Todas as mensagens (Benjamin Pó)


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Livros favoritos - "homem de palavra(s)"
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2/10/2021 14:11
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"homem de palavra(s)", de Ruy Belo

Este livrinho é muito especial para mim.
Descobri-o na estante do meu pai quando era criança e, ao lê-lo, senti algo que nunca tinha experimentado antes.
De tempos a tempos, regresso a estas páginas, na edição velhota da Presença, que prefiro ao grosso volume de "Todos os Poemas".
Regresso por tudo, mas sobretudo para reaprender "o valor do vento" (um dos meus textos preferidos).

Criado em: 4/5/2023 21:21
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Música: Roseaux + The Divine Comedy
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2/10/2021 14:11
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ALINE.LIMA:
Grande descoberta, os Roseaux. Com uma musicalidade muito variada, desde canções à guitarra, a ambientes de cabaret ou até sonoridades próximas do Brasil, a lembrar o chorinho.
Muito obrigado pela partilha.

A minha sugestão para hoje são The Divine Comedy, uma banda que acompanho desde que surgiram em 1989 até hoje.
Neil Hannon dá muita importância às letras, com referências frequentes a clássicos da literatura universal, como nesta "The Booklovers".

Happy the man, and happy he alone
who in all honesty can call today his own;
He who has life and strength enough to say
'Yesterday's dead & gone - I want to live today'




And when we die
Oh, will we be
That disappointed
Or sad
If heaven doesn't exist
What will we have missed
This life is the best we've ever had



Criado em: 2/5/2023 14:20
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Re: A Música que nos inspira
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2/10/2021 14:11
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Li com atenção a mensagem da Janna.
Não pretendia ofender ninguém. O que escrevi, está escrito, para quem quiser julgar o alcance e a gravidade das minhas palavras.
Por mim, aceito o convite de "manter a amizade e o ambiente saudável" e dou por encerrada a questão.

Criado em: 30/4/2023 20:27
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Re: A Música que nos inspira
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2/10/2021 14:11
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Owen Pallett ficou conhecido, sobretudo, pela composição de bandas-sonoras para filmes e jogos, mas tem um lado pop-rock alternativo que vale a pena ouvir, quer pelas melodias, quer pelas letras.

Esta canção, "The Secret Seven", é muito intensa no seu ponto de partida, nas suas imagens e subentendidos, e até na originalidade com que consegue transformar num momento melódico especial -- ao mesmo tempo pungente e jocoso -- o seu próprio número de telefone.

"Let me feed you with a song
I’m out on the street with an open case and a mandolin
And with every coin, I am born again"



Criado em: 30/4/2023 9:28
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Re: A Música (deprimente) que nos inspira
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2/10/2021 14:11
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HC:
Com todo o respeito por quem gosta, as músicas para rebolar é que me deprimem.
A tristeza na voz do Anthony/Anohni não.
A do Benjamin Clementine também não:
"Although it's not clear as the morning dew
Though my preferred ways are not happening
I won't underestimate who I am capable of becoming"

Criado em: 29/4/2023 16:49
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A propósito dos Sigur Rós
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2/10/2021 14:11
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Quando os Sigur Rós surgiram, todos falavam do seu poder de sugerir as paisagens islandesas, de vulcões entre glaciares. Bom para ouvir enquanto se lê Halldór Laxness ou Jón Kalman Stefánsson.

A língua utilizada nas letras dos SR é imaginária, como acontece com os Cocteau Twins ou os Dead Can Dance, entre outras bandas.
A propósito, há tempos, escrevi um poema inspirado nessa ideia, chamado "lontanhas", tentando misturar palavras portuguesas para ver o que acontecia. Não saiu grande coisa :)

Fica aqui uma recordação dos Cocteau Twins, com quase 40 anos (como o tempo passa...)



Criado em: 26/4/2023 8:54
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Re: Comentário a “Ecdise” de MarysSantos
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2/10/2021 14:11
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Apreciei muito os dois comentários. Espero ver o Ricardo por aqui mais vezes ;)
Parabéns à MarySSantos, por este poema em particular e por ser uma constante fonte de inspiração.

Criado em: 19/4/2023 13:15
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Re: Comentário a “Desconversar” de IA-da-alma
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2/10/2021 14:11
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Vamos experimentar com o chat do Bing, da Microsoft.
Será que vamos ser despedidos, irmão?

Questão:
Comente a afirmação: "Tudo fica demasiado triste quando vimos o mundo por de trás de uma lágrima".

Resposta IA:
Essa afirmação parece expressar um sentimento de tristeza profunda e desesperança. Talvez seja uma forma de descrever como a pessoa vê o mundo quando está sofrendo por algum motivo. A tristeza é uma emoção natural e humana, mas pode se tornar um problema quando é muito intensa ou duradoura. Nesse caso, é importante buscar ajuda profissional e apoio emocional. A tristeza pode ter várias causas, como a época do ano, dores físicas, solidão, decepções, perdas, etc¹². Algumas frases podem ajudar a expressar a tristeza, mas também é preciso ter esperança de que tudo vai melhorar¹. Afinal, como disse Jean de La Fontaine: "Nas asas do tempo, a tristeza voa..."¹.

Origem: conversação com o Bing, 15/04/2023
(1) 72 frases tristes para status para expressar suas emoções 😢💔. https://www.pensador.com/frases_triste ... a_expressar_suas_emocoes/ Acedido 15/04/2023.
(2) Tristeza sem motivo: as causas mais comuns - Psicologia-Online. https://br.psicologia-online.com/trist ... em-motivo-causas-181.html Acedido 15/04/2023.
(3) Mensagens de Tristeza - Mundo das Mensagens. https://www.mundodasmensagens.com/mensagens-tristeza/ Acedido 15/04/2023.

Criado em: 15/4/2023 14:04
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Comentário a "A VERDES", de RicardoC
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2/10/2021 14:11
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Link para o texto original

"A VERDES", de RicardoC

E se enfim vós, Senhora, o nobre perfil
Houvésseis co'a mirada aborrecida,
Talvez volvesse aos olhos outra vida
A verdes na verdade um outro abril...

Quando o amor ao talento dava ardil
E com versos louvei-vos tão garrida!
Talvez volvesse então, enternecida,
A verdes olhos a graça feminil.

Assim, com vossos olhos no passado
-- A carta ainda à mão sobre o regaço... --
Imaginar-vos-ia, enamorado,

Quando a luz incidindo pelo braço
Beijasse os vossos lábios sem pecado
No beijo que mandei por forte traço.


-----------------------------

Percurso de leitura nº 16 (se quiser conhecer os anteriores, fica aqui o link)

RicardoC é um dos poetas do Luso com uma produção mais constante, quer em quantidade, quer em qualidade. Com um nível técnico elevadíssimo, pode não ser devidamente apreciado e valorizado por quem não possuir um certo conhecimento sobre teoria de versificação.
A propósito, se quiserem saber mais sobre este tema, um dos textos mais interessantes que li a este respeito foi sugerido precisamente por um post aqui do Luso, no fórum "Teoria Literária": um "Manualzinho de Versificação", escrito por Matheus Mavericco, e que se pode encontrar neste link.

Encontro, na obra de RicardoC, algo semelhante ao que apresentei no meu último percurso de leitura, dedicado a um poema de maria.ana: mais do que inovação, há aqui a procura de equilíbrios, de uma perfeição na expressão e no seu conteúdo, prescindindo de excentricidades que poderiam prejudicar a harmonia da criação.
Parece haver, nos textos de ambos os autores, algo semelhante à "imitatio", um conceito artístico que vigorou praticamente até ao Romantismo, que contrapõe a arte ao artifício.
O pintor Nicolas Poussin define muito bem esta ideia: "A novidade em pintura não consiste primordialmente em um novo assunto, mas em boa e nova disposição e expressão, e portanto o assunto, de comum e velho, passa a singular e novo."

Assim sendo, RicardoC utiliza várias formas tradicionais — a oitava, o cordel, a esparsa —, mas o soneto é, sem dúvida, a sua forma preferida. Através dele, o sujeito poético aborda vários temas, como o amor (com os seus momentos de deslumbramento, sensualidade, ternura e desilusão), a viagem (sobretudo tendo como cenário a natureza), a essência da palavra e da poesia, trivialidades diárias, apontamentos satíricos etc.
No geral, os poemas demonstram uma vasta cultura literária e não só — a par e passo, por exemplo, aparecem curiosidades e referências históricas especialmente relacionadas com o Brasil. Essa cultura também se nota no registo linguístico, em que as expressões mais eruditas acompanham um léxico popular, o que torna a leitura particularmente enriquecedora e estimulante.

No seu blogue pessoal (cujo endereço poderão encontrar na página do perfil do autor), RicardoC diz: "Espero contar com o comentário de leitores atentos e gente com sensibilidade poética por acreditar que o poema acabado não precisa ser o fim de uma experiência, sim o início de um diálogo." Espero que este texto corresponda a esse desiderato.

Escolhi o poema "A VERDES", cujo título põe em destaque um jogo de palavras existente no texto: no quarto verso é uma forma do verbo "ver", enquanto no oitavo se refere à cor. Ainda poderíamos acrescentar um terceiro significado que poderia surgir na mente de alguém que escutasse o poema sem ter à frente a sua versão gráfica: a forma verbal "haverdes", que permitiria uma outra interpretação da primeira quadra. Este é apenas um dos recursos estilísticos de que o poeta se socorre para criar um ambiente de recorte clássico, que se coaduna perfeitamente com a forma do soneto, que segue o modelo italiano, com decassílabos maioritariamente heroicos.

O motivo escolhido é um retrato feminino de contornos petrarquistas: uma mulher que irradia dignidade, de olhos claros, vistosa, elegante e moralmente imaculada.
Esta figura angélica e encantatória contrasta com a humildade do "eu", um vassalo sujeito às arbitrariedades do amor, que lhe dedica poemas, reconhecendo-se indigno do fulgor quase sagrado da amada.
Ela encontra-se numa circunstância trivial — a leitura da carta do seu admirador —, uma situação tantas vezes retratada nas artes plásticas, por artistas como Vermeer, Raoux, Winterhalter, Alden Weir e até o português Alfredo Keil, de cujas pinturas apresento em baixo alguns pormenores (clicar na imagem para aumentar).

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O soneto termina com o sujeito poético sonhando que o beijo desajeitado com que se despediu na carta se converta em luz e que atinja a amada, por ser esta a única forma suficientemente digna de contacto com alguém que existe num outro plano, quase divino.
Parece haver aqui uma idealização platónica do amor que encontramos no já referido Petrarca, mas também em Camões, que arriscaria a dizer que será um dos autores de cabeceira de RicardoC.
O tom arcaizante do vocabulário e das construções, muitas vezes em anástrofe, contribuem para um ritmo e uma musicalidade perfeitos, conferindo uma graciosidade intemporal ao soneto e, por isso, parece-me um bom ponto de partida para a exploração de outros poemas deste autor.

Criado em: 8/4/2023 18:58
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Comentário a "Imprevistas madrugadas", de maria.ana
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2/10/2021 14:11
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Link para o texto original

"Imprevistas madrugadas", de maria.ana

E talvez hoje me possas dizer

da passagem de uma luz generosa

em que te aceitas vivo e te confundes

com as árvores da manhã.

Caíram sobre o silêncio do rio

imprevistas madrugadas de primavera.

E tudo muda, o vento, o mar,

as terras alagadas. És tu a memória

do mundo, a pele das casas caiadas.

És tu o tempo do teu corpo, a raiz da tua

estrada.

És tu a folha branca e a palavra clara

em que refazes o chão onde tudo se aproxima

dos fascínios adiados dos teus olhos.


-----------------------------

Percurso de leitura nº 15 (se quiser conhecer os anteriores, fica aqui o link)

Não sendo crente, fascina-me todavia o imaginário judaico-cristão. A educação religiosa que tive moldou fortemente a imagem que tenho do mundo e de mim mesmo, apesar de os seus mitos não despertarem em mim aquilo a que chamam "". Contudo, experimento a sua beleza e o seu mistério, o assombro e a solenidade da sua linguagem.

Há uma imagem do Evangelho de que gosto particularmente e que se relaciona com o período do ano que está a decorrer. Trata-se da "túnica sem costura" de Cristo, que os soldados deitaram à sorte enquanto o crucificado agonizava.

Trata-se de uma metáfora de perfeição e de unidade que, por exemplo, Sophia M. B. Andresen traz para a sua "Arte Poética II", falando do vínculo, ou melhor, da aliança que existe entre o universo, as palavras e o "eu". A poesia, segundo ela, não é uma explicação 'do' universo, mas 'com' o universo, em que tudo se conjuga para trazer equilíbrios à criação artística: equilíbrios de palavras e equilíbrios de momentos.

Esta reflexão vem a propósito do poema "Imprevistas madrugadas", de maria.ana, uma voz que, mais do que a surpresa e a inovação, procura esses mesmos equilíbrios, essa mesma aliança que une um "eu" sensível e vulnerável a uma realidade frágil e fugidia, procurando recuperar "todas as letras que / por esses dias / já me tinham sido confiscadas" — como diz no, também belíssimo, "Por esses dias".

Poemas como estes podem passar discretamente, parecendo repetir uma e outra vez as mesmas imagens, a mesma tranquilidade, a mesma calma de uma poesia com tradição de séculos, das albas trovadorescas e do "locus amoenus" camoniano à placidez de Caeiro e ao paganismo de Reis.

No meu caso, enquanto leitor que aprecia mais o sobressalto e a provocação poéticos, nem sempre tenho a disposição adequada para poemas como este. Mas há alturas (como hoje) em que esta é a leitura que mais aprecio.

Quando se fala nos quatro elementos primordiais — água, terra, ar e fogo — talvez se devesse acrescentar um outro: a luz. É este o elemento que dá forma a este poema, trazendo para ele toda a sua simbologia ancestral: as ideias de clareza, de nitidez, de tomada de consciência, da revelação.

O poema começa com os primeiros raios da madrugada, um momento que tem tanto de banal como de surpreendente. Algo que todos conhecemos e partilhamos, mas que, curiosamente, raramente presenciamos. Algo que é previsível e simultaneamente assombroso, uma dádiva que um crente qualificaria como "generosa", para usar o adjetivo do poema.

Essa luz não é permanente, mas uma "passagem", o momento fugidio comungado por um "tu" com as "árvores", esses gigantes do "silêncio", que vivem as mais básicas regras do Universo, ensinando-nos tudo o que há para saber.
Aceitar os ciclos da vida, as suas cores, os seus sons, a sua crueza ("E tudo muda, o vento, o mar, / as terras alagadas").
Vestir as memórias como "a pele das casas caiadas", desvelar "o tempo do teu corpo", com o passado como única realidade, perante um presente e um futuro que seriam meros "fascínios adiados dos teus olhos".
Restaurar a realidade pela linguagem da vida, seja pelas palavras-palavras, seja pelas palavras-gestos ou pelas palavras-silêncios.

Quem é esse "tu" a quem se dirige o "eu"?
Uma verdadeira segunda pessoa, que nos desperta para a ordem do mundo, pelo amor, pela admiração, pela mensagem que nos destina?
O próprio "eu" fragmentado, que se contempla e procura, no mais recôndito de si mesmo, o sentido da "palavra clara", ou melhor dizendo, a costura invisível dessa túnica que é a "folha branca"?
Ou estará a falar de nós, leitores, convidados a parar e, por um momento, abandonarmo-nos à contemplação de um segredo que sempre esteve, mudo, à frente dos nossos olhos?

Criado em: 4/4/2023 11:52
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