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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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17/7/2008 21:41
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... seguindo viagem, em 2008, vem a lume o volume: "O livro do regresso", sob chancela da Edium Editores. Esta obra foi galardoada com o Prémio de Poesia Raúl de Carvalho, 2005. Organizado pela Câmara Municipal de Alvito, o júri foi composto por João Matos, Ana Luisa Vilela, Francisco Fanhais, Arlinda Mártires e Luisa Mellid Franco.
Deixo-vos, tal como vem sendo hábito, três poemas:


é outro o olhar que nasce
no poente


embora de asas feridas
cansadas


voa rente ao espanto
ou da semente
de onde outrora partira


***


no dorso do vento
pelos caminhos do monte
viajam frágeis vestígios
de um cântico


ou de um poema
de súbito bordado a oiro
pelas bátegas
céleres mas suaves
do sol


***


a distância
vestia-se de xisto


conjugava o verbo da neve
ou da chuva


dentro
a madeira gritava
ainda
o esplendor do fogo


ou talvez uma história


uma criança correndo
em redor de um poema




Criado em: 27/10/2011 6:57
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
Membro de honra
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17/7/2008 21:41
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... continuando a viagem pelos livros editados, chagamos ao ano de 2008. Nesse ano, sob chancela da Edium Editores, vem a lume o título: "Nove ciclos para um poema", que no ano anterior recebera o Prémio Literário da Lusofonia, instituido pela Câmara Municipal de Bragança.
O júri desse prémio foi constituido por Amadeu Ferreira, Dina Macias e Helena Chrystello.


***

ao longo dos anos
semeei versos
como passos no caminho
que chamei de meu

alguns ainda os trago comigo
são o meu legado
o meu quinhão

meu naco de chão



***



o mundo é como esta árvore frondosa
que se ergue altiva frente à casa
da minha infância

mesmo distante
ainda lhe descubro
a fragrância dos frutos

e recordo a sua sombra
onde adormecia o sol
nas tardes de estio



***

guardo os gestos os nomes
os utensílios

trago-os na algibeira

são cinzas que as mãos remexem
restos
desta imensa fogueira que é a vida


Criado em: 28/10/2011 7:56
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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17/7/2008 21:41
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... seguindo viagem... em 2008, sai "Lições de Thanatos", edição em parceria com: "Lições de Eros", de José Félix, que foi publicado pela Edium Editores. Trata-se do trazer para livro de um diálogo profícuo que tem existido através da Lista do Yahoo Escritas, à qual pertenço talvez desde 2000 ou 2001, e que é moderada pelo excelente poeta José Félix. Trata-se de uma obra, que já teve continuação, onde se traz, sob nova roupagem, temas da mitologia clássica.

Os três excertos habituais:


/um/

quando me ergui
da terra
compreendi

que os passos são golpes

sulcos
de um arado
para o regresso da semente


/dois/

não nego a noite

procuro-a
no eclodir da alvorada


/três/

a face entrega-se às mãos
como águas
que rasgam em silêncio
a epiderme dos dias




Criado em: 2/11/2011 9:53
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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17/7/2008 21:41
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... em 2009, sai "25 Cravos de Abril", que recebera uma Menção Honrosa (Poesia) no 1.º Concurso de Conto e Poesia da CGTP-IN – 2007, promovido pela CGTP, numa edição da própria CGTP-In. Curiosamente, houve uma troca no nome (aparece Pedro Baptista e não Xavier Zarco). No entanto, como dentro de dias este ciclo será editado na obra: "Viagem pelos livros", colectânea de todas as obras publicadas em Portugal, que virá a lume no Brasil, sempre fica rectificada a coisa.

Ora bem, três poemas:



CRAVO

há um cravo na boca do fogo
rubro como o sangue

mágica seiva entre veias
iluminando o coração
secreto

de uma vontade
escrita pelas letras da esperança




ZECA AFONSO

uma voz na madrugada
libertando-se
das sombras do silêncio

uma voz em canto erguida
que pelos caminhos de abril

floriu




TERESA TORGA

saúda-se a esperança
pela porta grande
do poema

cada palavra sai à rua
como ao mundo veio

desprovida de máscaras
ou jogos de espelhos

pura
como uma flor silvestre
que se ergue para ver o sol nascer


Criado em: 4/11/2011 10:59
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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... seguindo esta viagem de umbigo, eis que surge "Coimbra ao som da água", editado pela Temas Originais, em 2009. Trata-se de um projecto nado a partir de uns postais editados pela Câmara Municipal de Coimbra, sobre fontes e chafarizes.
Deixo-vos os três habituais poemas.



FONTE NOVA

de azul e púrpura se esboça
o cântico dos cântaros

sôfregos

por um fio de prata nascendo
de seu ventre mineral

de azul e púrpura de agapanto
se matiza
o riso das crianças em redor

como gotas de água saltando
de regresso ao regaço
de todos os começos



FONTE DA MADALENA

verão teus olhos madalena
que não outros
o que ninguém jamais verá

como o conchelo
vertical à semente do poema
que conjuga um verbo de água

a ti pleno surgirá
o verbo iluminado
do sol que nasce após morrer



FONTE DA NOGUEIRA

escuto o canto da sereia
ou talvez
seus risos de água

caem
à altura de um pilósporo
na demanda de minha alma

cativa náufraga
de seus acordes

Criado em: 7/11/2011 11:29
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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... eis-nos pois em 2010, ao livro "Monte Maior sobre o Mondego", que teve uma edição digital, mas que, com o apoio da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, viu a luz em papel sob a chancela da Temas Originais.
Este ciclo que mescla brasão com, sobretudo, personalidades de Montemor-o-Velho, um local que vale bem a pena conhecer, não só pela paisagem, gastronomia, património, mas, também, pela sua riqueza histórica e lendária.
Esta obra recebeu a Menção Honrosa (Poesia) no Prémio Literário Afonso Duarte, 2003/2004.

Ora bem, três poemas:




Primeira Torre - JORGE DE MONTEMOR


Nasce o poema,
a palavra,
a sementeira do verbo,
da música.

Lo deseo,
eres la palabra
susurrada
de todos los ríos.

Tal vez
la palabra amor.

Talvez
a palavra dor.

Talvez.



Segunda Torre - FRANCISCO PINA E MELO


Havia a palavra
e a exacta medida
de cada verso.

Trazia nas mãos
todos os utensílios
e o fogo
germinando no olhar.

Cada palavra
era delicada,
do mais puro ouro.

Brilhava
qual metáfora solar,
filigrana
iluminado de dentro.

E cumpria
o seu supremo ofício
de ourives da poesia.


Terceira Torre - AFONSO DUARTE


Escuto os teus poemas
e sente-se no sangue,
que flui em teus versos,
a voz do teu povo.

O que se ama
porque dele brotámos.

E a palavra mãe.
A palavra filha.
A telha vã.

O aroma da terra
de rosas florindo
e as mãos levando
seus espinhos.

E a palavra como enxada,
sulcando a página,
fecundando cada verso
com os gestos.

Escuto
em teus poemas
o rumor do Mondego.

Repara como dorme em tuas mãos.

Criado em: 8/11/2011 13:57
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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Também no ano de 2010, é editado "Dizer do Pó", pela LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, obra que mereceu o Prémio de Poesia Manuel Maria Barbosa du Bocage - 2010, numa organização da própria LASA. O júri foi composto por José Correia Tavares, Luisa Maria Venturini Casimiro e Fernando Jorge Costa Paulino.

Três poemas:


1.

se acordares e a casa for o mundo
e o sebastião alba atravessar
a avenida da noite ou de um verso
a casa é o poema onde o poeta
à entrada se descalça


2.

a casa é qual seara de sussurros
entre o musgo das palavras
que dormem entre retratos
também estes suspensos
por uma ausência


3.

se te olhasse de perto e decifrasse
a língua da cal
acordaria a ardósia de antanho
para escrever
simplesmente o meu nome com teus signos

Criado em: 9/11/2011 8:51
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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Continuando, chega-se a 2011 e sai no Brasil a obra: "Sonho de Benta de Aguiar seguido de Fragmentos de Hipocrene", sob chancela da RG Editores, na "Coleção Alumbramento" dirigida pelo poeta Álvaro Alves de Faria.
Constituida por dois ciclos autónomos, sendo o primeiro: "Sonho de Benta de Aguiar"; uma narrativa, em contexto poético, com recurso a múltiplas imagens de cariz religioso, da História desta monja que previu o desaire de Alcácer Quibir. O segundo, "Fragmentos de Hipocrene" trata-se, talvez, de uma abordagem à própria construção do texto poético, desta feita com recurso à mitologia grega.

Os habituais três poemas:


há um cordeiro preso ao ventre
do vento que erra
ninguém escuta o seu balido
a sua súplica
dar-se-ia em sacrifício
pelo rei que vacante deixa o trono


***


uma opala esventrada
onde o grito da mandrágora
incendeia o mel
rente à tez de uma palmeira
é cinza ou sombra
é dânaca na boca do devir


***


escuta
uma safira fendida habita
na voz
de um espinho de acanto
escuta o seu grito
que o vento na pedra esculpe



Desta vez, até para quebrar a tradição, algumas das notas que serviram de base para a construção deste ciclo "Sonho de Benta de Aguiar"


1.º
Cordeiro sacrificial - Salvação dos fiéis.

2.º
Opala - Fervor religioso;
Mandrágora - enfeitiçamento;
Mel - Compaixão de Cristo;
Palmeira - Entrada de Cristo em Jerusalém;
Dânaca - moeda grega que se colocava na boca dos mortos;

3.º
Safira - os eixos representam a fé, a esperança e o destino;
Espinho de acanto - Castigo pelos pecados.



Criado em: 10/11/2011 8:51
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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Também neste ano de 2011, surge o livro: "Anotações sobre os olhares no óleo sobre tela «Retrato de Mulher ou Le Dejéuner», de Manuel Jardim". Esta obra recebeu a Menção Honrosa do Prémio Literário Afonso Duarte - 2009/10, promovido pela Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, entidade que patrocinou também a sua edição.
Este ciclo nasce aquando da investigação que levei a cabo para a feitura de "Monte Maior sobre o Mondego".
Manuel Jardim é um dos mais notáveis pintores portugueses e o contacto com a sua obra levou-me a ponderar um diálogo com diversos quadros, mas, ao visionar este "Retrato de Mulher", o rumo mudou e o projecto alterou-se.

Os três poemas habituais:



***

habita o olhar uma secreta
melancolia

observa algo na distância
imprecisa

um só horizonte
mas longínquo

talvez uma janela
defronte
o descubra

em todo o seu esplendor
de luz

***

outro
é o olhar
que indaga a mulher

misto de desejo
e deslumbramento

com a luminosidade
que lhe veste o rosto

***

ao fundo
uma quase silhueta

uma serviçal
de passagem
leva uma bandeja

como se levasse
uma confidência

um segredo

Criado em: 11/11/2011 10:41
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Re: Quem sou eu - Xavier Zarco
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Seguindo viagem: 2011, "Dédalo de Dédalo", ciclo que foi editado pela Temas Originais e que é complementado - e complementa; com "O Sol de ìcaro", da autoria de José Félix. Trata-se da continuação de um projecto de diálogo que teve até à data duas publicações: a presente e "Lições de Eros / Lições de Thanatos".

Os três habituais poemas:


1.

a obra
nasce

quando a criança
surge

entre os escombros
do caos



2.

silhueta
na distância

o olhar
a indaga
e mesura

enquanto a luz
a coroa
de sombra


3.

sobre
a terra

o respirar
do gesto

Criado em: 15/11/2011 9:26
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