Poemas : 

Perdi-me nas cores

 
Perdi-me nas cores da roupa
Que me guardaste
E, dos versos simples
Só me restam os nós dos teus dedos,
Assim os vejo ainda.
Tão de perto,
Inscritos
Como se me tocasses.

Como se me roçasses na alma
Gélida
Por castigo,
Osculando
O poema

Com os lábios

 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 30/05/2021 10:32  Atualizado: 30/05/2021 10:32
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: Perdi-me nas cores
Tenho um fraco por verbos reflexos.
Perder-me é um dos meus favoritos.
Acontece-me muito, quando sou eu a conduzir. Ao volante chego a ser ridículo.
O sujeito poético desde cedo (2º verso) evoca o tu.
Entra o poema numa espiral ora larga, ora estreita de metáforas, comparações, aliterações, quase antíteses...
Andamos desde o primeiro verso num arco-íris (fenómeno belo de luz e humidade) sem ter a certeza qual a cor. Num roupeiro, incertos do hábito.
"...guardaste..." \ escolheste dum modo que soa quase a castigo, ou antes, a sina que o sujeito poético é incapaz de evitar.
Essa inevitabilidade é a dor do poema (grande poema) ou o motivo para o comentário ou "favoritação".
Os versos sucedem-se nada simples, até no nós. Que têm os dedos de alguém, ou será o dedo?

Os últimos três versos da primeira estrofe são muito sedutores.
No mesmo tom confessional, há o contacto. Como as palavras nos tocam, mudam; os versos excitam a uma certa leitura,
ou entristecem, magoam... arrepiam...
No início da segunda estrofe a comparação já parece uma metáfora, e a repetição da ideia (tocasses\roçasses) um pleonasmo
e essa "...alma\gélida..."
no presente perfeito duma palavra que desconhecia (osculando é lindo) é capaz do segundo melhor feito pelos lábios.

O que fará essa alma fervendo?

Abraço irmã