Poemas : 

À Sublime Canção

 
Recortes de poemas que nunca escrevi
vão formando rostos e versos
em minha memória e na poesia.
Entrego-me aos poucos às palavras;
elas tem a cegueira dos visionários,
elas tem a profecia dos mudos,
o silêncio das sinfonias mais bem executadas.
Paro e contemplo um antigo texto hindu.
Hoje há chuva, solidão e velhas canções tocam no rádio.
Saudemos a História! Saudemos nossos mortos,
que adubam nossas flores de lótus
e nossos passos: estrada e asfalto.
Caminho em pensamento pelas páginas de Fernando Pessoa;
confundo meus dedos com os dele que acaricio,
sinto a maciez de suas pétalas duras como pele de girassol.
As suaves águas do seu adorado Tejo dourado
trasbordam em suas frases sem fim, latim moderno,
que me desnorteia,
transformando minha marcha pra morte
em peregrinação ao meu templo onírico:
lá onde meus deuses dançam
ao redor do incêndio na árvore da vida.
Como os quadros infinitos de Escher,
envolvo-me nas minhas cobertas
desprezando rosas dos ventos, relógios; sou todo centro.
Preciso de uma morte mais forte que meus sonhos.
Dos meus rascunhos vejo longínqua Terra Prometida,
até que desfaleço e volto ao pó;
morre a inspiração, volto a cair lá fora, gotas e cinzas na janela.

 
Autor
ferlumbras
 
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