Contos : 

O aviso de Clarice

 
Era manhã de sol, bonita e incentivadora, mas não para Clarice que a muito não reparava na beleza dos dias, ainda dormia, na noite anterior havia exagerado nos entorpecentes se encontrava anestesiada, tinha que procurar um novo lugar para ficar estava preocupada até, mas o corpo já não correspondia. O contrato com este apartamento esta vencido e Clarice ainda devia alguns meses de aluguel, tinha uma vida corrida em meio de mentiras, dividas a traficantes e coisas do tipo. Não se preocupava em buscar em trabalho fixo, era jovem e muito bonita pra isso, o que queria trocava por “favores sexuais” e assim caminhava.
Foi quando recebeu o telefonema do Sr. Abreu, um velho imobiliário, Clarice atendeu ainda tonta, quase se arrastando, prestou atenção em tudo que ele disse, anotou o endereço cheirou duas carreiras de cocaína pra acordar e com certa esperança foi ao seu encontro. Avistou o Sr. Abreu de longe, um senhor robusto, cabelos brancos e que usava um óculos gigantesco que só não cobria seu rosto inteiro porque este era muito largo, com uma barba mau feita que lhe dava um aspecto de desleixo e mistério ao mesmo tempo, e lá vinha ele atravessando a avenida, Clarice era uma menina pequena, tinha traços finos, cabelos negros a altura dos ombros que realçavam ainda mais seus olhos igualmente negros, Sr. Abreu lhe cumprimentou e foi logo adiantando o assunto, entregou o molho de chaves da casa e disse que não poderia realizar a visita com ela pois, tinha muitos afazeres pr’quele dia e como já estava acostumado com sua presença na imobiliária não problema algum em deixá-la ir sozinha, ressaltou ainda que havia recebido a ficha daquela casa no final do expediente do dia anterior e que ainda não tinha tido tempo de vê-la pessoalmente, mas que segundo o proprietário ela se enquadrava no que procurava. Clarice agradeceu e seguiu sozinha para conferir a tal casa. Chegando ao destino andando pela rua que designava o papel escrito de forma quase ilegível pelo Sr. Abreu, foi observando tudo que lhe cabia aos olhos, a vizinhança, a rua arborizada e as casas em sua maioria muito antigas, ficando entusiasmada, sentia que finalmente encontrara um decente lugar para morar. Agora era só não dar bandeira de nada. Entretida com o seu redor percebeu que havia passado do número indicado, voltou alguns metros e deparou-se com uma casa branca simples de muro baixo o que a fez lembrar da casa de seus avós marejando seus olhos, pois a muito não os via, conseqüência de sua escolha de vida. A casa parecia ser pequena, exatamente do jeito que queria, abriu o portão destravando uma pequena tranca e adentrou quintal a fora o qual se mantinha limpo apesar das várias árvores pela rua e em sua possível futura calçada, o que achou ótimo sinal de que o proprietário era zeloso. Na busca da chave certa para abrir a porta o molho caiu de suas mãos, ao se abaixar para apanhá-lo sentiu como se alguém tivesse parado atrás dela, ainda abaixada olhou para trás e nada viu e não deu importância a nenhuma a este fato, levantou-se e continuou a testar as chaves até encontrar a que servisse enfim, deu dois passos para dentro da casa e se viu numa sala espaçosa, espaçosa demais para quem a vê apenas do lado de fora, era bem ventilada por uma grande janela que dava vista para a rua a que também pareceu menor do lado de fora. Estava a caminho da próxima dependência quando um forte vento fechou a porta principal a sua costa, voltou-se assustada para a porta e quando retornou seus olhos a passagem do outro cômodo deparou-se com um imenso abismo e duas gigantescas escadas uma a sua direita empoeirada, cheia de teias e com degraus de madeira quase toda podre e outra a sua esquerda limpa e iluminada com degraus de madeira vistosa que lhe parecia muito mais segura, ambas tinham o mesmo comprimento e a mesma nivelação, Clarice apavorada segue pela escada da esquerda, mas não suporta a aflição que esta sentindo e desmaia. Ao recobrar os sentidos ainda sonolenta lembra da visão que teve com os olhos ainda fechados, prevê que tudo não passou de um sonho, esfregou os olhos como a querer despertar e viu que se encontrava num lugar que não era o seu quarto. Inexplicavelmente sem medo algum, Clarice levanta e olha aquele estranho lugar, era uma espécie de igreja, templo com várias fileiras de bancos com uma arquitetura indescritível, uma iluminação avermelhada como a de um por do sol entrava pelas várias vidraças com imagens horríveis de supostos demônios, todos a apontar para ela. Clarice foi andando em direção a um “altar” por um extenso corredor e a cada banco que passava encontrava um cadáver, esses era de negros escravos, imagem que a deixou enojada afirmando seu ódio por esta raça, de crianças lindas crianças muito bem vestidas, mas todas imundas e defeituosas de alguma forma o que fez Clarice agradecer todos os abortos que praticou, quando chegou ao fim do corredor a frente das fileiras de bancos foi caminhado para o outro extremo desse estranho lugar, viu que os outros bancos estavam ocupados por mulheres muitas mulheres vestidas de noiva. Sem esboçar nenhuma comoção ou medo, apreensão ou curiosidade talvez, dirigiu-se ao centro do lugar ficando de frente a um mezanino com vários objetos como castiçais e um grande livro aberto ao meio, atrás deste mezanino a figura de um animal com chifres enormes em forma de caracol e olhos vermelhos como rubi estampado na parede. Clarice olhava tudo aquilo como se estivesse hipnotizada, reparou que suas vestes mudaram, estava igualmente vestida de noiva em uma renda branca com rosas negras espalhadas sutilmente por todo o vestido que marcavam muito bem as curvas de seu corpo, se sentia incrivelmente atraente naqueles trajes e se admirava como se não tivesse nada ao seu redor. Sentiu seus ombros acalentados por calorosos afagos, Clarice virou-se e deparou-se com o homem mais bonito que havia visto na vida, este era alto, esbelto, cabelos negros e os olhos azuis mais inebriantes que poderiam existir, o misterioso homem lhe sorria um sorriso branco e confiante e olhava-a com um desejo descomunal, entregaram-se a um ardente beijo, Clarice foi tomada por voluptuosos arrepios, olhou novamente para aquele homem que lhe entregou uma rosa, uma negra rosa. Interrompidos por um estrondoso barulho Clarice volta a si, escutando uma voz que gritava:
_ Ação de despejo, acorde! Sabemos que esta aí!
Percebe que estava sonhando, e enfurecida pensa: _ Será que nem no inferno eu posso me divertir em paz? Levanta-se para abrir a maldita porta e vê cair uma única pétala da negra rosa que ganhara.

Senhora Morrison
21/04/2007
<br />Era manhã de sol, bonita e incentivadora, mas não para Clarice que a muito não reparava na beleza dos dias, ainda dormia, na noite anterior havia exagerado nos entorpecentes se encontrava anestesiada, tinha que procurar um novo lugar para ficar estava preocupada até, mas o corpo já não correspondia. O contrato com este apartamento esta vencido e Clarice ainda devia alguns meses de aluguel, tinha uma vida corrida em meio de mentiras, dividas a traficantes e coisas do tipo. Não se preocupava em buscar em trabalho fixo, era jovem e muito bonita pra isso, o que queria trocava por “favores sexuais” e assim caminhava.
Foi quando recebeu o telefonema do Sr. Abreu, um velho imobiliário, Clarice atendeu ainda tonta, quase se arrastando, prestou atenção em tudo que ele disse, anotou o endereço cheirou duas carreiras de cocaína pra acordar e com certa esperança foi ao seu encontro. Avistou o Sr. Abreu de longe, um senhor robusto, cabelos brancos e que usava um óculos gigantesco que só não cobria seu rosto inteiro porque este era muito largo, com uma barba mau feita que lhe dava um aspecto de desleixo e mistério ao mesmo tempo, e lá vinha ele atravessando a avenida, Clarice era uma menina pequena, tinha traços finos, cabelos negros a altura dos ombros que realçavam ainda mais seus olhos igualmente negros, Sr. Abreu lhe cumprimentou e foi logo adiantando o assunto, entregou o molho de chaves da casa e disse que não poderia realizar a visita com ela pois, tinha muitos afazeres pr’quele dia e como já estava acostumado com sua presença na imobiliária não problema algum em deixá-la ir sozinha, ressaltou ainda que havia recebido a ficha daquela casa no final do expediente do dia anterior e que ainda não tinha tido tempo de vê-la pessoalmente, mas que segundo o proprietário ela se enquadrava no que procurava. Clarice agradeceu e seguiu sozinha para conferir a tal casa. Chegando ao destino andando pela rua que designava o papel escrito de forma quase ilegível pelo Sr. Abreu, foi observando tudo que lhe cabia aos olhos, a vizinhança, a rua arborizada e as casas em sua maioria muito antigas, ficando entusiasmada, sentia que finalmente encontrara um decente lugar para morar. Agora era só não dar bandeira de nada. Entretida com o seu redor percebeu que havia passado do número indicado, voltou alguns metros e deparou-se com uma casa branca simples de muro baixo o que a fez lembrar da casa de seus avós marejando seus olhos, pois a muito não os via, conseqüência de sua escolha de vida. A casa parecia ser pequena, exatamente do jeito que queria, abriu o portão destravando uma pequena tranca e adentrou quintal a fora o qual se mantinha limpo apesar das várias árvores pela rua e em sua possível futura calçada, o que achou ótimo sinal de que o proprietário era zeloso. Na busca da chave certa para abrir a porta o molho caiu de suas mãos, ao se abaixar para apanhá-lo sentiu como se alguém tivesse parado atrás dela, ainda abaixada olhou para trás e nada viu e não deu importância a nenhuma a este fato, levantou-se e continuou a testar as chaves até encontrar a que servisse enfim, deu dois passos para dentro da casa e se viu numa sala espaçosa, espaçosa demais para quem a vê apenas do lado de fora, era bem ventilada por uma grande janela que dava vista para a rua a que também pareceu menor do lado de fora. Estava a caminho da próxima dependência quando um forte vento fechou a porta principal a sua costa, voltou-se assustada para a porta e quando retornou seus olhos a passagem do outro cômodo deparou-se com um imenso abismo e duas gigantescas escadas uma a sua direita empoeirada, cheia de teias e com degraus de madeira quase toda podre e outra a sua esquerda limpa e iluminada com degraus de madeira vistosa que lhe parecia muito mais segura, ambas tinham o mesmo comprimento e a mesma nivelação, Clarice apavorada segue pela escada da esquerda, mas não suporta a aflição que esta sentindo e desmaia. Ao recobrar os sentidos ainda sonolenta lembra da visão que teve com os olhos ainda fechados, prevê que tudo não passou de um sonho, esfregou os olhos como a querer despertar e viu que se encontrava num lugar que não era o seu quarto. Inexplicavelmente sem medo algum, Clarice levanta e olha aquele estranho lugar, era uma espécie de igreja, templo com várias fileiras de bancos com uma arquitetura indescritível, uma iluminação avermelhada como a de um por do sol entrava pelas várias vidraças com imagens horríveis de supostos demônios, todos a apontar para ela. Clarice foi andando em direção a um “altar” por um extenso corredor e a cada banco que passava encontrava um cadáver, esses era de negros escravos, imagem que a deixou enojada afirmando seu ódio por esta raça, de crianças lindas crianças muito bem vestidas, mas todas imundas e defeituosas de alguma forma o que fez Clarice agradecer todos os abortos que praticou, quando chegou ao fim do corredor a frente das fileiras de bancos foi caminhado para o outro extremo desse estranho lugar, viu que os outros bancos estavam ocupados por mulheres muitas mulheres vestidas de noiva. Sem esboçar nenhuma comoção ou medo, apreensão ou curiosidade talvez, dirigiu-se ao centro do lugar ficando de frente a um mezanino com vários objetos como castiçais e um grande livro aberto ao meio, atrás deste mezanino a figura de um animal com chifres enormes em forma de caracol e olhos vermelhos como rubi estampado na parede. Clarice olhava tudo aquilo como se estivesse hipnotizada, reparou que suas vestes mudaram, estava igualmente vestida de noiva em uma renda branca com rosas negras espalhadas sutilmente por todo o vestido que marcavam muito bem as curvas de seu corpo, se sentia incrivelmente atraente naqueles trajes e se admirava como se não tivesse nada ao seu redor. Sentiu seus ombros acalentados por calorosos afagos, Clarice virou-se e deparou-se com o homem mais bonito que havia visto na vida, este era alto, esbelto, cabelos negros e os olhos azuis mais inebriantes que poderiam existir, o misterioso homem lhe sorria um sorriso branco e confiante e olhava-a com um desejo descomunal, entregaram-se a um ardente beijo, Clarice foi tomada por voluptuosos arrepios, olhou novamente para aquele homem que lhe entregou uma rosa, uma negra rosa. Interrompidos por um estrondoso barulho Clarice volta a si, escutando uma voz que gritava:
_ Ação de despejo, acorde! Sabemos que esta aí!
Percebe que estava sonhando, e enfurecida pensa: _ Será que nem no inferno eu posso me divertir em paz? Levanta-se para abrir a maldita porta e vê cair uma única pétala da negra rosa que ganhara.

Senhora Morrison
21/04/2007

 
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SenhoraMorrison
 
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