Num punhado
De palavras
Deitam-se letras
Ao poema
Descrevendo o indizível
Das coisas
Da alma
Em tormenta...

Houvesse
Quem as entendesse
E a poesia
Seria perfeita!

Era crepúsculo
O vento quase ventania
Passeava no bosque
Dos sonhos mágicos

Um deles verborrágico
Astuto lhe sussurra:

Sabes que o silêncio é ouro
O ruído é prata e o grito é ferro

Feches os lábios da tempestade
Que Zéfiro toque a lira e ouças
Deites no colo da noite silenciosa

Sem som a aurora anuncia
A ascensão do maravilhoso
Profícuo e majestoso dia

Instante encantado da brisa...

iluminada por todos
em arritmia perfeita
é a poesia
e quem a sabe
ou pressente
a eleita

entenda-se que
no renascimento
de cada palavra
nasce o ritmo
do poema

por todas as formas
enigmáticas
por todas as figuras
carismáticas
rejubilemos então
por quanto
o tempo da Ode…


Abraço a todos

(genética da poética)



em cada poema
renasço
em cada lexema
me faço
em cada semema
também
me retraço

e sou pássaro
voo livre
no ritmo do vento
e no contratempo
eu solto o chilreio
no branco das nuvens
eu me desenfreio

será isto sintoma de um devaneio
ou musa em passeio num falso genoma

até que o dia
seja um novo dia
tornadas são as noites
e com elas
o desdém de outrora
de outros dias

uns quantos loucos
vagabundos das ruas
a preencher
os buracos antigos
da noite

as horas passadas
as palavras cansadas
de tantos riscos tortos
nas paredes
os olhos fincados
no tecto
e o canto da cotovia
lá fora

todo poema ama a letra
afaga cada redondo, beija suas hastes
desavergonhadamente chupa a sílaba tônica que cheira a hiato
movimentos caligráficos eriçam os pelos das frases
que gritam versos
...ritos verbais para fazer poesia.

A folha branca
Que se insinua
Luxuriosa
E sem pudor
Como quem se oferece
Nua

O poeta
Que a deseja
Com ardor
A consumir-se
De impotências
Refreando vontades

O jogo continua
Em perigos de combustão
De iminências

Ah!... Sedução
A quanto obrigas!

(vaga mente e voo sobre beiral)


sou um vagabundo
de mim
vagabundeio me
pois
sim
chamo lhe poesia
mas há quem diga
que viu a cotovia
e a ouviu
padejando versos
sobre o vale

e eu sou um pardal

o voo mais incauto
aquieta o lado
obscuro da noite

flutua por entre
a neblina
somente
um enigma
capaz de o
levar por aí
colhendo o ar
denso
mas propenso
a novos espaços

há quem o saiba
pitoresco
por transformar
o preto
e o branco
em frescos
eclécticos
sem os tons
celestiais

chegou o fim da noite
e há um dia para começar
longe dos olhares indiscretos

a madrugada
é tardia
e fria
e há quem diga
que viu
e sentiu
o desfalecer
das novas folhas

mesclas cores
têm os jardins
de pedra

que é do tempo
dos vendavais
atafulhado nos canaviais?

(longe vão os tempos
das searas)