Manuel Bandeira : Meninos carvoeiros
em 20/07/2008 13:30:00 (42481 leituras)
Manuel Bandeira

Meninos carvoeiros


Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.


Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.


(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)


— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!


—Eh, carvoero!


Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.


Petrópolis, 1921



FONTE: JORNAL DA POESIA


**************************************************


Imprimir este poema Enviar este poema a um amigo Salvar este poema como PDF
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
jessé barbosa de oli
Publicado: 20/07/2008 17:12  Atualizado: 20/07/2008 17:12
Da casa!
Usuário desde: 03/12/2007
Localidade: SALVADOR, Bahia
Mensagens: 334
 Re: Meninos carvoeiros
postei este poema pertencente á
copiosa e prolífica lavra de bandeira
para desmentir os críticos que alegam
que a poesia deste grande poeta
passa ao largo dos flagelos sociais.
quem degustou profundamente a sua poética
sabe ser tal acusação infundada e leviana.

Links patrocinados

Visite também...