Contos : 

O Chamado

 


Mesmo usando um pesado casaco de lã,não se aguentava de frio.
Passou pela catraca,subiu pela escada rolante soprando ar quente nas mãos. Não via a hora de chegar em casa, tomar um banho e se enfiar na cama. Que noite mais fria, Deus do céu!! Puxou o maço de cigarros do bolso mas se lembrou da nova lei. Desistiu da ideia de fumar. Estava mesmo tentando parar, melhor assim.
Olhou, rapidamente, à sua volta. Não havia ninguém ali. Que horas seriam? Quase uma da manhã! Certamente, embarcaria no último trem. Que bom que amanhã é domingo! Respirou fundo, ainda tentando se aquecer.
Começou a prestar atenção no silêncio. Há quanto tempo não ouvia tamanho silêncio? Sensação boa. Fechou os olhos. Então começou a ouvir alguns ruídos, uma goteira? O vento chiando em algum lugar. E foi percebendo outros ruídos que foram surgindo, como uma sinfonia. Embarcou nessa viagem sonora e, àquela harmoniosa mistura de sons, deu toda a sua atenção. O som universal.
Foi tirado, bruscamente, do seu transe pelo estrondoso barulho do trem se aproximando. Já ia entrando no vagão quando, de repente, olhou à sua esquerda como se procurasse por algo. Ou algo o chamasse. Viu sobre o último banco, lá no fim da estação, um saco preto. Não embarcou, o último trem partiu.
Caminhou, freneticamente, em direção ao saco de lixo, olhando fixamente para ele.
Quando chegou bem perto, agachou-se e o abriu.
Não conteve um soluço. Pegou a pequena criatura nos braços. Fraca. Tão fria. Abriu seu casaco e deu a ela, o calor do seu corpo.








 
Autor
KássiaReis
 
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