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Pois, já se viu que temos de fazer um clube de leitura do Calvino :)
O link para o programa na RTP Play é o seguinte:
https://www.rtp.pt/play/p12474/seis-propostas-para-este-milenio

Tive de ler as Aventuras de João Sem Medo e fui agradavelmente surpreendido.
Sobretudo porque muitas vezes nos repetimos, e as nossas viagens, se forem de autoconhecimento, muitas vezes nos trazem de volta a casa.
Os choraquelogobebenses ganharam um novo cidadão com alguém que lá nasceu.

Uma escrita audaz, criativa a muitos níveis que me deixou um sorriso.

Obrigado pela divulgação.

A minha filha adolescente decidiu desde cedo, e para minha profunda tristeza, que não gosta, nem precisa de ler.
Admira-se, contudo, de achar a disciplina de Português de 11º ano de extrema dificuldade.

Teve de fazer a leitura de um dos livros do plano (ou instruída pela professora) para o qual tinha de apresentar um trabalho escrito.

E assim começou a minha relação com os "Capitães da Areia".
Ainda não tinha acabado e a miúda já me dizia que tinha de o ler.
Sem ligar muito, fui esperando que ela acabasse e fazendo outras leituras, ou vendo televisão.

Assim que acabou, disse-me que uma das propostas da leitura era escolher uma personagem e defender essa escolha.
Disse-mo, e antecipando o que iria responder, falou-me num "Sem Pernas" que a tinha comovido muito.
Estranhei que não tivesse sabotado a tarefa e estar tão fluente em relação a uma.
Sem me aprofundar em detalhes por ela dado, ainda me deu para procrastinar.

Não quero fazer análise a um clássico dum autor tão renomado, hão especialistas com muito mais qualidade para isso.

Mas não é apenas a descrição fidedigna duma realidade ainda existente.
É intensamente reflexivo.
Um hino aos fracos e à fraqueza, ao "melhor molho do mundo", ao engenho e à necessidade que o aguça.
Grandes discursões espirituais e religiosas.
Uma pontinha de esperança, como no caso de "Pedro Bala" e de desespero como foi "Sem Pernas".

Tão bem escrito.
Como uma telenovela em que choramos no fim, porque acabou...

a não leitura dos nossos jovens é assustador, pelo menos da forma "tradicional", não sabem o que é folhear, sentir o cheiro único de um livro a desfolhar. é pena.
resta.nos aprender com eles. quiça possamos contagiar.

vá, confesso.
meu filho leu a bíblia. já eu, nunca a li de fio a pavio.

nada está perdido

atenciosamente
HC

Ora livros favoritos...Tantos!! Nenhum de poesia. Curiosamente, ou não, não leio poesia. E só ficção, se puder. E, para minha sorte, posso escolher quase sempre.
Li atrás o que escreveram a propósito do Ítalo Calvino.
O primeiro que tentei ler dele foi precisamente o primeiro que ele escreveu: "O atalho dos ninhos de aranha". Era ainda muito jovem, mas já lia desde tenra idade. Detestei o livro; mas como os livros rareavam e tudo o que apanhava lia, emprestaram-me "Se numa noite de inverno, um viajante" e eu li-o. E o sentimento foi o mesmo. Não gostei nada! Desde então, nunca mais peguei num livro deste autor, embora saiba que gente que admiro e que tem gostos similares, o tenha em grande conta, como grande escritor, e na obra "As cidades invisíveis" a sua magna.
E, já agora, refiro que sou mais de autores do que de livros. Acontece ter um livro isolado de um autor e de que gostei muito. Mas o mais comum é mesmo ter vários do mesmo autor. E, por essa razão, muitas vezes, quando converso sobre livros, não os desligo dos seus autores (quase como no cinema, a relação filme / realizador).

Começo pelos norte-americanos. Uma escritora: Carson McCullers. Não escreveu muitas obras, mas três delas são monumentais! A começar pelo "Coração Solitário Caçador", tradução do bem mais bonito "The Heart is a Lonely Hunter". Um livro profundo, muito bem escrito, de uma sensibilidade anormal, com palavras férricas que se colam à nossa pele para se entranhar em nós. Carson escreveu este livro aos 23 anos. Incrível.
Tem um livro de Contos extraordinário e uma novela para lá de sublime: "A Balada do Café Triste" (até os nomes das obras são incríveis).
Mas sobre o "The Heart is a Lonely Hunter" (considerado pela Time um dos 100 melhores livros do séc. XX), que li depois da novela, citaria uma amiga minha que dizia, sobre os bons livros, que deles levava bofetadas na cara. Eu levei-as e posso dizer-vos que todo o meu corpo ficou ferido no final.
Um ambiente carregado do sul esclavagista dos EUA, quase aflitivo. Triste!

Deixo-vos com um excerto do livro, aconselhando-o vivamente!

“O médico esperou que a fúria terrível e sombria se manifestasse, qual animal a emergir da escuridão. Porém, tal não aconteceu. As suas entranhas pareciam carregadas de chumbo e ele avançava lentamente, encostando-se à vedação e aos edifícios frios e molhados que lhe apareciam pelo caminho. Sentiu-se descer às profundezas até já não existir mais abismo. Tocou no fundo sólido do desespero e aí descansou” (p. 254).

Boas leituras.
Abraço Maya.

Esqueci de dizer que a edição que tenho é da Editorial Presença.

Desisti de tentar colar aqui a imagem.

Abraço Maya!

olá AliceMaya

de certa forma é curioso, sim, não leres poesia. isso quer dizer que nem aqui lês? hummm??!!

Itàlo calvino, foi sugestão de leitura , proposta pelo benjamin, não tinha lido nada dele, aliás , desconhecia da sua existência, embora a leveza seja um dos meus pilares para o antes e depois dos meus milénios de existencia ou existenciais. (rsrsrs)

tal como tu, sou mais de autores que de livros. como aqui já tenho afirmado, " não é um poema que faz poesia, ou o autor", no entanto, quem quer, por algum lado entra... música, filmes, teatro...whatever, o saber e a arte não ocupam lugar.

obrigada mesmo pela tua sugestão. sabes? quando não tenho nada para ler fico mal humorada, desorientada, como , sem O2 e este tópico é precioso.

atenciosamente
HC

Olá, HC.

Sabia que ia causar estranheza. Não leio livros de poesia porque não me oferecem aquilo que os romances me dão. Uma continuidade, uma outra vida paralela à minha, etc.
Claro que aqui leio 😊. Ou não faria sentido! E conheço alguns poemas, evidentemente. Mas, sim, é estranho (aliás, eu própria sou um pouco estranha). Gosto muito de a escrever. E descobri aqui que gosto também de a comentar.
Sete dias passados desde que aqui estou e aprendi imenso convosco. Muito obrigada!

Em relação ao Calvino, não queria ofender ninguém. Às vezes, entusiasmo-me e parece que estou a “desdenhar”. Não era, de todo, o caso. É só porque também é curioso porque é um escritor unânime para quem gosta e conhece literatura.

Tal como para ti, este tópico é-me muito precioso. Nem imagino, agora, o que seria se não tivesse nada para ler. Há décadas que leio diaramente.
E, para mim, os livros são dos objetos mais preciosos que tenho.

Terei muito gosto em sugerir mais.

Muito obrigada eu. A sério 😊

Até breve!
Abraço Maya.

A HC falava há dias dos "nossos velhos". Um tema que me é muito caro.
Trago-vos o livro que estou agora a ler e que foi muito elogiado.
É autobiográfico, referente ao último ano de vida da mãe de Lídia Jorge.

A noção da proximidade da morte é assustadora. Deve ser! Não sei como as pessoas conseguem lidar com isso. Ora, lidam...

Para quem tem medo de livros grandes, não dá.
Lídia Jorge é uma escritora portuguesa muito talentosa.
Estou a acabar...

Abraço Maya!

Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, Companhia das Letras (2016)

Li este livro há uns anos. Fiquei siderada.

Tinha visto uma crítica e andei à procura dele uns tempos. Não o encontrava em lado nenhum. Até que acabei por vê-lo numa Feira do Livro. Quando fui à caixa pagar, o senhor que lá estava disse-me que este era o melhor livro que ele tinha em todo o stand. Andei pela Feira com o livro na mão e mais do que uma pessoa o apontava. "Esse livro é qualquer coisa".
E é. "Qualquer coisa".
Raduan Nassar é brasileiro e recebeu o Prémio Camões em 2016. Este seu "Lavoura Arcaica" foi o seu primeiro livro e é de 1975.
Intenso, denso, perturbador. É a história de um rapaz do interior, pai severo e amor incestuoso e culpado pela irmã.
Nassar impregna-nos de culpa, de medo.
É decerto a sua magna obra e um tesouro da literatura brasileira e mundial.
Li também "Um Copo de Cólera" e é magnífico. Mas de outra índole (novela), com outro tipo de força, diferente.
Lavoura Arcaica seria, sem dúvida, um dos livros que me faria falta se o não tivesse, e que levaria comigo se daqui me fosse.

Boas leituras!
Maya.