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Sonhos Lúcidos!
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O termo Sonhos Lúcidos consiste no fato de uma pessoa, deliberadamente, entrar num sonho e tenha o controle de suas respostas aos acontecimentos que vão se apresentando como acontece no dia a dia.
Certa feita realizei uma prática com esse fim, como decorrência de ter lido um livro de Carlos Castaneda chamado A Arte do Sonhar.
Depois disso foram várias as situações em que eu me sentia apto a gerenciar meu comportamento em sonhos, sempre a partir de um plano traçado enquanto acordado.
Uma ocasião eu estava sonhando que estava em grupo num platô á beira de uma floresta. Discutíamos um assunto interessante e em dado momento, no sonho sinto vontade de urinar... Isso me fez acordar pois na verdade estava de fato precisando urinar, então levantei da cama e fui ao banheiro me aliviar.
Em seguida deitei novamente e me programei para voltar ao mesmo sonho e assim que dormi retornei ao sonho com grupo que me encontrava antes.
O assunto havia avançado na mesma proporção de minha demora e isso me fez indagar sobre o que havia perdido da conversa. Foi feito um resumo por integrante do grupo e a conversa seguiu.
Assim o fato é que escolhi voluntariamente voltar ao local onde sonhava antes e ali dar continuidade ao que acontecia.
A questão aos colegas (e olhem que eu tenho histórias muito mais intrigantes) é a seguinte: alguém já passou por algo assim: ter controle voluntário sobre um sonho?

(Agradeço se a divulgação de eventos seja colocada no local apropriado!)

Criado em: 17/8/2020 20:52
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A Confissão do lúcido na floresta do alheamento
sem nome




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Não minto quando me dispo do que poderia ser dito entre o dito e não dito do que realmente digo, sim "Eu jamais parti" mas não digo não, pois poesia não sai de mim, foi-me dada assim, é a minha água pura, a minha força motriz, nem se compara ao ar, infinito o que respiro, é o que a voz me diz, por isso direi mesmo depois do fim, serei futuro ou estarei realmente aqui, de alma e corpo "Eu jamais parti" ... "Eu jamais parti"
Um hiato entre o que, ou por quem me tomo e o que sei sou ou sonho todavia subordinado a ser e será o eu verdadeiro enquanto o sonhei que na prática é o que sou e como me vejo, um resíduo, um suborno de sensações anteriores ao pós nas quais creio antever ou antecipar algo como se fosse o meu reflexo real ao espelho e eu espectador fictício de mim mesmo mas com relevo falso artificial e uma memória de outra espécie de elefante que abdicou de si mesmo para se tornar uma outra realidade ciente e sem substancia incorpórea apesar de humana ainda, quem sabe eu mesmo (arte e forma) pois sou aquele que nasceu sem se conhecer, pra quem tudo é estranho e diferente, performance magnífica ou repúdio caustico à boca de cena e ao palco.
Ando sentindo-me mímico e semi "desfraseado" de nitidez de modo que não consigo equilibrar duas palavras que façam cabal sentido separadas ou uma de cada vez, nem temperar com sal sentidas palavras como cal e mostarda ou alho Francês , mascara-las e dividi-las por dúzias de compartimentos íntimos como se fosse eu do país do um Dali da intuição, Catalão (espero que passe breve,) assim junto algumas de um, dois mestres e uma mestrina regada a estouvados sonhos semivividos semi-sonhados, persegue-me a mim a sensação morfológica de jamais partir e assim retorno constantemente embrionário à ideia minha de verdade onírica de jamais conseguir alcançar a substancia líquida de que são feitos eles mesmos os sonhos e modelar os meus lexicalmente viventes em vividas catarses , depurações de uma alma imperfeita, impura, apesar de lúcida (...)



"A nossa vida era toda a vida... O nosso amor era o perfume do amor... Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos nós... E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa carne, que não éramos uma realidade... "

"…assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo
bem se o outro não era ele-próprio, se o incerto outro viveria…"






Bernardo Soares



Agi sempre para dentro... Nunca toquei na vida... Sempre que esboçava um gesto, acabava-o em sonho, heroicamente... Uma espada pesa mais que a ideia de uma espada... Comandei grandes exércitos — venci grandes batalhas, gozei grandes derrotas — tudo dentro de mim...

Gostava de passear sozinho pelas alamedas e pelos grandes corredores e de comandar as árvores e desafiar os retratos das paredes... No grande corredor sombrio que há ao fundo do palácio passeei com a minha noiva muitas vezes... Eu nunca tive noiva real... Nunca soube como se amava... Apenas soube como se sonhava amar... Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos é que às vezes queria julgar que as minhas mãos eram de princesa e que eu era, pelo menos no gesto das minhas mãos, aquela que eu amava...

Um dia foram-me encontrar vestido de rainha... Eu estava sonhando que eu era a minha esposa régia... Gostava de ver a minha face reflectida porque podia sonhar que era a face de outra criatura — porque era de formas femininas, que era de minha amada que era a minha face reflectida... Quantas vezes a minha boca, tocou na minha boca nesse espelho!... Quantas vezes apertei uma das mãos com a outra, quantas adorei meus cabelos com a minha mão alheada para que parecesse dela ao tocar-me. Não sou eu que te estou dizendo isto... É o resto de mim que está falando.




FERNANDO PESSOA


Na Floresta do Alheamento



Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver diz-me que é muito cedo ainda... Sinto-me febril de longe. Peso-me, não sei porquê...

Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho.

Um vento de sombras sopra cinzas de propósitos mortos sobre o que eu sou de desperto. Cai de um firmamento desconhecido um orvalho morno de tédio. Uma grande angústia inerte manuseia-me a alma por dentro e, incerta, altera-me, como a brisa aos perfis das copas.

Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de penumbra. Sou todo confusão quieta... Para que há-de um dia raiar?... Custa-me o saber que ele raiará, como se fosse um esforço meu que houvesse de o fazer aparecer.

Com uma lentidão confusa acalmo. Entorpeço-me. Bóio no ar, entre velar e dormir, e uma outra espécie de realidade surge, e eu em meio dela, não sei de que onde que não é este...

Surge mas não apaga esta, esta da alcova tépida, essa de uma floresta estranha. Coexistem na minha atenção algemada as duas realidades, como dois fumos que se misturam.

Que nítida de outra e de ela essa trémula paisagem transparente! ...

E quem é esta mulher que comigo veste de observada essa floresta alheia? Para que é que tenho um momento de mo perguntar?... Eu nem sei querê-lo saber...

A alcova vaga é um vidro escuro através do qual, consciente dele, vejo essa paisagem..., e a essa paisagem conheço-a há muito, e há muito que com essa mulher que desconheço erro, outra realidade, através da irrealidade dela. Sinto em mim séculos de conhecer aquelas árvores e aquelas flores e aquelas vias em desvios e aquele ser meu que ali vagueia, antigo e ostensivo ao meu olhar que o saber que estou nesta alcova veste de penumbras de ver...

De vez em quando pela floresta onde de longe me vejo e sinto um vento lento varre um fumo, e esse fumo é a visão nítida e escura da alcova em que sou actual, destes vagos móveis e reposteiros e do seu torpor de nocturna. Depois esse vento passa e torna a ser toda só ela a paisagem daquele outro mundo...

Outras vezes este quarto estreito é apenas uma cinza de bruma no horizonte dessa terra diversa... E há momentos em que o chão que ali pisamos é esta alcova visível...

Sonho e perco-me, duplo de ser eu e essa mulher... Um grande cansaço é um fogo negro que me consome... Uma grande ânsia passiva é a vida falsa que me estreita...

Ó felicidade baça!... O eterno estar no bifurcar dos caminhos!... Eu sonho e por detrás da minha atenção sonha comigo alguém. E talvez eu não seja senão um sonho desse Alguém que não existe...

Lá fora a antemanhã tão longínqua! A floresta tão aqui ante outros olhos meus!

E eu, que longe dessa paisagem quase a esqueço, é ao tê-la que tenho saudades dela, é ao percorrê-la que a choro e a ela aspiro.

As árvores! As flores! O esconder-se copado dos caminhos!...

Passeávamos às vezes, braço dado, sob os cedros e as olaias e nenhum de nós pensava em viver. A nossa carne era-nos um perfume vago e a nossa vida um eco de som de fonte. Dávamo-nos as mãos e os nossos olhares perguntavam-se o que seria o ser sensual e o querer realizar em carne a ilusão do amor...

No nosso jardim havia flores de todas as belezas... — rosas de contornos enrolados, lírios de um branco amarelecendo-se, papoilas que seriam ocultas se o seu rubro lhes não espreitasse presença, violetas pouco na margem tufada dos canteiros, miosótis mínimos, camélias estéreis de perfume... E, pasmados por cima de ervas altas, olhos, os girassóis isolados fitavam-nos grandemente.

Nós roçávamos a alma toda vista pelo fresco visível dos musgos e tínhamos, ao passar pelas palmeiras, a intuição esguia de outras terras... E subia-nos o choro à lembrança, porque nem aqui, ao sermos felizes, o éramos...

Carvalhos cheios de séculos nodosos faziam tropeçar os nossos pés nos tentáculos mortos das suas raízes... Plátanos estacavam... E ao longe, entre árvore e árvore de perto, pendiam no silêncio das latadas os cachos negrejantes das uvas...

O nosso sonho de viver ia adiante de nós, alado, e nós tínhamos para ele um sorriso igual e alheio, combinado nas almas, sem nos olharmos, sem sabermos um do outro mais do que a presença apoiada de um braço contra a atenção entregue do outro braço que o sentia.

A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros. Desconhecíamo-nos, como se houvéssemos aparecido às nossas almas depois de uma viagem através de sonhos...

Tínhamo-nos esquecido do tempo, e o espaço imenso empequenara-se-nos na atenção. Fora daquelas árvores próximas, daquelas latadas afastadas, daqueles montes últimos no horizonte haveria alguma coisa de real, de merecedor do olhar aberto que se dá às coisas que existem?...

Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho marcavam horas irreais... Nada vale a pena, ó meu amor longínquo, senão o saber como é suave saber que nada vale a pena...

O movimento parado das árvores: o sossego inquieto das fontes; o hálito indefinível do ritmo íntimo das seivas; o entardecer lento das coisas, que parece vir-lhes de dentro a dar mãos de concordância espiritual ao entristecer longínquo, e próximo à alma, do alto silêncio do céu; o cair das folhas, compassado e inútil, pingos de alheamento, em que a paisagem se nos torna toda para os ouvidos e se entristece em nós como uma pátria recordada — tudo isto, como um cinto a desatar-se, cingia-nos, incertamente.

Ali vivemos um tempo que não sabia decorrer, um espaço para que não havia pensar em poder-se medi-lo. Um decorrer fora do Tempo, uma extensão que desconhecia os hábitos da realidade do espaço... Que horas, ó companheira inútil do meu tédio, que horas de desassossego feliz se fingiram nossas ali!... Horas de cinza de espírito, dias de saudade espacial, séculos interiores de paisagem externa... E nós não nos perguntávamos para que era aquilo, porque gozávamos o saber que aquilo não era para nada.

Nós sabíamos ali, por uma intuição que por certo não tínhamos, que este dolorido mundo onde seríamos dois, se existia, era para além da linha extrema onde as montanhas são hálitos de formas, e para além dessa não havia nada. E era por causa da contradição de saber isto que a nossa hora de ali era escura como uma caverna em terra de supersticiosos, e o nosso senti-la ela estranho como um perfil da cidade mourisca contra um céu de crepúsculo outonal...

Orlas de mares desconhecidos tocavam no horizonte de ouvirmos, praias que nunca poderíamos ver, e era-nos a felicidade escutar, até vê-lo em nós, esse mar onde sem dúvida singravam caravelas com outros fins em percorrê-lo que não os fins úteis e comandados da Terra.

Reparávamos de repente, como quem repara que vive, que o ar estava cheio de cantos de ave, e que, como perfumes antigos em cetins, o marulho esfregado das folhas estava mais entranhado em nós do que a consciência de o ouvirmos.

E assim o murmúrio das aves, o sussurro dos arvoredos e o fundo monótono e esquecido do mar eterno punham à nossa vida abandonada uma auréola de não a conhecermos. Dormimos ali acordados dias, contentes de não ser nada, de não ter desejos nem esperanças, de nos termos esquecido da cor dos amores e do sabor dos ódios. Julgávamo-nos imortais...

Ali vivemos horas cheias de um outro sentimo-las, horas de uma imperfeição vazia e tão perfeitas por isso, tão diagonais à certeza rectângula da vida. Horas imperiais depostas, horas vestidas de púrpura gasta, horas caídas nesse mundo de um outro mundo mais cheio do orgulho de ter mais desmanteladas angústias...

E doía-nos gozar aquilo, doía-nos... Porque, apesar do que tinha de exílio calmo, toda essa paisagem nos sabia a sermos deste mundo, toda ela era húmida da pompa de um vago tédio, triste e enorme e perverso como a decadência de um império ignoto...

Nas cortinas da nossa alcova a manhã é uma sombra de luz. Meus lábios, que eu sei que estão pálidos, sabem um ao outro a não quererem ter vida.

O ar do nosso quarto neutro é pesado como um reposteiro. A nossa atenção sonolenta ao mistério de tudo isto é mole como uma cauda de vestido arrastado num cerimonial no crepúsculo.

Nenhuma ânsia nossa tem razão de ser. Nossa atenção é um absurdo consentido pela nossa inércia alada.

Não sei que óleos de penumbra ungem a nossa ideia do nosso corpo. O cansaço que temos é a sombra de um cansaço. Vem-nos de muito longe, como a nossa ideia de haver a nossa vida...

Nenhum de nós tem nome ou existência plausível. Se pudéssemos ser ruidosos ao ponto de nos imaginarmos rindo riríamos sem dúvida de nos julgarmos vivos. O frescor aquecido do lençol acaricia-nos (a ti como a mim decerto) os pés que se sentem, um ao outro, nus.

Desenganemo-nos, meu amor, da vida e dos seus modos. Fujamos a sermos nós... Não tiremos do dedo o anel mágico que chama, mexendo-se-lhe, pelas fadas do silêncio e pelos elfos da sombra e pelos gnomos do esquecimento...

E ei-la que, ao irmos a sonhar falar nela, surge ante nós outra vez, a floresta muita, mas agora mais perturbada da nossa perturbação e mais triste da nossa tristeza. Foge de diante dela, como um nevoeiro que se esfolha, a nossa ideia do mundo real, e eu possuo-me outra vez no meu sonho errante, que essa floresta misteriosa enquadra...

As flores, as flores que ali vivi! Flores que a vista traduzia para seus nomes, conhecendo-as, e cujo perfume a alma colhia, não nelas mas na melodia dos seus nomes... Flores cujos nomes eram, repetidos em sequência, orquestras de perfumes sonoros... Árvores cuja volúpia verde punha sombra e frescor no como eram chamadas... Frutos cujo nome era um cravar de dentes na alma da sua polpa... Sombras que eram relíquias de outroras felizes... Clareiras, clareiras claras, que eram sorrisos mais francos da paisagem que se bocejava em próxima... Ó horas multicolores!... Instantes-flores, minutos-árvores, ó tempo estagnado em espaço, tempo morto de espaço e coberto de flores, e do perfume de flores, e do perfume de nomes de flores!...

Loucura de sonho naquele silêncio alheio!...

A nossa vida era toda a vida... O nosso amor era o perfume do amor... Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos nós... E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa carne, que não éramos uma realidade...

Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer... Éramos aquela paisagem esfumada em consciência de si própria... E assim como ela era duas — de realidade que era, a ilusão — assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo bem se o outro não ele próprio, se o incerto outro viveria...

Quando emergíamos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo-nos a querer soluçar...

Ali aquela paisagem tinha os olhos rasos de água, olhos parados, cheios do tédio inúmero de ser... Cheios, sim, do tédio de ser, de ter de ser qualquer coisa, realidade ou ilusão — e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e no exílio dos lagos... E nós, caminhando sempre e sem o saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à beira daqueles lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado e absorto...

E que fresco e feliz horror o de não haver ali ninguém! Nem nós, que por ali íamos, ali estávamos... Porque nós não éramos ninguém. Nem mesmo éramos coisa alguma... Não tínhamos vida que a Morte precisasse para matar. Éramos tão ténues e rasteirinhos que o vento do decorrer nos deixara inúteis e a hora passava por nós acariciando-nos como uma brisa pelo cimo duma palmeira.

Não tínhamos época nem propósito. Toda a finalidade das coisas e dos seres ficara-nos à porta daquele paraíso de ausência. Imobilizara-se, para nos sentir senti-la, a alma rugosa dos troncos, a alma estendida das folhas, a alma núbil das flores, a alma vergada dos frutos...

E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente a morrê-la que não reparámos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão do outro, e cada um, dentro de si, o mero eco do seu próprio ser...

Zumbe uma mosca, incerta e mínima...

Raiam na minha atenção vagos ruídos, nítidos e dispersos, que enchem de ser já dia a minha consciência do nosso quarto... Nosso quarto? Nosso de que dois, se eu estou sozinho? Não sei. Tudo se funde e só fica, fugindo, uma realidade-bruma em que a minha incerteza sossobra e o meu compreender-me, embalado de ópios, adormece...

A manhã rompeu, como uma queda, do cimo pálido da Hora...

Acabaram de arder, meu amor, na lareira da nossa vida, as achas dos nossos sonhos...

Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque cansa, da vida, porque farta e não sacia, e até da morte, porque traz mais do que se quer e menos do que se espera.

Desenganemo-nos, ó Velada, do nosso próprio tédio, porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é.

Não choremos, não odiemos, não desejemos...

Cubramos, ó Silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto e morto da nossa Imperfeição...










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Fernando Pessoa

(Antes do monólogo da treva)

(...) e alucinadas pré-sensações
Impelem-me, desvairam-me, ocupam
Tumultuariamente e ardentemente
O doloroso vácuo do meu ser.
Incapaz de pensar, apenas sinto
Um atropelamento do sentir
E confusões confusas, explosão
De tendências, desejos, ânsias, sonhos
Desatenuadamente dolorosos.


A confissão de lúcio


Acho-me tranquilo – sem desejos, sem esperanças. Não me preocupa o
futuro. O meu passado, ao revê-lo, surge-me como o passado dum outro.
Permaneci, mas já não me sou. E até à morte real só me resta contemplar as horas
a esgueirar-se em minha face… A morte real – apenas um sono mais denso…




Mário de Sá-Carneiro, A Confissão de Lúcio

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Hypnos e Tânato



Criado em: 18/8/2020 11:40
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Re: Sonhos Lúcidos!
sem nome

Tinha desde criança sempre o mesmo sonho.
O mar sempre vinha em minha direção em ondas altíssimas movido por forças telúricas e invadia terras habitadas destruindo tudo em sua direção e matando milhares de pessoas.
Ficava aterrorizado e em puro desespero corria buscando lugares altos, subia em prédios buscando salvar a minha vida, mas o mar sempre me alcançava.
Mudava nos sonhos, lugares e situações, assim me vi morrendo centenas de vezes.
Passei a ter medo do oceano e mesmo depois de adulto os sonhos continuavam.
Casei e constituí uma família, ir a praia com eles era sempre um desafio sobre-humano, mas procurava não demonstrar isso para ninguém.
Aos 45 anos estava muito interessado em trabalhar conscientemente a minha evolução espiritual e ingressei em um trabalho espiritual que hoje é a Federação Fraternidade Humanitária Internacional.
Um dia em conversa com o nosso líder na época partilhei a ele sobre este sonho que me atormentava desde criança.
A resposta dele foi imediata... De nada lhe serve fugir buscando proteção em lugares altos quando forças naturais vem em nossa direção, há sempre uma mensagem a ser absorvida nestas situações.
O sonho se repete e continuará a se repetir até você decodificar a mensagem e somente assim o sonho para ou muda.
Precisa ver a situação por dentro, internamente, por fora é o mar em movimento, mas por dentro não é a mesma coisa. Ver por dentro dele é o que deves fazer.
Nunca mais conversei com ele sobre aquele assunto, mesmo porque ele não repetia nada.
Se lhe procurasse sobre aquele assunto de novo... ele com certeza diria... já lhe disse o que deves fazer.
Comecei a partir desta conversa um trabalho consciente comigo mesmo de afirmação.
"Quando o mar vier em minha direção eu não fugirei mais, enfrentarei meu destino de frente e com coragem"
O sonho demorou a vir e tive dias para me preparar, mas quando ele veio...
Era noite e eu estava em uma praia bem de frente para o mar, sentia o barulho fortíssimo dos movimentos das ondas e do vento.
Em desespero a vontade que tinha era de sair correndo e salvar minha vida, mas invés disso corri em sua direção esperando a morte certa.
Quando as águas me tocaram o fizeram com incrível suavidade e foi quando percebi que podia respirar mesmo dentro do mar.
A mensagem interna era de vida e não de morte.
Com isso o trauma foi curado e nunca mais sonhei com o mar daquela forma.

Criado em: 18/8/2020 13:36
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Re: Sonhos Lúcidos!
sem nome
Depois disso ficou fácil e hoje consigo voltar no mesmo sonho e inclusive criar coisas novas nele. Consigo voltar sempre no mesmo sonho e na mesma noite até seis vezes, passei a chamar de Sexto nível de Sonho.
Não consigo dar uma explicação mais acadêmica sobre isso, acredito que há potenciais ainda a serem descobertos sobre o nosso cérebro e a nossa capacidade criativa.
Pode ser mesmo algo espiritual, mas falar isso em meio acadêmico gera constrangimento e conflito para ambos os lados. Hoje o Deus é a ciência.
Podemos inclusive nos programar para irmos a lugares aqui na terra e até fora dela. Contudo, já percebeu como é muito difícil ir em sonho a outros mundos?
Ainda não consegui definir bem quando estou criando dentro do sonho ou quando estou em desdobramento, que é a capacidade de deixar o corpo físico conscientemente ou não.

Criado em: 18/8/2020 13:42
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Re: Sonhos Lúcidos!
sem nome
Costumo dizer que somos prisioneiros do planeta terra não só fisicamente, mas psicologicamente também.

Criado em: 18/8/2020 14:08
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Re: Sonhos Lúcidos!
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Pois então, quando praticava essa técnica de buscar interferir de forma consciente no sonho, um dia eu sonhava que o carro do meu pai, hoje falecido, que estava diante da nossa casa e sendo invadido com o fim de ser furtado.
Eu havia decidido assumir a aparência de um demônio monstro e me 'materializar' diante dele, no banco do carona, pois ele já entrara no carro e estava no banco do motorista tentando fazer uma ligação direta. Assim o fiz.
Fui despertado do sono/sonho por diversos gritos na rua: uns de pavor e outros de "para aí"...
Me vesti e desci, meu pai também descia na minha frente... Na rua rua estava o "Guarda Noturno" (um vigia que na época andava pelas ruas à noite e os moradores pagavam uma taxa) e já ia explicando o que acontecera a meu pai: - Pois é 'seo' Alfredo, eu vim para cá pois tinha visto lá da rua de cima o sujeito passar por aqui, quando eu chegava perto do seu carro, ele abriu a porta gritando, olhou para mim com uma cara de quem estava apavorado, olhos arregalados... e saiu correndo como o vento, na direção da praia e nem parou na esquina da avenida... quase foi atropelado.
Eu entendi na hora: ele viu o "demônio"... E fugiu horrorizado... não podia ser outra coisa. Ainda perguntei ao guarda: Ele viu o senhor e correu? Ele me disse: - Não, quando ele olhou para mim e me viu, já demonstrava que ia correr, parecia muito assustado...
Eu tinha 16 anos e fiquei um pouco assustado... até parei por muitos anos com as tentativas de dormir e sonhar lúcido...

O ladrão: Open in new window


Criado em: 18/8/2020 15:50
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Re: Sonhos Lúcidos!
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Então Sidney, a força dos sonhos na nossa vida é muito subestimada e se for estudada, isso não chega ao conhecimentos das pessoas em geral. Veja, você pôde resolver uma coisa que te incomodava e que fora gerada por um sonho, com outro sonho. Teve reflexos positivos na sua vida. Tenho certeza que poderíamos resolver uma gama de problemas se pudéssemos tratar os sonhos.
Além desse do ladrão que contei a história, já me ocorreu um fato mais surpreendente ainda e que contarei ainda neste tópico...

Criado em: 18/8/2020 16:11
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Re: Sonhos Lúcidos!
sem nome
Muito bom mesmo. Este poder de criação nos sonhos é mesmo fantástico. Eu combinei com uma amiga de entrar no sonho dela e lhe deixar uma mensagem. Era para ela me encontrar em uma pizzaria conhecida por nós as 15 horas do dia seguinte. Não nos falamos como combinado anteriormente e eu fui para o encontro. Ela recebeu a mensagem no sonho dela, mas mulher é foda, ela chegou as 16 horas e eu já tinha perdido a paciência e ido embora depois de comer a pizza Encomendada.
No caso do ladrão, a espiritualidade explica que os pensamentos podem gerar "formas pensamentos" e ganharem vida por um certo período de tempo, quanto mais pessoas pensarem sobre a mesma coisa maior será o tempo de vida da forma pensamento.
Um vírus pode ganhar forma nova ou mesmo se transmutar pelo medo das pessoas que estarão na frequência dele lhe injetando vida, neste sentido a mídia vivifica o coronavírus diariamente através da forma pensamento do medo.

Criado em: 22/8/2020 14:37
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Re: Sonhos Lúcidos!
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14/8/2018 21:45
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Bom conhecer esse seu episódio da pizza. Fico mais tranquilo com a minha avaliação de realidade em saber que de fato há essa possibilidade com informações partindo de outra cabeça que não a minha!
Mas o fato mais chocante não foi esse do ladrão, e a propósito interessante sua colocação sobre forma-pensamento... aqui a questão é criar uma no mundo consciente a partir do sonho...

Criado em: 25/8/2020 19:04
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Re: Sonhos Lúcidos!
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O mais surpreendente nesse assunto de sonhos é que certa vez, eu me propus a combater seres do mal a partir dos sonhos. Ou seja eu sonhava, entrava num lugar onde haviam coisas do mal e lutava com eles. Era algo assim como uma cruzada, Eu encontrava outras pessoas e nos juntávamos para esse fim.
Entre essas pessoas havia uma mulher que por várias vezes me acompanhou nessas investidas... o lugar onde nos encontrávamos era como um castelo pequeno (para castelos), havia uma grande praça na frente.
Fiz isso por algum tempo, ela e eu acabamos criando uma grande afinidade, uma paixão silenciosa.
Um dia eu pretendendo parar com isso, a encontrei e disse que era nosso último encontro, uma última luta. Disse ainda exatamente o seguinte: "Um dia vamos nos encontrar num abraço que não terá fim".
Passaram-se 2 anos, eu fiz cursos de Reiki e me tornei mestre. Eu tinha um site sobre terapias holísticas com uma amiga e nele tinha um grupo de discussão sobre Reiki e eu respondia perguntas lá. Certo dia uma mulher participava do fórum e digitava comigo sobre uma alergia que ela tinha ao pólen e eu lhe explicava sobre como tratar com Reiki e em dado momento disse que queria fazer umas perguntas em particular. Passei meu skype e começamos a conversar. Ela me contou fazia doutorado em biologia na Universidade de Coimbra era primavera e assim muito pólen no ar. Do nada me contou que sonhava que participava de uma 'cruzada'. Eu lhe disse que eu também. A partir daí começamos a descrever alguns sonhos e eu notei uma grande semelhança que foi a ponto de eu começar uma história e ela continuar ou ela começar e eu terminar. Eu estava perplexo e não acreditava no que acontecia... para terminar o que acreditava (!) ser uma coincidência eu lhe disse: "Um dia vamos nos encontrar..." e ela terminou a frase: "num abraço que não terá fim". Eu soube que havia encontrado a pessoa que conheci em um sonho... contudo eu no Brasil e ela em Portugal.
Nos encontramos pessoalmente quase um ano depois para fazermos juntos o caminho de Santiago.

Criado em: 26/8/2020 15:17
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