Retrospecto

sei que o tempo apagará.
dor sem comprometimentos.
são profundas as cicatrizes
denunciadoras dessa paixão.
de quando rasguei meu peito,
deixando fluir demais da alma
tantas palavras de amor. marcas.
‘retrospectiva vã, sim’
que me exaure. em liquidação;
alegrias e prazeres de mim,
de te saber, e de te ouvir,
mas já sem as importâncias.
presença surda do seu não vir,
pensar ácido gosto de fim.
‘desprovidos de versos’
olhares prenunciando, enfim;
tão cruéis demais para mim.
‘perpetuar-se-á meu afã’
nesse querer que me arde,
em alcançar-te num abraço;
um apenas, e derradeiro, sim
uma tentativa vã e triste sina
dolorosamente infinda,
preço da minha imperfeição
no amor de te amar em silêncio,
amargando as vis palavras
transbordadas da tua boca,
incisões invisíveis e profundas
‘doces e suaves das lâminas’
que sangraram meu coração.