Comentário a "Segundo sem estribilho" de Esférico

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6/11/2007 15:11
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O arredondado, numa das faces, é o que há em comum entre um cilindro e uma esfera.
Para um Esférico, um Cilíndrico deve de fazer um bocado de confusão. É um parente limitado.
Geometricamente falando, a esfera tem um número infinito de faces (como o círculo tem um número infinito de lados). Ao cilindro foi retirada essa hipótese, porque ao serem-lhe acrescentada duas faces planas, o mesmo ficou com três. Também podemos arriscar, e dizer que a esfera tem só uma, mas é o que eu chamo, pensar pequenino.

A perfeição obtida na esfera, ou na circunferência, é evidente também quanto ao número de ângulos. O triângulo, e o tri não engana, tem três.
Quanto ao pensar, o Esférico tem todos. Se pensarmos pequenino, não tem qualquer um.

Se bem que, até na geometria, aplicada aos pontos de vista (ou ângulos, se quisermos), há algo de errado se tentarmos fabricar, ou ter, apenas um. Até com dois lados, uma figura geométrica é uma linha não fechada, com apenas um ângulo. Incompleta.

Uma roda é um cilindro.

O Homem, quando inventou a roda e a escravizou, teve um passo evolutivo imenso, uma arma de arremesso, quase tão imponente quanto o domínio do fogo.
Em vez de arrastar e acartar, começou a rodar.

Rodar é também um verbo que traz muitas hipóteses, mas tem sempre uma sensação versátil.
Andar com a cabeça à roda, ou seja, ao cilindro, é um sinónimo de confusão, alegria, tontura, êxtase...
Perigoso.

No começo do teu texto, a primeira frase aborda o sufoco.
Ora, porque, quer por dentro, quer por fora, é limitado.
Se pensarmos nos ratitos dentro daqueles instrumentos de corrida em que não param de se exercitar sem sair do lugar, parece ser quase castigo.
Num local de atrito zero o cilindro, andaria sem oposição, mas duma forma limitada: para a frente, ou para trás.

Compreendo a monotonia da frase seguinte. Um tom apenas. Pobres cobaias.

Ser multiforme, ou não-uniforme tem apelo, certo.
Não compreendo, também eu, qual a graça de nos copiarmos até ao infinito, a média, a moda, os múltiplos dos outros.

Na terceira frase (consegues ter mais poesia em certas frases do que alguns em muitos versos) a força é por vezes um pior necessário (a Almamater que me perdoe não a citar).
A circularidade, sendo o círculo um dos planos do cilindro, é também uma hipótese complexa.

Mas há uma bendita presunção no teu texto, que tens mostrado com invejável consistência, a imaginação.

Arestas também não te tocam. Geralmente, alguém fica magoado.
Espero que o espaço para a tua maçaneta apareça. Gostava que fosse por aqui.

Obrigado por mais um texto que me compele ao comentário...

Abraço


Segundo sem estribilho


Nunca gostei de formas cilíndricas. Sufocam-me.
Linearmente fechadas, a sua regularidade, monótona, tira-me o espaço físico de poder encontrar a diversidade. Ser diferente.

Várias vezes empurro a linha com os pés, com as mãos, forçando-a com a cabeça, sem o conseguir.
Elástica, a circularidade volta a mim, impedindo-me de evoluir.
Fico inerte, de corpo projetado na curva.

Gostava de desenhar, de ter um, um apenas, um canto, um quadrado no alto, onde pudesse mudar de posição, descansar a imaginação e de não ter esta rotatividade a tentar convencer-me de um qualquer tipo de perfeição, só porque não tem arestas.

Que, sei, as arestas são exteriores a mim.
Mas gostava de possuir um espaço, ainda que pequeno, onde pudesse afixar uma maçaneta.


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Criado em: 22/5 7:16
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