A MODERNA ESCRITA.

Bem, Zé, nem sei bem o que fiz aqui... rs. A verdade verdadeira mesmo é que às vezes sinto-me auto-pressionado a criar o novo, a olhar mais se há alguma qualidade intrínseca à minha criação e outras idiotices que tais, não que fazer isso seja totalmente dispensável, mas todo esse processo me tolhe, diminui-me sobremaneira as alternativas de expressão, impõe-me uma série de não-me-toques na forma de apresentação da obra escrita, resumindo, enchem demais o meu saco! Tem muito a ver também com aquilo de eu pensar ou imaginar o que os outros vão achar da escrita, se vão compreender as intenções da sua mensagem, dentre tantos outros pensamentos imbecis que me atrapalham sobremaneira durante o ato de escrever. Some-se a tudo isso o fato de a gente ler por aí, esses críticos literários todos com aquele papo-de-aranha de escrita única, estética diferenciada, de fato novo na poesia, de buscar novas associações de imagens, não repetir a mesma estrada de outros e blábláblá. A gente soma tudo isso na cabeça e, mesmo inconscientemente, quando percebe está lá um montão de nós-cegos apertados por nossos conceitos e preconceitos, um em cima do outro... Aí que me pergunto: e a idéia a ser transmitida? Será ela menos importante do que a forma na poesia? A estética deve mesmo suplantar a mensagem? Aí penso numa idéia maravilhosa de uma tela feita por um péssimo pintor, um daqueles sem nenhuma técnica. Será que alguém perceberia, neste caso, a genialidade da idéia em meio àquela porcaria de pintura? Perguntas...

Abraço, Zé, obrigado por vir.
Gê

Ah, meu amigo quando fui postar lembrei de você, embora tenha escrito este poema há muito, muito tempo e apenas o estava maturando. Aquela sua exposição me serviu para finalizá-lo sim, mas as aspas eu arranquei do pleonasmo porque me lembrei do que você comentou... rs

Um abraço e grato por vir ler.
Gê

Olá, Carlos.

Penso que você compreendeu a dinâmica e a temática desta escrita como eu pretendia transmiti-la quando a escrevi. Isso, sem dúvida, traz imensa satistação ao autor, no caso este que lhe fala.

Penso que o escritor, em especial o poeta (não que necessariamente nos denominemos assim pelo simples fato de escrevermos algo que outros podem reconhecer como poesia, mas deixo aqui o termo poeta para identificar o aspecto particular dessa nossa voz), é sempre daquelas crianças levadas que têm tudo ainda por descobrir. Nada para elas pode ser assim tão batido ou cansativo, porque a descoberta pessoal enriquece e palpita.

Para entendermos bem isso, basta apreciar o olhar completamente maravilhado de uma criança tenra para com um surrado aviãozinho de papel que plaina ao ar, este saído da forma das mãos hábeis do próprio pai. Pois deveríamos ser isso: a riqueza das próprias descobertas. O que mesmo importa se outros milhões já sabem engenhar o tal do aviãozinho desde milhares de anos antes, que já o recriaram em centenas de tipos de dobras iguais ou diferentes? Que mal há em repetir o prazer dessa experiência de "fazer algo voar" com as próprias mãos?

Você disse algo determinante, acima: "Tudo já foi feito, dificílmente haverá novas formas de o dizer - a técnica é a mesma mas a nossa vida não é e hoje nunca aconteceu antes." Isso. O fardo que carregamos pelo fato de quase tudo ter sido ideado na poesia não nos poderá impedir do direito enriquecedor de fazermos igual (se bem que um algo igual ao outro, nunca nada haverá, nem naquelas produções em série do nosso capitalismo. Há no universo espaço e tempo a separarem todas as coisas iguais das outras coisas iguais confrontadas em nossa percepção).

Que culpa temos nós se, anteriormente, quase tudo já foi realizado e, inafortunadamente, nascemos logo agora? Mesmo assim, ainda temos essa necessidade palpitante e viva de nos expressarmos poética ou literariamente. O que faremos com ela? Diremos a nós mesmos: "Parei. Tudo já foi feito"?

Não nos violentemos pelas exigências das vanguardas, de escritas ditas modernas, das novas e novíssimas estéticas: como o pequeno menino, merecemos o imenso prazer de aprendermos a dobrar com nossos dedos um simples avião de papel para, depois, fazermos essa nossa conhecidíssima criação planar.

A pressão da necessidade de realizar o novo, o inédito, o inusitado, no meu entender, na minha pele, comprime totalmente as vias da criatividade. Sim, ainda acredito surgirão novas e maravilhosas formas de expressão poética, tarefa árdua que deixaremos aos grandes gênios vindouros. Estes, ao momento inevitável e exato que há de ter, surgirão e vingarão. Ah, isso acho que é certo como o sol todo dia nasce. É inevitável.

Agora e aqui: lutemos pelo nosso singelo prazer, pelo direito e dever de nos expressarmos com o que de melhor temos cá por dentro, mesmo seja este melhor suficiente apenas para umas poucas dobras num aviãzinho de papel, e isso só para depois poder vê-lo solto pelos ares do mundo, ao encanto de voar.

Um abraço e muito grato por vir ler.
Gê

PS.: Desculpe o comprimento da minha escrita, mas foi-me muito natural o prazer de escrever isso tudo.

Oi Carolzita! Você anda sumida dessas paragens do site... Bom retorno.

Obrigado por vir aqui ler.

Um beijo,
GÊ

Olá Mendes. Muito obrigado por vir ler e por comentar.

Abração
Gê

Olá, Alice. Muito obrigado por vir aqui para ler e comentar.

Um beijo,
Gê

Olá, Azke, tudo bem?

Bem, começemos pelo fato, óbvio, incontestável de que este escrito é redigido buscando-se intenções poéticas, o que necessariamente suscitará interpretações e interpretações. Sendo o próprio poema um discurso lúdico, plurissignificativo, só ele, em si, já é uma minha interpretação.

Quanto à crítica isolada ao que é novo em favor do já existente, como você coloca aqui e da forma como pretendi construir no poema, na minha intenção criadora, não há. Admito sim que pode haver na sua, como ainda outras formas de interpretações para mais terceiros.

O meu ponto de partida no texto é uma "certa aversão" à "exigência do novo", à obrigatoriedade "apenas do novo", sendo que, nem essa postura é absoluta dentro do poema. O grau de persuasão é baixo, beira à insinuação, algo bem característico do discurso poético. Então, criticar a "ditadura do novo", para mim, e muito diferente de criticar o novo, para defender o clássico, o tradicional, ou "velho", digamos assim.

Pois assim mesmo coloco: afinal de contas, o que é "o novo"? Eis aqui um termo com um alto teor de relatividade. Se falarmos de textos de Shakespeare (que sei que você tanto gosta e muitas vezes os usa em epígrafe) para quem não os conhece, definitivamente se está falando a este de algo novo, libertário até, por exemplo. Haveria algum pecado não redimível à condição deste leitor, de Shakespeare e seus textos serem factualmente inéditos e, devido a isso, maravilhosos para ele? Penso que não.

Porque é dessa mesma forma que aprendemos a andar e isso sim é novo, depois vamos a aprender a escrever e ler, e temos o primeiro beijo, a primeira transa, atos absolutamente comuns e milenares e absolutamente novos do ponto de vista individual. Por que, assim também não possa ser com as artes, em especial com a poesia, nosso tema de debate? É justo que experimentemos o que já foi, sem isso ser tachado de retroação, ou estagnação ou preguiça, ou seja lá mais qual termo depreciativo ao fato de fazermos algo que outro já fez, mas nós não!

Jamais defenderia o velho, jamais. Porque o velho é sempre o que está morto e enterrado porque conhecido e incorporado. Defendo, sim, o direito de se poder escrever algo sem se preocupar se está inovando ou revolucionando algo, mas pelo simples prazer da experimentação pessoal. Prazer e necessidade.

Acontece que muitas vezes existe essa "pressão pelo novo". Eu a sinto, sempre. Ela é justa, deve acontecer, porque me (nos) movimenta, mas não se a deve levar mais a sério do que a seriedade que ela, em si, merece.

Bem, poderia escrever muito sobre isso, mas acho que por aqui basta, pois acho que me fiz explicar. Sim, sou também totalmente a favor de toda e qualquer evolução. Evoluir também pode significar incorporar o que já há, deglutir, mastigar, digerir e depois, só depois, criar algo realmente novo, com o extrato do passado. Isso é tentar o novo, sem nos tornarmos escravos do inédito.

Penso que os comentários que escrevi para o Zé Silveira e para o Carlos Teixeira Luís possam reforçar e esclarecer o meu ponto de vista. Se não leu e se interessar, aí estão.

Muito obrigado pela oportunidade de debate, Azke, porque quando feito com respeito, como você o fez comigo, só nos engrandece. Saiba que você é um cara que eu admiro muito.

Abraço, meu amigo.
Gê

sabe q eu fiquei com receio de vir aqui após ter uma percepção(já supostamente tão errada) qual à q eu tive no teu poema e comentários adjacentes..? uma grande prova disso é a merda q eu fiz(desculpe o têrmo, mas é isso.) a um poema de um/a determinado/a usuário/a, recentemente.. arbitráriamente e por equívoco insignificante da minha parte, eu conduzi à mediocridade q só a ignorância pode criar.. ou destruir, enfim..(logo, à esta ocasião, me contradisse em minhas próprias acções..)
por isso temi vir e dar margem pra um "conflito", q: asseguro-lhe: jamais, em qualquer hipótese ou tentativa, à forma de vileza ou "ataque". mas vc sabe como é ser impulsivo? é debandar ao asfalto, ehehe

bem,
por conta da resposta, eu fico extremamente satisfeito e concordo contigo à idéia e ao acto em si de tomar a experiência como base de criação e/ou evolução. eu adoro shakespeare. mas o facto de usá-lo frequentemente, é só uma mera vaidade e/ou preferência, até.. pois, o uso de frases e citações à traseira de caminhões é bem mais sugestivo, rs

enfim,
acho que te compreendo também, à parte da exigência. do ego.. da comum-percepção à realidade daquilo que nos cerca. o que é bom pra uns, pra outros nem sequer vale o tempo.. por exemplo: eu citei paulo coelho em um outro site, "endeusando-o", mas: muito e muitos torcem o nariz pra ele.. é questão de opinião, de interacção, de valores, ou: tentativas.

a evolução de nós, enquanto criadores de textos, frases, ou qualquer tipo de escrita, pra mim, a este tempo, deve ser plural. deve ser primeira-regra.

mas isso tb é um ponto pessoal..


um Abraço, Gê!
é sempre bom ler o que vc tão bem, escreve.

Azke, em absolutamente nada que você escreveu para mim entendi o mínimo de desrespeito ou ofensa, ou agressividade, ou qualquer similar, tenha essa certeza. Já aprendi a conhecer você um pouco, meu caro, fica frio... rs. Respondi com prazer e com o mesmo prazer li o que você me escreveu. Porque o fez com critério e procurando esclarecer seu ponto de vista. Também não vi nenhuma percepção errada da sua parte. Poesia é isso mesmo...

abração, cara, bom fim de semana