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Se eu não me cansasse seria infeliz

 
Se não me cansassem as ideias obscuras, talvez me cansassem os escritos e os ditos banais, e pior que isso entaipados em arabescos raivosos disfarçados de boas intenções, em noticia, ou mesmo literatura.
Se não me cansassem as frases pré feitas por um qualquer experto futebolista que o padeiro onde compro o pão utiliza, sempre que um dos grandes ganha ou perde, certamente me cansaria o snobismo desse mesmo futebolista. Mas ao padeiro desculpo, afinal se não fosse ele não comia pão. Afinal é somente mais um padeiro…
Se não me cansasse a gritaria no rossio em dia de feira, acabariam por me cansar as cores garridas das vestes das vendedeiras, tentando imitar a heroína da novela das seis, não me cansam certamente as mãos calejadas das vendedeiras e o seu perfume barato, cansa-me a imagem perfeita da dita heroína, e que os médias me impingem a qualquer preço.
Cansa-me o politico carreirista que se esquece de bater com o punho na mesa sempre que detecta a fraude de um outro qualquer. Cansa-me um país pobre pavoneando-se de mundo livre, acima de tudo cansa-me as gentes que se esqueceram o que são e tentam deitar-me areia nos olhos. Já não me cansa a areia, essa, é livre e corrediça, em qualquer lado se desfaz em areal, onde me posso deitar observando ao longe o desfazer das ideias enraizadas de um povo, que aos poucos se esquece que é gente com direito a pensar, mas que caminha tal ovelha tresmalhada procurando o eco do rebanho.
E os escritos, esses não me cansam, mesmo que me sejam pouco abonatórios, mesmo que com eles não aprenda rigorosamente nada, ou que não os compreenda. Cansa-me sim a mão que os escreveu, como se cada texto escrito fosse o ultimo suspiro da literatura.
Cansa-me o repetitivo do que leio nos jornais.
Os telejornais, o Parlamento.
As revistas de jeteoito, porque do sete a tinta já se esqueceu.
Não me cansa os textos ambíguos da menina solitária e que por detrás do nada que ela inventou se tenta evidenciar a todo o custo.
Cansa-me este país caduco e naquilo que o transformaram.
Mas acima de tudo cansa-me ser parte activa nessa transformação.

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Transeunte na miragem

 
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poetamaldito
 
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Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 11/03/2010 17:49  Atualizado: 11/03/2010 17:50
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 Re: Se eu não me cansasse seria infeliz
oi Antônia,
você está numa fase maravilhosa, em ebulição. Argumentos producentes. tenho gostado muito!
beijo