Poemas : 

Brilho, só de luz

 
Eu queria ser uma mente brilhante
Mas só acendo a luz, no escuro
E depois, tudo é um diamante
Apenas eu, não tenho futuro

Eu sonho, dia e noite, eu sonho
Nunca acordo, para os viver
E este sono já é tão velho
Como com quanta idade, se pode morrer

Não se pode dizer que é muito, nem pouco
Apenas se pode dizer que é uma vida
Seja ela a mente de um grande louco
Ou a de uma morte precoce, atingida

A minha, a minha voa por aí
Nunca atinge uma verdade
Entre tanta coisa que vem e vai
O que fica é só saudade

Nesta viagem escrevo para mim
Não tenho a quem mais dar
E mesmo sem nunca atingir o fim
Ninguém me pode parar

Nesta viagem, não me falam inglês
Nem dizem que eu o falo bem
Eles dizem que falo bem o francês
Apenas porque eu falo com eles também

E meto apenas as coisas no lugar
Pois sou eu o forasteiro
E por mais que me possa indignar
Nunca estou, em primeiro

Fico quieto no meu canto
A minha vida é apenas um comboio
E sigo em viagem num vagão solto
E apenas com os pés me apoio

Eu dou passos e tantos em vão
Pois este comboio é indomável
Não tem o pedal do travão
O que o torna imparável

Viver é só viver e pronto
Como a locomotiva leva tudo p’ra frente
E todo o homem é tonto
Se pensa que é diferente

Nós somos a locomotiva
Vamos p’ra frente e levamos tudo atrás
E a única coisa positiva
É a entrada nela de pessoas

Em tantas que saem e não voltam
Outras tantas acabam por voltar
E tantas que nunca lá foram
Mas vieram para ficar

Segue comboio, segue a linha
Já que o fim eu não o vejo
Não tens travão, nem rodinha
E só viver é meu desejo

Não sei se ele anda a carvão
Ou se segue, a todo o vapor
Só sei que bate um coração
E viaja muito, pelo amor

Ó sonhador, sonhador, que eu sou
Cada viagem é um paraíso
Nem de todas as paragens, gostou
Mas nunca perdeu o seu sorriso

Tragam-me água da mais pura
Que não me sacia qualquer sede
A minha sede é só de aventura
E de ser poeta, nada me impede

Tenho em mim, loucura entranhada
E de serenidade, tenho um poço cheio
Embarco na praia já navegada
Sou agora um barco que não tem freio

Ao sabor do vento, quase que flutuo
Mas o meu pensamento esvoaça
E vem sempre a razão, porque o continuo
Pois se o barco pára, é a desgraça

No mar alto sem ver a costa
Perdido no epicentro do oceano
Qualquer bem que se sinta
Tem o mesmo sentir de leviano

Se há coisa impensada é o amor
Por mais que o pensem, nunca é igual
E o seu verdadeiro esplendor
Vai muito mais além, que aquilo que é banal

Ele vem no gesto, ele vem no olhar
No peito aberto e nos abraços
Ele vem sem caminho para andar
E alimenta os desejos, já esquecidos

Dar um beijo é banal, um abraço e um carinho
Mas é sozinho, que ele se pode sentir
E sentir sempre que se tem um caminho
Para apagar a saudade, que ainda está por vir

Amar é querer sem ter
E depois de ter querer mais
Amar nem sempre se pode escrever
Se os sentimentos forem reais

Amar é sentir o primeiro encontro
Já na hora da despedida
Partir sabendo que em teu coração moro
Dando-te um palácio em minha vida

Só serei rei, se tiver rainha
Pois o meu reino mais que amor, nada tem
E os valores são coisa tão minha
E o maior deles é o de poder fazer o bem

A minha riqueza é um precipício
Com safiras, esmeraldas e diamantes lá no fundo
O medo de saltar é um ofício
Ou um modo de estar no mundo

Carrego a me enfeitar, gramas de ouro
Não sei quantas nunca as pesei
Mas não pesa mais este tesouro
Que o fumo dos pregos do caixão, que eu já fumei

E quantas gramas por mim aquecidas
E derretidas na palma da mão
Também estas em cinzas tornadas
E como elas mais coisas, com o vento voarão

Levar a vida de uma forma boa
Ainda não lhe encontrei e resolvi a formula
Há tanta parte que me magoa
Que fica difícil poder terminá-la

Faz-me tédio o que faço o que vivo
Nunca sei se sei viver
Sobreviver é algo instintivo
E eu sobrevivo, com o instinto de não morrer

Sou mente brilhante, sou sonhador
Sou o que quero ser, ou o que sou
O escuro não é assustador
Pois a luz é algo que eu lhe dou

Quantas folhas poder escrever
A minha vontade escreverá
As muitas ou poucas que podes ler
E talvez eu, já não esteja cá

O texto é longo é assim a vida
Farto de ler e de viver e de olhar
Continuar de um ponto de partida
Aonde um dia se vai voltar

E relembrar o esquecido
Como texto que se releu
E no final ter percebido
Que o poema também é teu

 
Autor
JoseMonteiro
 
Texto
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