Era bonita, esbelta e tinha o corpo escultural,
mas assoava o nariz fungando pelas manhãs,
depois do primeiro cigarro com ar sensual,
gritava como querendo acordar as irmãs.
Lânguida ainda deixava-se ir até a cozinha,
espantava o cachorro que lá dormia no chão,
retirava do fundo da pia as carcaças do galeto,
suspirava ainda saudosa por meio amareto.
Lembrava dos comerciais que fez para a TV,
com mais de trinta ainda chamava a atenção,
mulher mais que interessante pós-balzaquiana
orgulhava-se dos seios no decote em vê.
Apesar de suscitar no outros uma fantasia,
sequer encontrava vestígios em torno de si,
vivia alternando as várias crises de anorexia,
e animados regabofes em nuvens de Givenchy.
Vez em quando sussurrava quase inaudível,
querer mesmo tomar um banho erótico a dois,
sentir alguém espalhando o xampu nos cabelos,
vendo-se nua no espelho embaçado depois.
Queria beijos entre as espumas perfumadas,
debaixo da água sentir-se intensa e queimada,
tal fogueira que brotasse do chão molhado,
a água quente dançando no corpo fartado.
Depois de fechada a torneira e cessado o jato,
ajeitava os cabelos com uma toalha felpuda,
sentava-se na cama a desfrutar do próprio tato,
antes de abrir os olhos à realidade desnuda.