Poemas : 

Situação atmosférica

 

Vejo só cinzento
Carregado
Chuvoso
E chove mesmo!
Intenso!

Dia após dia
Sonhos vão nas enxurradas
Sem trovoadas

Com desejos tento afastar o cinzento
E ver o azul do firmamento
Mas quê?
Inventaram centenas de deuses
Milhares de santos
Eu bem peço
Mas chove a cântaros
E ouço prantos
A chuva é precisa nalguns dias
Mas não em tantos
Todos os dias mudo de camisa
Porque todas ficam encharcadas!
Se a chuva continuar
Fico de roupas sem mudas
Sem nada
Só com a pele nua e lisa
Na chuva a boiar de papo pró ar
Olhando o céu cinzento,
Mas, tentando olhar além dele
O azul no firmamento
Nem que seja d’olhos fechados!

Em sonhos
Vejo deuses e santos a chorar
Então, compreendo a razão de tanta chuva cair!
-“Porque chorais, seres divinais?
Vós,
Que sendo deuses e santos
Nunca cometeis nenhum deslize!”

“Pobre diabo!
Então, não vês que é devido à crise que está
E à que há-de vir,
Que não podemos rir!
Daqui do alto,
Quanto nossa vista alcança,
Quanto veja,
Vemos que cai menos dinheiro na nossa bandeja,
Por isso, estamos todos a chorar,
Por isso é que está tanta chuva a cair
E não tarda darmos ordens para trovejar”

“Mas, qual é o meu papel?”
Perguntei.
“Sofrer. E ficas, desde já, avisado,
Por toda a parte anunciado,
Que os milagres vão encarecer”
-“Quanto?”
“O que o Governo ou a Troika entender.
Eles, para manterem fazem seus arranjos!
Nós aqui, para as despesas do Céu;
Alimentação e lentes (para ver o que se passa)
Também temos que fazer os arranjos
Para manter o nível dos papos-de-anjo!
E se calhar, temos de chamar o Diabo
Para desenhar o plano das novas e taxas e impostos
Celestiais sobre rendimentos de trabalho e heranças.
Vocês, aí chamam aos diabos ministros das finanças.
Preparai-vos para sofrer,
Porque os milagres vão encarecer!
Deixai de ir aos restaurantes comer
E ide mais a missas.
Alimentai-vos de hóstias,
É preciso alimentar mais o espírito do que o corpo”

Acordei.
Deixei de estar de papo para o ar e pus-me rastejar.
Tinha começado a trovejar!
…………….xx……………………
Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar


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