Poemas : 

SOB ÀS ESCURAS

 
SOB ÀS ESCURAS
(Davys Sousa, Teresina-PI, 2009)

Estava uma manhã radiosa. Os raios de sol penetravam casa adentro. A luz do dia já penetrava cada fissura, cada fresta mal vedada e espalhava-se em uma nítida luminescência. Havia um mundo tomado de vida e uma suave e convidativa embriaguez de alegria no leve fluxo do movimento da vida em cada som, luz, nítido contraste da realidade e do sonho, em cada ritmo que era musicalizado. Sereno, o céu abria-se pelo azul luzente como uma flor arqueando-se para os primeiros gozos, atraída pela magnitude e mortal beleza. Ao abrir da manhã, pombas brancas voavam, livremente, formando um arco pelo imenso horizonte. Pois, a felicidade, passo a passo, como o sol criava, dava uma vida de sonhos, todos cheios de sol. Foi breve. Exausto, o cansar do dia se retraía como uma melancólica valsa.

A rua ardia tão esplendorosa e volúpica. O céu conservava um clamor de cores vivas cintilando que me penetrava a libidez. Eu estava só. Sozinho. E ainda, o plenilúnio reluzente doirado como as praias ardentes de verão criava um muro de sonhos sensuais pela carne trêmula. Enquanto, pairavam pensamentos absortos e travosos como o doce afável que me era amargo, como a paixão enviesada, mas que havia amor de um amor descuidado, desamado.

A minha existência tão rejuvenescida e amena tanto me denunciava em ser sozinho e de viver sozinho, e tão pouco amar e ser amado, enquanto o amor se sentia e se procurava escrito pelas estrelas ou de promessas feitas como uma deliciosa embriaguez de um amor a primeira vista, e nele morrer bem-aventurado e divino. – Adormeci? Ou é a pálida sombra, o doce fulgor triunfante de uma viagem de orgasmo, enquanto cortinas cetinosas dançavam em transcendente volúpia e sussurravam através de sons emitidos de suas superfícies finas no vento, contraindo e contraindo.

Aquele sangue ardendo trazia o ar profundo roçando o doce, cálido e fresco desejo de minha volúpia, viajando, perdendo a consciência da realidade, e os verdadeiros dias de poeta e homem arqueados em sua sombra, respirando cada fluxo somático de minha percepção e sob o reflexo de mim mesmo.

Na rua vazia de gente, só a brisa cálida passeava sobre meu corpo, e eu, ali, tomado de uma ignota sensação que me fazia vibrar nos cândidos braços de alguém a quem minha mente imaginava, projetava e flutuava em quedas súbitas que se refletiam de dentro para fora. Ninguém na rua, nem sombra nem movimento, apenas, eu, perdido na sombra de um “eu” vazio. Ruas ermas de uma lívida volúpia.

Nuvens brancas acinzentadas cobriam o céu, e vieram, lentamente, ao mesmo tempo, ventos soprando e um aguaceiro, e em seguida, se sentia um cheiro de terra úmida emergindo na superfície como gotas de orvalho rebentando ao meu corpo, banhando-o e escorrendo pela epiderme, enquanto um sedento desejo a possuía, timidamente. E só. No fluxo de movimento da noite. Espasmos momentâneos. Envolvia-me, todo, a serenidade.

Na rua vazia, somente um alguém inutilmente esperando outro alguém. Convidativa e alheia, a noite dissolvia-se, flertando entre sombras e luzes e suspirava como se tivesse compaixão ponderável. À socapa, eu apelava para a minha imaginação, indo para o maravilhoso, o fantástico embriagado em crisálido desejo aflito.

Subitamente, via-me a delirar. Mas ao mais tardar algo me perturbou. Eram dois olhos negros que se moviam pela treva. Eu, confuso, imaginei-me estar de cara com os feitiços da noite. De longe, aquilo me fascinava, tomando em sua silhueta formas. Era uma esfinge? Mesmo ali, contudo, o mistério caído pela noite consumia uma perturbadora sensação que me instigava e um frio delicioso escorria em meu corpo velando aqueles dois olhos negros luzindo naquela intensa escuridão. Seria um ceifeiro que me veio desprender da vida?

Mesmo assim, porém, havia um desejo, uma calma sensação. No fundo do escuro, aqueles dois olhos se aproximavam. Em silêncio.

Em seguida, viam-se mãos tão alvadias a transladar em minha volúpia. Matiz sibilina. Fetiche nas sombras. Do corpo que se movia, sorrateiramente, transfigurava-se uma lépida imagem de um rapaz, de pouca barba, olhos negros e serenos, mãos alvacentas, boca de lábios carnudos um tanto avermelhando e outro rosados, corpo viril, ombros largos e fortes e um rosto angélico e egrégio, e expressão tão doce.

Sentia que algo consumia a nós dois naquela noite. Seria um anfitrião de meu corpo? Vinha de mim, fortemente, um incomensurável desejo e deliciosa embriaguez em minhas mãos de tocá-lo, senti-lo e possuí-lo. Era algo quase surreal que me acontecia. Um desejo descomunal fecundando meus aprazíveis pensamentos pela carne trêmula. Fosse sua boca, o leito da minha! Aos lábios nus, meus, encostado em sua pele e seu cheiro compartilhando ao meu corpo. Estaria ébrio, meu corpo do seu. Meus desejos suscitavam e uma íngreme languidez que me abatia o corpo.

Senti um misticismo sobre a brisa, sobre as sombras imensas agitando-se, sobre os sons dissipando no ar. Poderia ser um sonho dissoluto! Fez-se, repentinamente, um movimento viajando em milhares de impulsos sincrônicos. Suas mãos já pousaram em mim. Mãos viris. Já me sentia assanhado na apoteose da noite. Seus toques leves inflamavam em minha pele, e eu já me sentia com corpo quente e lascivo. Desvarios sensuais oprimidos já estavam em uma liberdade tênue. Voluptuosa e desentendida. Sedutor desejo selvagem me percorria por uma fascinação irresistível almejando atira-se ao peito heleno e os seus contornos tão delicados revelando sua virilidade masculina.

Na plena escuridão da erma rua deixei beijar aqueles lábios que liquefaziam aos meus. De repente, eu sentia uma aspersão de sêmenes fluir em minha edéia intumescida entre a delicada volúpia e o delicioso gozo em erupções ígneas de desejos. Com seu corpo eu me revelava, confessando, despindo toda a minha essência, arfando meu coração, meu peito.


Davys Sousa
(Caine)

 
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