e o plano dos valores que a sociedade impõe.

E há que refletir se de facto há igualdade. Pois bem, sejamos claros: não há. E este é um dos motivos por que este livro: Diário de Maria Cura, de José Ilídio Torres, merece uma leitura atenta e a melhor divulgação possível.

E, acreditem, embora eu seja suspeito, e sendo eu, como há pouco afirmei, um mau leitor de romances, pela arquitectura elaborada pelo autor, sabe bem e vale bem a pena descortinar quem matou Maria Cura, que segredo guarda D. Eugénia e que outras coisas se podem ler nas entrelinhas deste livro.

Muito obrigado.

Criado em: 11/6/2009 19:57
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"Caminho da Vontade", de Paulo Afonso Ramos (Texto da apresentação)
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
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Conheço o Paulo Afonso Ramos há cerca de um ano. Foi na bela vila alentejana do Alvito, aquando da apresentação de um livro meu: “O livro do regresso” e de um outro do excelente poeta José-Augusto de Carvalho.

Começámos a conversar, a trocar ideias sobre a forma de estar nestas coisas da escrita. Acabei, por sugestão dele, por entrar no grupo Luso-Poemas e tive o prazer de prefaciar e apresentar o seu volume: “Mínimos instantes”.

Não satisfeitos com os meros almoços e jantares que estas coisas propiciam, um bom tempo mais tarde entendemos que era a hora, a tal hora pessoana, de se fazer qualquer coisa de diferente.

Pois bem... armámo-nos em empresários, melhor: em editores. E cá andamos, felizes e contentes, porque mesmo que tenhamos sérias divergências sobre alguns pormenores, estamos safos. Ele para as bandas de Lisboa e eu na minha bela Santa Clara, em Coimbra.

Como escritor, Paulo Afonso Ramos tem, na minha opinião, o mérito de prender o leitor e ade a essa característica o mérito do saber organizar um livro. Torná-lo, não numa compilação de textos, mas num corpo arquitectónico solidamente urdido.

Tal como Antonio Machado, que dizia não existir caminho, mas caminhar, Paulo Afonso Ramos, neste seu: “Caminho da vontade”, preconiza esse princípio.

Mostra-nos portanto um conceito de necessidade de alcançar algo para o valorar. Qualquer coisa, material ou imaterial, só se torna de facto algo para nós a partir do instante em que dela temos noção. Daí a necessidade de aprimorar o conhecimento das coisas do mundo.

Talvez por isso, e digo talvez porque só o autor poderá dizer se essa era ou não a intenção, logo nas páginas iniciais se encontre uma citação de Allan Poe e que é a seguinte:

“Quem sonha de dia tem consciência de muitas coisas que escapam a quem sonha só de noite”

Urge portanto depurar a máscara para a revelação do rosto. A máscara que nos auxilia a enfrentar o dia deve ser qual pedra sob o olhar do escultor. Há que retirar o excesso, criando condições para meditar sobre o que nos rodeia para desta forma se traçarem objectivos, mas sobretudo para que se faça o caminho, aquele que fazemos caminhando, e assim cumprir os desígnios da vontade.

Mas o poeta é um fingidor, escreve Pessoa, portanto tem de haver precaução no que se lê, ou, como diz o povo, saber que nem tudo o que reluz é ouro.

E o poeta inicia o seu caminhar exactamente com essa citação, servindo esta de epígrafe a “O poema enganador”. Mas não é, na minha leitura, um mero aviso ao leitor do que se segue seja ou não fingimento, antes nos recorda de que a poesia é arte e, como tal, criação do Homem, exercício intelectual edificado para fruição do outro.

Paulo Afonso Ramos lega-nos possíveis pistas para esse exercício como, por exemplo, e passo a citar:

“Escrevo com o sangue ainda quente” ou “Escrevo a ideia” ou “E a gente lê o que escreve / sonha” para concluir que “há um poeta que luta (...) / que inventa um novo mundo que nunca teve”.

Nestes quatro excertos de “O poema enganador” há um movimento implícito. Repare-se em “o sangue ainda quente”, como se nos dissesse que recolheu agora, neste momento, sensações da sua vida, digamos assim, normal porque desperto para o espanto, o tal sonhar de dia.

Mas essas sensações têm de ser transformadas, há que torná-las ideia (“escrevo a ideia”) e posteriormente a metamorfose através do sonho (“a gente lê o que escreve / sonha). Recordo estes versos de António Gedeão: “quando o homem sonha / o mundo pula e avança”.

Finalmente, após este processo de depuração, a invenção do mundo, através da acção, o poeta que luta.

Este é o fazer-se caminho pela vontade porque, como refere José Félix no prefácio a esta obra: “a vida é falsa, logo é função da poesia corrigi-la; a vida é vil, cumpre à poesia torná-la sublime; a vida é imperfeita, cumpre à poesia torná-la perfeita poeticamente”.

E cada passo adicionado ao caminho tem um ensejo que se revela no poema “Transmutação” em que o poeta afirma, e passo a citar: “Um dia morrerá o personagem / para que nasça o homem”.

A poesia, embora mundo outro, tem, não direi a obrigação, mas a possibilidade de mudar o mundo. E este é o caminho que só a vontade pode desenhar.

Criado em: 20/5/2009 21:53
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"Pedaços do Meu Sentir", de Vítor Cintra (excerto da apresentação)
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
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Confesso que não conhecia a poesia de Vítor Cintra, tendo sido este livro o meu primeiro contacto com a sua obra. Mas uma coisa é o nome ligado à obra e outra a pessoa em concreto. E quantas vezes é exactamente o oposto ao que imaginamos.

No caso de Vítor Cintra não aconteceu essa circunstância. Não sei se pelo facto de o ter conhecido pessoalmente em primeiro ou se a minha imaginação anda a precisar de uma revisão.

Esperava encontrar uma poética calma, meditativa e assim de facto aconteceu.

E essa ideia do homem que está por trás do autor, e um nada tem a ver com o outro, excepto por um contaminar o outro com as suas próprias vivências e emprestar-lhe a mão para que a escrita nasça, surgiu sobretudo pelo rigor com que ergue a sua poesia.

E estamos perante um homem que nos anos sessenta do século passado andava por Moçambique, num cenário de guerra, mal tal nem havia necessidade de estar na contracapa dado que há neste livro um poema que nos diz a sua visão histórica dessa sua própria vivência. Ou seja: o homem e o autor, no caso de Vítor Cintra em concreto, em larga medida correspondem, isto apesar da imagética que desafia o leitor para múltiplas possibilidades interpretativas.

No entanto, com rigor não seria tão fácil descobrir a sua actividade profissional, a de Técnico Oficial de Contas, afinal a poesia é uma arte e toda e qualquer arte tem regras e para as subverter há que as conhecer, mas sobretudo dominar.

O rigor e a aparente facilidade com que nos surgem os seus poemas do ponto de vista meramente formal, indiciam que Vítor Cintra exerceria uma profissão onde o método é imperativo.

No fundo, nós somos o que somos, mesmo que em arte, muitas vezes, sejamos exactamente o reverso, mas, como há pouco dei a entender, não me parece ser esse o caso.

Bom, mas o curioso é que eu, que tenho a mania de que estou bem informado sobre o que se vai publicando, desconhecia a extensão da sua obra. Aliás, há pouco referi que este foi o primeiro contacto com a poesia de Vítor Cintra.

Imaginem a minha surpresa quando o autor, numa recente troca de galhardetes ou melhor: de pirraças; me revela – não, não é a tal questão da CP - que este é o seu 18.º título.

E só tenho a perguntar a mim mesmo o que tenho andado a fazer ao longo destes últimos quinze anos - o primeiro livro data de mil novecentos e noventa e quatro – para que não tenha conhecimento da sua existência.

E por quê que eu deveria ter esse conhecimento? Por algo muito simples: pela qualidade quer no aspecto do saber fazer quer pelas temáticas que aborda, sobretudo uma, uma que me diz muito.

Tem a ver com uma situação curiosa, a de ter comprado um livro, quase diria para memória futura, ou seja: para os meus filhos; e esse livro só ter sido aberto e lido por mim talvez um ano depois, tal era a ideia que tinha sobre o poeta em questão. Pois bem, cerca de novecentas páginas depois, estava rendido.

E é por aqui que começo. E isto porque escutei por diversas vezes ao longo de: “Pedaços do Meu Sentir” ecos de Miguel Torga. Sobretudo quando as temáticas abordadas têm o Homem como centro.

O olhar de Vítor Cintra, este olhar calmo que ele, em pessoa, revela – bom!, hoje talvez nem tanto – deambula pelo mundo, cria o seu espaço de liberdade criativa e expressiva.

No entanto, o poeta não se rende à vertente egoísta que a tantas vezes mencionada solidão criativa lhe acena. Não é o conforto da lareira que preconiza. Não é a gaveta tão querida a quem escreve que o seduz, antes devolve, porque disso sente imperiosa necessidade, um valor ético que a si mesmo impõe, o que do mundo o seu olhar retira.

Mas devolve essas impressões, esses, fazendo uso do termo utilizado no título, pedaços enriquecidos porque os entrega como obra de arte. E não só, esta vertente de escrita, permitam-me as imagens, é água para os lábios sequiosos dos oprimidos, é arma contra a vilania dos opressores.

Vítor Cintra não é, neste campo temático, poeta de silêncios, mas poeta que resgata ao silêncio as vozes amordaçadas, remetidas à penumbra social, elevando-as à condição de verso.

E o poema, qualquer poema, só morre se o leitor o entender. E não é por se gostar ou não gostar do poema concreto, mas pela indiferença.

Há portanto aqui matéria que urge cantar, que urge levar para as ruas da cidade, para todo e qualquer lugar onde um Homem esteja submetido ao peso dos grilhões da opressão.

Como exemplo, porque a palavra do poeta vale bem mais que a palavra do apresentador, leia-se, por exemplo, o sonetilho: “Abandono”, página 29.

Cai a chuva, forte, fria
E ao romper a madrugada
Surge, à luz do novo dia,
A criança abandonada.

O farrapo que lhe cobre
O corpinho, emagrecido,
Não servia a outro pobre,
De tão velho, tão puído.

Sem amor de pai e mãe,
Sem cuidados, sem carinho,
Sem destino, nem caminho.

Que futuro espera alguém
Tão pequeno e tão sozinho,
Co’ o descaso por vizinho.

E os poemas estão aí, entre a capa e a contracapa, que deixo para a vossa descoberta.

Mas antes de passar para a outra componente deste volume, faço aqui uma espécie de intervalo para vos chamar à atenção do poema: “Cogitação”, que se encontra na página 21. É uma autêntica preciosidade.

E adjectivo como precioso dado que o mesmo é estruturado em tetrassílabos, coisa rara na nossa poesia, mas que confere ao poema uma musicalidade deveras curiosa, sobretudo por um pormenor: parece-me que não são doze os versos, mas seis, cada um nonassilábico, mas isso ficará, por certo, no segredo dos deuses, melhor: do poeta.

Um pequeno, mas, a meu ver, interessante à parte.

Ora bem, se por um lado temos uma dimensão que denomino de consciência social, por outro temos uma outra dimensão: os afectos.

Aliás, a poética de Vítor Cintra é uma viagem entre três estágios: sentir, pensar e agir. Talvez por esta aproximação se justifique o título dado ao tomo.

Em Vítor Cintra há um recorte com um misto de esperança e de uma presença, quase diria, constante de um ente ausente.

Há uma procura de pele, de corpo, de uma simples fragrância, um olhar. Uma permanente busca de algo que o complemente, um preencher, não pelas palavras com que enforma o poema, mas com uma linguagem outra, com uma espécie de gesto que se desenha em cada dobra, esse espaço sentido, outrora habitado.

Mas, repito, há esperança, mais pelo que esta palavra significa como virtude teologal, a confiança na bondade e omnipotência de Deus, denotando desta forma uma consciência na efemeridade da nossa passagem pelo mundo.

De novo abre-se o poeta ao mundo. A tal questão ética de agir sobre o mundo está também presente neste outra dimensão deste livro.

E termino com um fragmento do poema “Brumas”, página 87:

(...)

Nascem lembranças, eivadas
De sensações adiadas
E cheiros breves, intensos,

São ilusões ansiadas,
Em desespero, guardadas
Nas brumas dos meus silêncios.

Como refere António Paiva, no prefácio a esta obra: “Entre o amor e o protesto, neste livro não há lugar à demagogia.”

Criado em: 20/5/2009 21:49
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Re: Teoria do esquecimento - José Félix
Membro de honra
Membro desde:
17/7/2008 21:41
Mensagens: 2207
Camaradas,

Embora seja suspeito, devo-vos dizer que este é um dos bons livros que se editaram este ano em língua portuguesa.

Bom, mas sobre este autor já mencionei publicamente o seguinte:

27.05.2007, Palácio de São Marcos - agradecimento do Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá (Org.: Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra): "(...)Há escassos dias, comentando um pequeno ciclo poético de minha autoria, um dos Poetas que mais admiro, José Félix, expressava, e passo a citar: “diz-se que há duas coisas de que vale a pena escrever: a morte e o amor. Eu confirmo e reitero.” Fim de citação."

22.03.2008, Porto Palácio Hotel, apresentação do livro de José Félix, "Travessia" (Edium, 2008) - "José Félix, autor do livro que hoje vos chega às mãos, merecia ter aqui outra pessoa, com mais experiência e conhecimento, a fazer esta apresentação. Não é uma questão de modéstia ou de humildade da minha parte. Nem uma nem outra são maleitas de que padeça em excesso. É uma simples, clara e cristalina constatação, dado estarmos perante um dos nomes mais relevantes da Poesia que se escreve em português."

ou em 17.12.2008, Palacete Viscondes de Balsemão, Porto, quando apresentei "27 Poemas", de António Rebordão Navarro: "Após o meu sim, que foi imediato, caí na realidade. Por quê eu? Eu que este ano tive a sorte de apresentar obras de autores que muito admiro como José-Augusto de Carvalho e José Félix, poetas que encontrei através da internet e que a Edium em boa hora editou. Dois nomes que hoje podem ser meramente isso: dois nomes; mas, estou certo, que o futuro lhes dará o crédito que bem merecem."



Um abraço

Xavier Zarco

Criado em: 19/5/2009 22:55
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