Batem a porta
Faço silêncio para pensarem que ninguém está
Porquê ainda não desistiram de mim?
Já desisti de todos
Já desisti de tudo
Foi aos poucos
Lentamente fui tornando-me cada vez mais independente
Cada vez mais olhei para mim e perguntei-me se realmente precisava disso
Se precisava daquilo
Fiz contas
Descobri o número mágico que a partir dele não precisava mais de nada
Pelo menos até o dia que a segurança social carregasse-me para algum lugar
Foi então meu único objectivo
Deixei tudo para traz
Um dia descobri que o queijo era supérfluo
Noutro que a manteiga também era
Transformei-me num miserável
Mas atenção
Um miserável com um objectivo claro
Não queria aborrecer mais ninguém
Não queria que ninguém me aborrecesse
Mas não adianta
É quase impossível
Sempre preciso de algo
Sempre chateiam-me com algo
Mas fui descobrindo truques
E talvez o impossível torne-se possível um dia destes
Cada vez falo menos
Não por antipatia mas por indiferença
Pouco me importa o que se passa no mundo
No pais
Na cidade
No prédio
Quero lá saber
Porquê deveria querer saber?
Para mim as pessoas só ocupam seu tempo com as outras coisas e pessoas porque não gostam o suficientemente da sua companhia para viverem sós
Re: Batem a porta
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