Contos : 

A Mitológica, Comprida e Inútil História do Aparecimento do Mar Tupin-Egeu e da UTI Móvel

 
A Mitológica, Comprida e Inútil História do Aparecimento do
Mar Tupin-egeu e da UTI Móvel



Então Poseidono criou o mundo.
Um mundo perfeito: com baratas, água-viva e tiriricas.
Não esqueceu os raios, as tissunamis e o apêndice(ite).
Criou as deusas e os minotauros.
As deusas eram seres com lindas caldas que falavam bastante, principalmente do que não sabiam, insinuavam-se, mentiam e dadivosamente doavam seus filhos ao mundo tentando afogar em lagos, deixando em becos e latas de lixo.
Doavam-se por segurança, jóias, empregos melhores ou davam-se de papel passado aos minotauros para que delas fizessem escravas. Todos esses sábios ensinamentos divinos as punham em vantagem também para fingir o gozo.
Tinham todos os atributos de que pudesse se orgulhar seu criador!
O minotauro era assim: a virilidade exposta em tudo!
Um belo animal com rabo, corpo de humano e cabeça de touro.
Viviam soltos e livres inventando jogos e lutas mortais, brincando de faz-de-conta... Eram louvados quando juntavam ouro (e valia tudo para isso); considerados por seus currais e por seus pênis longos.
Tinham sede de sexo: desejo por deusas, por outros minotauros e até por crias novas!
Divina e sublime obra!
Deusdalo, arquiteto de renome, foi contratado por uma deusa (sem licitação e com recibo à menor) e inventou a cama. Do uso dessa engenhoca nasceu um ser terrível chamado homem.
Mais uma vez requisitado, e pago com cheque sem fundo, Deusdalo inventou o labirinto.
Diz a mitologia que os homens, essas monstruosas criaturas feitas por vingança justíssima, tinham o corpo humano mesmo: não tinham chifres nem rabo e eram possuidores de uma sensibilidade diferente. Sabiam ouvir, sabiam-se frágeis no amor, sabiam das artes e da filosofia. Não espancavam suas mulheres, não tinham amantes, cuidavam de seus filhos, ajudavam seus amigos. Criaturas horripilantes!
As fêmeas - mulheres eram detestavelmente meigas, sabiam silenciar, amamentavam animalescamente suas crias, sabiam amar seus homens, eram perigosamente inteligentes e não batiam portas quando estavam nervosas.
Poseidono os aprisionou no labirinto para que de lá jamais conseguissem sair.
Liam, amavam-se, trabalhavam.
Coisas abomináveis!
Os minotauros não... Faziam tudo que os espelhassem ao divino! Eram agressivos, sabiam trapacear, trair, mentir, matar; qualidades essenciais à sobrevivência e ao sucesso.
O labirinto foi construído sob o Palácio da Alvoroçada. Seu dono, o rei Lulé, por causa do seu filho - que foi desmascarado em público por ter roubado pouco, abriu guerra contra Antena (o Juvenal da novela) e os Maritacas, mandando que sete minotauros e sete deusas fossem levados ao labirinto todo ano eleitoral para serem sacrificados. Deveriam viver com responsabilidade, amor e justiça. Um verdadeiro massacre.
Sempre acontecia o pior! Eram tragados pelos vícios dos homens que os tratavam com terrível dignidade e os ensinavam detestáveis regras. Aprendiam sobre a nauseabunda ética: perniciosa que ela só!
Nunca nenhum minotauro ou deusa voltou de tão tenebroso castigo!
Poseidono ainda não tinha inventado as visitas íntimas, a condicional e a prisão especial com TV, celular e caviar para minotauros e deusas de nível universitário. Era dura a vida deles sem tais regalias...
No inferno do labirinto tinham que cuidar das plantas, não jogar lixo nos córregos, escovar os dentes e devolver a carteira alheia.
Há castigo pior no mundo?
Então surgiu Teuseu, um minotauro muito safo, que comia a filha de Lulé.
Tramaram então uma negociata, Teuseu e Arriada: Ela deu a Teuseu, além do que dava aos dragões da dependência, um novelo de barbante.
Teuseu se candidatou e foi levado ao labirinto. Lá, com a ajuda do barbante, achou a saída e matou todos os homens.
Libertou os minotauros que haviam ficado no labirinto naquela vidinha besta de pagar os impostos em dia.
Foi uma festa!
O rei Lulé ficou puto!
Mandou prender Deusdalo e seu filho no labirinto por reclamarem do cheque sem fundo.
Ícaracas e Deusdalo, criativos como sempre, construíram um monomotor; colaram penas de morte com cera de ouvido e bateram em retirada daquele labirinto tão reto.
Ícaracas ficou tão contente com o vôo bem sucedido que se inscreveu no Paris-Dakar.
Lá estando...
O sol forte do deserto, devido ao buraco de ozônio, amoleceu a cera de ouvido que prendia as penas de morte e Ícaracas se estatelou no chão. Foi assim:
A urina por medo da aterrissagem é que fez surgir o Mar Tupin-egeu... E a UTI móvel.


Moral da história: Escrever é coisa para loucos ou para quem não tem o que fazer.

 
Autor
Paula Baggio
 
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