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Ao Cotidiano

 
Fui mas não temia por meu regresso.
Porque a minha porta eu sabia de memória.
Fui e voltei vestido de homem.

Acontece que à momentos em que nada
nos pode devolver o que perdemos.
E então tive que partir. E sempre.
E então tive que viver. E sempre.
Deixei as velhas árvores curvadas,
como os avós ao fundo de uma casa.
Deixei de perguntar e é um ausente
o que pergunta agora dêsde a alma.
E assim vim a saber como os homens
levam as costas um profundo hóspede.
Como o pão e a roupa são um sonho,
como tão só a tristeza é própria.
Que a água, o corredor e a escada,
chegam a ser tão profundamente diários
que é preciso perdê-los para amar-los.
A tarde em que parti não me disseram
que a dor, é dor estando só.
Que o minuto perdido, o desengano,
as horas em que ontem éramos outros,
nos derrotam a cada instante, e é preciso
perder um dia para ganhar no outro.
Que as vezes não temos mais que o vento
para limpar os olhos do passado.


Rui Garcia

 
Autor
Rui Santos Garcia
 
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