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A TROVA NO ESPÍRITO SANTO (História e Antologia)

 
A TROVA NO ESPIRÍTO SANTO
(História e Antologia)

PAULO MONTEIRO

ÍNDICE
NOTA DO AUTOR

PRIMEIRA PARTE: HISTÓRIA

1.1. RAZÕES DO ESTUDO
1.2. DIFICULDADES E COLABORADORES
1.3. ANTIGÜIDADE DA TROVA NO ESPÍRITO SANTO
1.4. ANTES DO CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS
1.5. CONCURSOS E FLORAIS
1.5.1. ALEGRE
1.5.2. CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
1.5.3. VILA VELHA
1.6. O CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS
1.7. ATIVIDADES DO CTC
1.7.1. CONCURSOS NACIONAIS
1.7.2. CONCURSOS INTERNOS
1.7.3. CONCURSOS INFANTIS
1.7.4. O BEIJA-FLOR
1.7.5. LIVROS
1.7.6. BALANÇO DAS ATIVIDADES
1.8. CASO “ZEDÂNOVE X ENO”
1.9. A UBT
1.10. O “FIM” DO CTC
1.11. BIBLIOGRAFIA

SEGUNDA PARTE: ANTOLOGIA

2.1. A. ISAÍAS RAMIRES
2.2. ÁBNER DE FREITAS COUTINHO
2.3. ALYDIO C. DA SILVA
2.4. AMAURY DE AZEVEDO
2.5. ANDRADE SUCUPIRA
2.6. ANSELMO GONÇALVES
2.7. ANTONIO TAVARES SUCUPIRA
2.8. ASSUMPÇÃO BOTTI
2.9. CARLOS JOSÉ CARDOSO
2.10. CLÉRIO JOSÉ BORGES
2.11. ELMO ELTON
2.12. ELVIRO DE FREITAS
2.13. EVANDRO MOREIRA
2.14. J. CABRAL SOBRINHO
2.15. JOÃO MOTTA
2.16. JOSÉ DE ANDRADE SUCUPIRA FILHO
2.17. JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
2.18. LUIZ CARLOS BRAGA RIBEIRO
2.19. LUIZ SIMÕES JESUS
2.20. MARCOS TAVARES
2.21. NEALDO ZAIDAN
2.22. PAULO FREITAS
2.23. ROOSEVELT DA SILVEIRA
2.24. SILVANO THOMES
2.25. SOLIMAR DE OLIVEIRA
2.26. VALSEMA RODRIGUES COSTA
2.27. VICENTE VASCONCELOS
2.28. ZEDÂNOVE TAVARES


NOTA DO AUTOR

A TROVA NO ESPÍRITO SANTO (História e Antologia) foi concluída no segundo semestre de 1981. Logo depois, alguns extratos foram publicados em jornal. Fiz uma edição de bibliófilo (apenas cinco exemplares). Passadas mais de duas décadas, promovo uma nova edição. Com isso, pretendo recuperar, para a memória dos trovadores de hoje, alguns fatos que aconteceram entre 1981 e 1982. Além disso, é uma forma do lembrar muitos e bons amigos, citados ao longo do livro, já ceifados pela morte, que muito contribuíram para a realização deste trabalho despretensioso.
Quem acompanhou, como acompanhei, o movimento dos modernos trovadores brasileiros durante aquele período, inclusive, editando um boletim literário, o QUERO-QUERO, sabe quanto os acontecimentos aqui historiados foram importantes para o movimento e para centenas e centenas de poetas que praticavam o pequeno poema em redondilha maior.
Depois daqueles dias, a União Brasileira de Trovadores (UBT) praticamente desapareceu do Espírito Santo. Surgiu a Federação Brasileira das Entidades Trovistas (FEBET), estendendo-se do Rio Grande do Sul ao extremo Norte do país. Além do mais, o exemplo do Clube dos Trovadores Capixabas foi seguido por muitos poetas da quadra, tendo sido fundados diversos clubes do trovadores, por quase todo o território nacional.
Rompeu-se o monopólio sobre os modernos trovadores brasileiros exercido pela UBT, basicamente pela incapacidade política (no sentido real do termo) do seus então dirigentes nacionais, que acabaram encerrando a entidade nos cárceres do aulicismo.
Escrevi A TROVA NO ESPÍRITO SANTO (História e Antologia) num momento em que se operavam grandes transformações a nível mundial e pessoal. Daí a grande emoção de que sou tomado ao reler essas páginas escritas há mais de um quarto de século.
Opto, mais de duas décadas após sua primeira edição, em divulgá-lo quase integralmente como foi escrito àquela época, para preservar o espírito literário que motivou o estudo que ora republico.
Se me fosse dado escolher uma epígrafe para este livro gravaria a bela trova de Joubert de Araújo Silva:
Enganam-se os ditadores,
que, no seu furor medonho,
mandam matar sonhadores,
pensando matar o sonho!
Nada é mais enganoso do que o próprio tempo.

Passo Fundo, RS, setembro de 2008.

Paulo Monteiro

PRIMEIRA PARTE
(HISTÓRIA)

1.1. RAZÕES DO ESTUDO

O movimento dos modernos trovadores brasileiros (Trovismo, para uns; Movimento Trovadoresco, para outros) é uma realidade literária incontestável.
O Trovismo é a prática de poetas comprometidos com a produção do pequeno poema de quatro versos, em redondilha maior (sete sílabas métricas), chamado trova e também conhecido popularmente como quadra ou quadrinha.
Tal prática literária firmou-se a partir dos primeiros anos cinqüentas do século XX, graças ao trabalho de divulgação da trova empreendido por Luiz Otávio, já falecido, e continuado por uma lista significativa de poetas.
O movimento trovadoresco atual é vivo e atuante, abrangendo poetas da Amazônia à Pampa.
No segundo semestre do 1980 começaram a despontar as atividades de um núcleo atuante, e bastante atuante, de trovadores residentes no Estado do Espírito Santo.
Ali as casas tradicionais de trovadores não foram felizes, como veremos adiante.
Tais trovadores se reuniram em torno do Clube dos Trovadores Capixabas (CTC), passaram a realizar concursos de trovas, com o apoio da imprensa e da televisão, inclusive, a editar um boletim literário de nome BEIJA-FLOR e a fazer ampla divulgação da trova.
Não sendo capixaba, nem mesmo conhecendo a terra espírito-santense, mas preocupado com a prática da trova, desde os primeiros tempos, acompanhamos e interessamo-nos em estudar e divulgar os trabalhos daqueles trovadores. Isto a nós nos parece fundamental para que trovadores de outras partes do país, mirando-se no exemplo dignificante dos capixabas, encorajem-se e criem condições objetivas para uma prática mais conseqüente da trova, onde não ocorra um movimento significativo em torno do poema-quadra.
Na segunda parte deste volume reunimos trovas e dados biográficos de vários trovadores, nascidos ou residentes no Espírito Santo.

1.2. DIFICULDADES E COLABORADORES

Via de regra exige-se dos pesquisadores das coisas culturais um trabalho de campo efetivo, em locais especiais: bibliotecas, arquivos, etc.
Não fizemos esse trabalho, pois como se viu acima, não tínhamos a intenção de esgotar o assunto.
As informações foram obtidas graças à bonomia de diversos confrades, dentre os quais poderíamos lembrar: Clério José Borges, Solimar de Oliveira, A. I. Ramires, Evandro Moreira, José Augusto Carvalho, Andrade Sucupira, Joubert de Araújo Silva e Eno Teodoro Wanke.
Várias foram as pessoas solicitadas a colaborar com nosso trabalho que o fizeram. Algumas, porém, simplesmente ignoraram nossas correspondências; outras, ainda, ao melhor estilo do velho PSD mineiro, esquivaram-se habilmente.
Aliás, a propósito, lembramos a bela trova do poeta gaúcho Nelson da Lenita Fachineli:
“Sou irmão de todo mundo
– palavra de coração –,
mas que bom se todo mundo
também fosse meu irmão!”
Os dados biográficos e trovas, constantes da segunda parte deste volume, foram fornecidos pelos autores ou colaboradores antes citados ou obtidos junto a obras publicadas, que constam na bibliografia (1.11). Se uns trovadores comparecem com mais trovas é que estes nos enviaram um elevado número de trabalhos, o que nos favoreceu para urna seleção razoável.
Esperamos que o trovador Clério José Borges, depositário de tantos documentos e informações sobre a trova no Espírito Santo, publique, em breve, um trabalho definitivo sobre o assunto, a chamar-se "O TROVISMO E OS TROVADORES DO ESPÍRITO SANTO”.

1.3. ANTIGÜIDADE DA TROVA NO ESPÍRITO SANTO

Para alguns, a prática da trova no Espírito Santo inicia-se com o padre José de Anchieta (1534/1597).
De alguns poemas do "Apóstolo do Brasil” podem ser derivadas trovas, embora, ao que se saiba, não tenha sido um trovador no sentido moderno da palavra, ao menos de várias trovas.
Dele, inclusive, conhecemos uma trova em tupi:
"Sarauájamo oroikó
Kaápe orojemoñánga
Orojú nde mornóranga
Oré aíba reropó."
A tradução desta trova é: "Vivemos como selvagens, somos filhos da floresta, viemos saudar-te, renunciamos aos vícios”.
Note-se que a rima é do tipo ABBA, não aceita pela maioria dos trovadores contemporâneos. Sabemos que a trova tem todo um passado ligado à imprensa, especialmente de maneira satírica, o famoso epigrama, como se dizia.
A imprensa no Espírito Santo é senhora de um passado glorioso. Assim, muitas trovas devem ter sido famosas, repousando nas coleções dos velhos jornais capixabas.

1.4. ANTES DO CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS

Mais recentemente poderíamos citar a publicação do CANCIONEIRO CAPIXABA DE TROVAS POPULARES, em 1949, onde Guilherme dos Santos Neves reuniu trovas colhidas diretamente do povo, em pesquisas por ele realizadas, e de duas pequenas coletâneas anteriores: uma de Afonso Cláudio, em 1923, e outra de uma colaboradora anônima de "A Província do Espírito Santo”, em 1889.
O livro do Guilherme dos Santos Neves é uma coletânea de 1000 trovas populares, isto é, recolhidas do folclore.
O primeiro livro contendo exclusivamente trovas literárias, ou seja, de autor conhecido, foi publicado por Solimar de Oliveira, em 1957.
A obra, um volume do 9cmX12cm, com 40 páginas, chama-se SANGRANDO LÁGRIMAS... São 95 trovas de Solimar e uma tradução de autor cujo nome não é revelado.
O convívio de Solimar com a trova, porém, vinha do longe.
É ele que nos conta da exposição do fotografias das principais paisagens de Vitória, organizada pelo fotógrafo Paes, com uma série de trovas, de que tomaram parte intelectuais especialmente convidados por aquele artista.
Isso foi em 1935 e Solimar lembra dos seguintes nomes: Ciro Vieira da Cunha, Almeida Cousin, Alvimar Silva, Nilo Aparecida Pinto, Solimar de Oliveira, João Bastos, Teixeira Leite, Jair Amorim, entre outros.
Solimar faz questão de lembrar o nome de Manoel Teixeira Leite, notável poeta, jornalista e trovador, já falecido.
Outra empreitada trovista de Solimar, agora junto com seu irmão Heralto de Oliveira, falecido, foi a organização de uma antologia do trovadores de Cachoeiro de Itapemirim, lá por 1942/1943.
Essa coletânea não chegou a ser publicada e os originais acabaram definitivamente perdidos.
Alguma coisa desse livro foi, contudo, divulgada mais tarde por Heralto, sob o pseudônimo de Vilamor.
Em 1950 Solimar passou a corresponder-se com Luiz Otávio e colaborou efetivamente com o futuro autor de MEUS IRMÃOS, OS TROVADORES.
A fundação do Grêmio Brasileiro do Trovadores (GBT), em 8 do janeiro de 1958, é um dado importante na história do Trovismo.
O GBT foi a primeira entidade nacional de trovadores, se bem que por trovador entendesse, ainda, os poetas de cordel e os repentistas e congregasse violeiros numa verdadeira arca do Noé, com bichos do todo pelo.
O GBT fez-se presente no Espírito Santo, basicamente, através de três trovadores: Evandro Moreira, Paulo Freitas e o experimentado Solimar de Oliveira.
Quando os trovadores (da quadra), em 20 de agosto de 1966, rompendo com a estrutura quase folclórica do Grêmio Brasileiro de Trovadores, fundaram a União Brasileira de Trovadores (UBT) os representantes da antiga entidade no Espírito Santo, passaram para a nova casa de trovadores.
Em 1967 são realizados dois jogos florais: um em Alegre e outro em Cachoeiro de Itapemirim, conforme veremos em 1.5.
Depois disso, a prática da trova no Espírito Santo restringiu-se às atividades isoladas de uns poucos abnegados, até que se fez alguma coisa pelo Trovismo, pelos fins dos anos sessentas e inícios da década iniciada em 1970.
Que fale, pois, o professor José Augusto Carvalho, ex-delegado municipal da UBT e organizador da UBT de Vitória:
“Trabalhei, realmente, pelo Trovismo em Vitória, em meados da década de 60, entre, talvez 1966 e 1968, e cheguei a manter uma coluna semanal no jornal A GAZETA, de Vitória, informando sobre trovas e angariando simpatizantes do movimento, graças ao incentivo maior de Joubert do Araújo Silva e Hilário Soneghet, este já falecido e exímio sonetista. Mas, assim que foi fundada a seção capixaba da UBT, como a diretoria eleita era toda de Vila Velha, cidade vizinha 12km da capital, o movimento se transferiu para lá e, em 1980, se tornou no Clube dos Trovadores Capixabas (...)“.
Foi essa seção da UBT de Vila Velha que, em 1971, organizou um concurso de trovas sobre PELÉ.
Depois disso as coisas silenciaram-se. Até 1980, felizmente.

1.5. CONCURSOS E FLORAIS

1.5.1. ALEGRE

Em 1967 foram realizados os I JOGOS FLORAIS DE ALEGRE, graças ao trabalho intenso de um jovem e abnegado poeta: EVANDRO MOREIRA.
Mobilizando a comunidade alegrense e contando com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Alegre, então administrada pelo prefeito Antonio Lemes Júnior, Evandro pode levar a bom termo aquele importante evento cultural.
Dois eram os temas: ALEGRIA e FRATERNIDADE. Não havia delimitação de gêneros (humorismo, lirismo, etc.).
No primeiro tema foram premiadas as seguintes trovas:
1º lugar – DURVAL MENDONÇA:
Brilha o rosto de Maria
na gruta pobre de luz
ante a suprema alegria
de ser a mãe de Jesus.

2º lugar – JOUBERT DE ARAÚJO SILVA:
Retrata a imagem da vida
a moenda rude e inclemente:
– Chora a cana, ao ser moída...
– range a moenda, contente!

3º lugar – SOLIMAR DE OLIVEIRA:
Nesta existência a alegria,
experimenta e verás!
Está na doce poesia
de todo bem que se faz...

4º lugar – FERRER LOPES:
Alegria... ó alegria!...
afinal, quem é que a tem?
– Tendo a barriga vazia,
nem tu, nem eu, nem ninguém.

5º lugar – JOSÉ VALERIANO RODRIGUES:
Minha alegria não passa
de uma risada bem cheia,
que fica logo sem graça
se a dentadura bambeia.

6º lugar – JOSÉ MORCEF CAMPOS:
Alegria, algo fremente
Que se não pode ocultar;
ou grita no riso quente,
ou brilha na luz do olhar.

7º lugar – MARIA DE LOURDES SANTOS:
Alegria é corno as águas
de um remanso cismador
que passam levando as mágoas
dos que padecem do amor...

8º lugar – CIRO VIEIRA DA CUNHA:
Do teu amor (quem diria?)
que só três meses durou,
resta a saudade - alegria
da tristeza que ficou...

9º lugar – SANTIAGO VASQUES FILHO
Alegria do operário
dura pouco, é reduzida:
– a lei que aumenta o salário
dispara o custo de vida.

10º lugar – SEBASTIÃO NORONHA:
Por mais que sofra, na luta
em que se esforça e porfia,
quem cumpre o dever desfruta
a verdadeira alegria.

No tema FRATERNIDADE, classificaram-se as seguintes trovas:

1º lugar – MARIO MORCEF CAMPOS:
Ama! Até sentir, então,
batendo no peito imerso,
o coração do universo
no teu próprio coração.

2º lugar – JOUBERT DE ARAÚJO SILVA:
Segue, filho este caminho
se queres ser bom cristão:
– Bebe menos do teu vinho,
– reparte mais o teu pão.

3º lugar – HERALDO LISBOA:
Fraternidade... quem dera
fosse outro o barro da gente,
pois se semente não gera
não cabe culpa à semente.

4º lugar – SOLIMAR DE OLIVEIRA:
Fui leal. Ouvi parolas.
Fui fraterno. Amigo. Irmão.
E hoje quase peço esmolas
depois de ter dado pão.

5º lugar – LILINHA FERNANDES:
Fraternidade ultrajada
ainda mais se santifica.
Se a árvore boa é podada,
com mais vigor frutifica.

6º lugar – ATHAYR CAGNIN:
Indiferente à maldade,
vou traçando de alma ungida,
o giz da fraternidade
no quadro negro da vida...

7º lugar – DURVAL MENDONÇA:
Vive louca a humanidade
sempre em termos de agressão:
– invoca a Fraternidade
com a baioneta na mão.

8º lugar – MARIA HELENA:
Dá um riso aberto em dia
Se o pobre te estende a mão:
– Que às vezes uma alegria
É mais pão que o próprio pão.

9º lugar – SOLIMAR DE OLIVEIRA:
Neste exemplo se descobre
a Fraternidade, irmão:
– um pobre com outro pobre
dividindo o próprio pão.

10º lugar – NORDESTINO FILHO:
Fraternidade, meu bem,
só se diz Fraternidade
quando, além da caridade,
não se faz mal a ninguém.

1.5.2. CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

Cachoeiro de Itapemirim é uma terra de bons poetas. Poucas cidades do interior brasileiro poderão orgulhar-se de, ao longo de sua história, apresentar tantos e tão bons poetas, quanto a terra de Rubem Braga.
Ali, entre 1966 e 1967, foram realizados Os I JOGOS FLORAIS DE CACHOEIRO, organizados pela Academia Cachoeirense de Letras, “sob os auspícios da Municipalidade, por isso decorrentes da Lei Municipal nº 054, de 16 de maio de 1966”.
Tudo isso sob o comando do incansável Solimar de Oliveira, então presidente da ACL.
Esses jogos constaram de cinco prêmios ou concursos diferentes, a saber:
Prêmio Benjamim Silva”– Trovas – 657
“Prêmio Newton Braga” – Poemas – 526
“Prêmio Rubem Braga” – Crônicas – 65
TOTAL 1303
Finalmente, para alegria dos organizadores, após vasto programa, no dia 7 de setembro de 1967, foram entregues os prêmios aos vencedores.
Nunca o Espírito Santo tivera uma promoção cultural tão vasta e expressiva, tais foram as atividades constantes do programa e cumpridas britanicamente.
Estas foram as trovas vencedoras:
1º lugar – COLBERT RANGEL COELHO:
Noivado no mundo inteiro
Foi sempre assim entre os dois:
O noivo espera primeiro,
A noiva espera depois.

2º lugar – MANUELA ABRANTES:
Eu vejo no teu vestido,
mulher esbelta e risonha,
tanta falta de tecido
com falta de vergonha.

3º lugar – COLBERT RANGEL COELHO:
Eu não sei se o sol desponta
Ou se ainda é madrugada...
Quando estou por tua conta
Não dou conta de mais nada.

4º lugar – CARLOS MANUEL DE A. S. ABRANTES:
Amor, embora sensato,
Sem dinheiro, desconsola...
É como usar bom sapato,
De polimento, sem sola!

5º lugar – PAULO EMÍLIO PINTO:
Que luta quando eu a vejo
tão sedutora e inocente!
Já viu respeito e desejo
brigando dentro da gente?

6º lugar – HÉLlO C. TEIXEIRA:
Alma, que sonhas na altura,
vendo a beleza dos astros,
tornas maior a tortura,
de andar na terra de rastros!

7º lugar – COLBERT RANGEL COELHO:
Quando a gente perde o tino,
Como perdi de repente,
Uma mulher sem destino
Faz o destino da gente.

8º lugar – APARÍCIO FERNANDES:
Neste exemplo se presume
um prêmio às almas formosas:
Fica sempre algum perfume
nas mãos que oferecem rosas.

9º lugar – CARLOS MANUEL DE A. S. ABRANTES:
Na vida, constantemente,
a mulher se contradiz,
às vezes diz o que sente,
mas nunca sente o que diz.

10º lugar – DAVID DE ARAÚJO:
Bendito de quem consome
da vida os anos a fio,
dando pão a quem tem fome
e agasalho a quem tem frio.

1.5.3. VILA VELHA

Vila Velha, como já dissemos, também teve seu concurso de trovas, uma promoção modesta e menos ousada que as anteriores. Em 1971, sob o tema PELÉ.
0 vencedor do I CONCURSO DE TROVAS DE VILA VELHA, organizado pela UBT local, foi o saudoso trovador Cegídio Ambrogi, de Taubaté, com esta trova:
Que o Brasil todo enalteça,
tanto a Rui, como a PELÉ.
Se um o honrou pela cabeça,
o outro o honrou usando o pé.

1.6. 0 CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS

Conforme vimos, antes, a UBT não teve uma existência muito fértil no Espírito Santo.
Parece que ela não se transformou no Clube dos Trovadores Capixabas (CTC) como disse o professor José Augusto Carvalho.
Da UBT, no Espírito Santo, porém, sobrou o exemplo que, tal qual a Fênix, renasceria no CTC.
Esse exemplo sobrou principalmente em/e para o penúltimo presidente da UBT de Vitória e Vila Velha, um jovem de 20 anos, nascido em 15 de setembro do 1950: Clério José Borges de Sant`Anna.
Não nos é difícil compreender - a nós que vivemos experiência semelhante - quanto pesa ver alguma coisa em que se depositou todo o desprendimento juvenil tombar sob a guilhotina inexorável dos acontecimentos.
Então, Clério José Borges, entre seus compromissos de trabalhador, chefe de família e estudante, passou a freqüentar bibliotecas à cata de materiais relacionados com a trova no território capixaba.
na Biblioteca Pública de Vitória, deu de cara com “O TROVISMO”, um livro de Eno Teodoro Wanke, historiando o movimento dos modernos trovadores brasileiros.
Visto que ali quase nada se encontra com Numa dessas idas e vindas, em busca de informações úteis aos seus planos de pesquisa,relação à trova em terras espírito-santenses, Clério José, feito uma fera, escreveu ao autor do livro.
Acabaram ficando amigos.
Dessa amizade surgiu a idéia de reativar o movimento em torno da trova em terras capixabas.
Sabe-se que Clério José pretendia uma entidade basicamente local. Somente “capixaba". Aos poucos se convenceu de que era necessário criar vínculos entre os trovadores capixabas organizados e trovadores de outras plagas.
Esclareça-se que o CTC entende, "para efeito de inscrição no Clube, como capixaba o (trovador) nascido no Espírito Santo e os que residam no Estado".
Assim é que o Clube dos Trovadores Capixabas foi fundado em 1º de julho de 1980.

1.7. ATIVIDADES DO CTC

1.7.1. CONCURSOS NACIONAIS

A primeira atividade do Clube dos Trovadores Capixabas, que o projetou nacionalmente, foi O I CONCURSO DE TROVAS DA CIDADE DE VITÓRIA.
A realização do evento ficou sob responsabilidade do CTC e da Federação Cultural do Espírito Santo.
Dois foram os temas apresentados aos concorrentes: CAPIXABA, para as trovas humorísticas, e ANCHIETA, para trovas laudatórias, com referência ao padre José de Anchieta, há pouco beatificado.
Os três primeiros colocados, no primeiro tema, com as respectivas trovas:

1º lugar – ZÉ DE ÁVILA:
Na casa de um capixaba
se a gente chega sem pressa,
a pressa logo se acaba
quando a conversa começa.

2º lugar – JOÃO FIGUEIREDO:
Festa no Espírito Santo...
Quem for mineiro não vai.
– Você, aí nesse canto...
– Eu sou Capixaba... Uai.

3° lugar – IZO GOLDMAN:
O Capixaba garante
que sua terra é um encanto:
– Espírito tem bastante...
– o que falta mesmo é... Santo...

Já sob o terna Anchieta os três primeiros lugares ficaram assim distribuídos:
1º lugar – RANGEL COELHO:
Anchieta, pelo que diz
seu evangelho de luz,
foi o FRANCISCO DE ASSIS
das terras de Santa Cruz.

2º lugar – ALOÍSIO BEZERRA:
Lá no céu muito chorou
ANCHIETA, e tem chorado
que o índio, a quem tanto amou
no Brasil só tem penado.

3º lugar – a VICENTE NOLASCO COSTA:
Vitória dos meus encantos
coração do meu planeta,
venero, dentre teus santos,
o grande santo ANCHIETA.

No dia 4 de outubro do 1980, no Teatro Carlos Gomes, de Vitória, em sessão solene, foram entregues os prêmios aos vencedores desse primeiro concurso, e diplomas aos sócios fundadores e sócios de honra presentes.
Logo depois, a Fundação Cultural foi extinta e o livro com as trovas - quarenta ao todo - vencedoras do CONCURSO DE TROVAS DA CIDADE DE VITÓRIA ficou sem patrocinador.

1.7.2. COCURSOS INTERNOS

Uma outra característica marcante do Clube dos Trovadores Capixabas é a realização quase que permanente de concursos internos de trovas. Estes elevaram-se a cinco no primeiro ano do existência do CTC.
O primeiro desses concursos foi realizado em novembro de 1980, obedecendo ao tema GASOLINA, para trovas humorísticas.
Foram recebidas 54 trovas e o resultado oficial foi este:

1º lugar – BEATRIZ ABAURE:
Num posto de álcool na esquina,
diz um bêbado que passa:
– Isto que é gasolina!
– Tem cheiro até de cachaça.

2º lugar – VICENTE NOLASCO COSTA:
Sobe o gás e sobe o óleo,
gasolina é todo dia.
Quanto mais sobre o petróleo
mais aumenta a mordomia.

3º lugar – JOÃO FIGUEIREDO:
O preço da gasolina
Vai subir mais (e não bufe!)
até que jorre da mina
o petróleo do Maluf...

4º lugar – ALYDIO C. DA SILVA:
Na crise da gasolina,
tive um lampejo de estalo:
Deixo o carro na oficina
e vou andar a cavalo.

5º lugar – VICENTE NOLASCO COSTA:
Vou vender tudo que pego.
Vou trocar rádio e buzina,
ou botar tudo no prego
ou ficar sem gasolina.

Receberam menções honrosas as seguintes trovas, por ordem alfabética de seus autores:
Se acabar a gasolina,
melhor é ficar na roça:
Lá não tem gente granfina,
todo mundo usa carroça...
ÁBNER DE FREITAS COUTINHO

Gasolina eu pus de lado
pois era um gastar sem fim,
e o carro a álcool hidratado
bebe quase igual a mim...
BEATRIZ ABAURRE

Vamos cavar, gente fina,
tentar óleo encontrar.
Pois carro sem gasolina,
VALSEMA RODRIGUES DA COSTA

Hoje dei em pagamento
um tanque de gasolina
por um lindo apartamento
com garage e com piscina.
VICENTE NOLASCO COSTA

Derivado do petróleo
que o capixaba assim glosa:
- Sendo "óleo", contém álcool,
sendo líquida é "gasosa".
ZEDÂNOVE TAVARES

Este concurso contou com o valioso apoio do CORREIO POPULAR, de Cariacica, onde é editada uma coluna dedicada à trova, sob responsabilidade de Clério José Borges.
O II Concurso Interno do CTC teve NATAL como terna, e foi realizado em dezembro de 1980.
O vencedor desse concurso foi João Figueiredo, residente no Rio de Janeiro, com esta trova:
Nascer, morrer! Coisas certas.
Que no Natal vêm à luz:
Os Magos levando ofertas
E Cristo levando a Cruz.
O III Concurso Interno do CTC, realizado entre janeiro e fevereiro do 1981, teve dois temas: COLOMBINA, somente para os sócios fundadores da entidade, e CARNAVAL, para os sócios correspondentes, isto é, nem capixabas de nascimento ou residentes no Espírito Santo, mas “correspondentes’ da entidade noutros Estados.
Venceram-no, com as respectivas trovas, os seguintes trovadores:

Tema COLOMBINA:

1º lugar – MILSON ABREU HENRIQUES:
Fui Pierrot num Carnaval
num outro fui Arlequim.
Mas Colombina afinal
fez um palhaço de mim.

2° lugar – J. CABRAL SOBRINHO:
“A Colombina fatal”
(ouvi dizer num forró),
foi gíria de Carnaval
do tempo de minha avó.

3º lugar – ARGEMIRO SEIXAS SANTOS:
O Carnaval de hoje em dia,
em verdade, desatina.
É carnaval sem poesia,
sem PIERROT, sem COLOMBINA.

4º lugar – BEATRIZ ABAURRE:
Com um tema que fascina
eu tentei fazer poesia:
Foi um sonho, Colombina!
Não passou de fantasia...

5º lugar – NEALDO ZALDAN:
Já não se brinca com “Lança”,
nem confete ou serpentina.
Mas todos têm na lembrança
uma linda Colombina.

Menção Honrosa – ÁBNER DE FREITAS COUTINHO:
Na folia, a Colombina,
sempre marca, onde estiver
com graça bem feminina,
a presença da mulher...

No CARNAVAL, o vencedor foi o trovador cearense ALOÍSIO BEZERRA. Eis a trova:
Pela imensa Carestia,
Tolhendo a paz nacional,
Seria bom, Oh! Seria...
Não houvesse carnaval!

Aloísio classificou-se ainda em terceiro lugar, Carlos de Alencar em segundo e quinto e Carlos Ribeiro Rocha, em quarto.
Já o IV Concurso Interno, realizado entre fevereiro e março de 1981, com tema único PÁSCOA, teve como três primeiros colocados, com as seguintes trovas, os trovadores abaixo:

1º lugar – FERNANDO ANTONIO LIMA CASTOR:
A Bíblia, sagrado arquivo,
mostra a PÁSCOA aos fariseus...
JESUS CRISTO redivivo,
voltando aos braços de DEUS.

2º lugar – ARGENTINA LOPES TRISTÃO:
Páscoa da Ressurreição,
do sacrifício, da dor.
Ficou-nos grande lição:
– A glória eterna do amor.

3º lugar – ARGEMIRO SEIXAS SANTOS:
Depois da morte, Jesus
surge para a redenção.
É PÁSCOA feita de luz
iluminando o cristão.

Finalmente, o V Concurso Interno do CTG respeitou o tema "Cinco de maio - Dia das Comunicações e do Expedicionário".
As trovas concorrentes, julgadas por uma comissão de donas de casa, somaram 46. Venceram-no as seguintes trovas:

1º lugar – CARLOS RIBEIRO ROCHA:
Contra o poder arbitrário
foi lutar sem covardia,
o nosso Expedicionário...
– Cinco de maio é seu dia!

2º lugar – ÁBNER DE FREITAS COUTINHO:
Quem se isola, se angustia
abra a mente, meu irmão,
Cinco de Maio é o dia
de ter comunicação...

3º lugar – ARGEMIRO SEIXAS SANTOS:
Cinco de Maio me apraz
por seu festejo correto,
a comunicação faz,
do mundo menor, mais perto.

4º lugar – ALOÍSIO BEZERRA:
Cinco de Maio: Que Glória!
Lembrando realizações!
Nacional dia da História
Dessas Comunicações!

5º lugar – AMAURY DE AZEVEDO:
Mês de maio, dia cinco,
dia da Comunicação,
quando os homens com afinco
lutam por mais união.

Menção Honrosa – JOSEFINA DA SILVA CARVALHO:
Mês das comunicações,
cinco de maio é o dia
das grandes inovações,
trazendo sabedoria.

1.7.3. CONCURSOS INFANTIS

Dentre as atividades do CTC no campo dos concursos de trovas merecem destaque aquelas que se relacionam à preocupação do Clube em divulgar a trova e sua prática junto às crianças.
Aqui temos que salientar a colaboração de Milson Henriques, apresentador do programa infantil “A GAZETINHA”, DA TV GAZETA, de Vitória.
Milson, que também é trovador, tem sido o promotor maior desses concursos, entre crianças de até 15 anos, o primeiro dos quais foi realizado em janeiro de 1981, com ótima participação, obedecendo ao toma FÉRIAS.
Eis os cinco primeiros colocados:

1º lugar – RONALD HELMUT CEKAL:
Sempre que chegam as férias,
saio, correndo, a brincar,
alegremente, sorrindo,
como um pássaro a voar.

2º lugar – MÁRCIA HILDILENE MATHEILO:
Fazer trovas sobre férias?
Que idéia mais maluca.
Nas férias quero passear,
Brincar, descansar a cuca.

3º lugar – TATIANA BAHIENSE FREITAS:
Ah! Se fosse-me possível
alguém estudar por mim.
Eu teria sempre férias,
seriam férias sem fim...

4º lugar – SIRLENE SILLER SIQUEIRA:
Minhas férias serão tristes,
pois não tenho onde morar.
Eu vivo num orfanato
e aqui terei que ficar.

5º lugar – SIRLENE SILLER SIQUEIRA:
Nas minhas férias deste ano
caso sério aconteceu:
Fui brincar co`um cachorrinho
e o danado me mordeu.

Para esse I Concurso de Trovas do programa infantil “A GAZETINHA”, foram enviadas mais de duzentas trovas.
O II Concurso, sob o tema PROFESSORA, teve urna concorrência significativa e, nos primeiros lugares, esta classificação:

1º lugar – ELIVANI TEIXEIRA (9 anos):
Eu disse pra professora
que estava um pouco cansada.
Como eu sou pexinho dela
a matéria não foi dada.

2º lugar – GERUZA APARECIDA FERECHI (14 anos):
Minha vida de criança
esta escola iluminou
com as letras do alfabeto
que a professora ensinou.

3º lugar – SAYONARA FREITAS CAMPOS (14 anos):
Eu quero ser professora,
passe o tempo que passar.
Tudo aquilo que aprendi
vou com carinho ensinar.

Mas os concursos de “A GAZETINHA" não pararam. O terceiro obedeceu ao tema PASSARINHO.

1.7.4. O BEIJA-FLOR

BEIJA-FLOR é o nome do Boletim Informativo do Clube dos Trovadores Capixabas.
Seu primeiro número foi publicado, em mimeógrafo à tinta, em outubro de 1980, com tiragem de 300 exemplares.
Beija-Flor – ficamos sabendo através de uma nota desse primeiro número – é "o pássaro que lembra a cidade capixaba de Santa Teresa, o Museu “Melo Leitão” e o cientista Augusto Ruschi..."
Poderíamos anotar algumas características do BEIJA-FLOR.
Destacamos estas duas:
1 – Ao lado de notas de economia interna da Entidade: novos sócios, doações, elogios, etc., publica trovas e notícias gerais de interesse para todos os trovadores;
2 – Divulgando endereços de trovadores é um vigoroso instrumento par a integração dos poetas da quadra.

1.7.5. LIVROS

Quando, em 1980, foi realizado o I Concurso de Trovas da Cidade de Vitória, a Fundação Cultural do Espírito Santo prometeu editar um livro com as trovas premiadas.
Posteriormente esse órgão dedicado à cultura foi extinto.
Aliás, em nossos tempos de usinas atônicas e foguetes carregados com ogivas nucleares, as instituições públicas voltadas à cultura desaparecem num piscar de olhos.
Extinto aquele órgão, o CTC partiu para a publicação da obra em forma de mutirão poético, cada um dos autores pagando parte do valor da edição.
Na obra, além das trovas vencedoras daquele concurso foram incluídas quadras de vários associados do Clube.

1.7.6. BALANÇO DAS ATIVIDADES

É mister que se faça uma análise rápida de todas as atividades desenvolvidas pelo Clube dos Trovadores Capixabas em seu primeiro ano de existência.
Em primeiro lugar, poderíamos destacar uma das características marcantes do Trovismo: a realização de concursos de trovas.
Aqui vemos o CTC filiado à prática tradicional dos concursos de trovas e, por outro lado, apoiado pela televisão – esse veículo de comunicação de massas tão importante quanto suspeito por muitos, e preocupado com a divulgação da trova junto às crianças.
Este é um dado novo e valioso, que merece reflexão e análise de todos aqueles que se preocupam com a prática da trova.
Por outro lado, pelas características próprias do BEIJA-FLOR, tem, o CTC, cuidado em criar um relacionamento mais direto e fraterno entre os trovadores.
Além do mais, veremos adiante (1.9) a preocupação do Clube, através de seus membros mais atuantes, em reconstruir a UBT em Vila Velha e Vitória, além de construí-la em outras cidades.
Quanto aos concursos infantis de trovas, essa prática salutar desenvolvida pelo Clube dos Trovadores Capixabas, tem passado a ser uma característica também de novéis seções ubeteanas no Espírito Santo.

1.8. O “CASO ZEDÂNOVE X ENO”

O I Concurso de Trovas da Cidade de Vitória teve uma comissão julgadora respeitável. Proporcionou, contudo, um episódio inédito na história da trova.
Em 27 de novembro de 1980 o jornal A GAZETA, de Vitória, publicava o artigo “AS NOTAS DO ENO”, de Zodânove Tavares.
Nesse artigo o ex-presidente da UBT de Vitória, que foi um dos juizes do concurso, conta que Eno Teodoro Wanke, outro juiz do mesmo concurso, deu zero a duas trovas concorrentes, entre outras.
Eis o que diz Zedânove:
“Vejamos uma das trovas concorrentes:
“Cá, na área da pobreza,
Vitória muda de nome:
ela é chamada Tristeza,
em meio a um povo com fome”.
Nota do Eno: zero. Alegação: “canárea”. Isso mesmo. Ele alega que o “Cá, na área” é uma cacofonia. Sem comentários.
Vejamos outra:
“Anchieta e Giordano Bruno
foram irmãos, santos são,
filhos do mesmo Deus, uno,
que não tem religião”.
Nota de Eno: zero. Alegação: anticlerical".
Mais adiante Zedânove segue suas acusações contra as notas atribuídas por Eno a trovas onde ocorriam fenômenos de sinérese (como An-chie-ta) ou diérese (An-chi-e-ta), polemizando em torno dessas questões bastante complexas de metrificação.
A resposta de Eno Teodoro Wanke veio pelo mesmo jornal, dia 20 de dezembro de 1980, em artigo que foi repetido dia 31 de dezembro daquele mesmo ano.
Após perguntar: "que melhor elogio se pode fazer a um juiz de concurso de trovas do que dizer que foi rigoroso, ou seja, de querer contribuir para um bom resultado final?”, continua seu trabalho revelando assuntos de economia interna do Concurso, quanto à forma de atribuição de notas às trovas concorrentes e reafirmando seus pontos de vista quanto à sinérese e à diérese, já expostos em obra de sua autoria. Prosseguindo em sua defesa, assevera, referindo-se às trovas lembradas por Zedânove: “Não sei de quem são tais trovas, e nem desejo saber, pois julguei foi a trova e não os trovadores. As duas como se verá são chochas e prosaicas, totalmente desinspiradas. Observem:
Cá na área da pobreza,
Vitória muda de nome:
ela é chamada Tristeza
em meio a um povo com fome.
Além daquela “canária da pobreza”, que destrói a trova logo do início, a imprecisão de linguagem é notável. Parece vagamente urna trova de protesto. Renovo meu zero.
Anchieta e Giordano Bruno
foram irmãos, santos são,
filhos do mesmo Deus, uno,
que não tem religião.
Esta trova dá o que pensar em matéria de coisa mal feita. Há dualidade de contagem silábica. No primeiro verso, conta-se “An-chie-ta e Gior-da-no”. O autor utilizou, portanto, de sinérese. Contou tanto “Anchieta” e "Giordano” como tendo três sílabas. Poderia ter contado quatro: “An-chi-e-ta” e "Gi-or-da-no”, forma que Zedânove diz, em seu artigo, preferir. Mas contou três. Sucede que, para ser coerente, deveria, no último verso, utilizar-se do mesmo recurso: "religião” (outra dessas palavras-armadilhas) deveria ter sido contatada como tendo três sílabas fônicas, e não como está, para contentar a metrificação, com quatro (...).
Mas tem mais. Vejamos o sentido da trova, a mensagem que deseja transmitir. Acho que tomar Giordano Bruno, o filósofo irrequieto, envolvido primeiro num caso de assassinato quando monge dominicano em Roma, depois expulso pelos calvinistas quando se tornou um deles, e ainda por cima excomungado pelos protestantes, sempre procurando brigas e discussões filosóficas, e terminando, come se sabe, preso e queimado pela Inquisição, e compará-lo ao meigo Anchieta, o exemplo da submissão, que tudo abandonou – pátria, família, a vida mais fácil - para servir a Deus, servindo aos nossos indígenas, acho “forçar a barra”. Nenhum dos dois foi nem é santo. Anchieta foi apenas beatificado pela Igreja. E dizer que Deus não tem religião é, para mim, um paradoxo tão divertido que até estou utilizando para um clec. Outro zero para esta trova!”
Além desses dois artigos, o veterano trovador A. Isaías Ramires, um dos mestres da trova no Espírito Santo, concorreu à discussão, com duas publicações, em jornais de Cariacica e Alegre.
Felizmente esse episódio desagradável ficou em quatro artigos.
Quanta às questões levantadas por Zedânove Tavares, analisando "as notas do Eno”, parece-nos que prevaleceu a emoção sobre a razão. Caso contrário não teria partido para a análise técnica da confecção trovística, onde Eno foi cem por cento correto. Antes teria censurado as explicações ideológicas: ter desclassificado uma trova par considerá-la anticlerical.
Um agnóstico tem o dever de reconhecer a beleza do uma trova mística, religiosa ou qualquer outro nome que se lhe dê, quando for bela, e um cristão, por sua vez, tem o dever de reconhecer a beleza de uma trova, mesmo anticlerical. Com isso não queremos dizer que a trova em pauta seja bela.
Dizíamos que, nessa polêmica, Zedânove talvez tenha entrado mais com a emoção porque a primeira trova é de autoria do veterano trovador Andrade Sucupira, seu pai.
Quanto à segunda, embora, seguindo a mesma “linha polêmica” da primeira, desconhecemos sua autoria.
Felizmente, repetimos, o "Caso Zedânove x Eno”, conforme batismo de A. Isaías Ramires, é caso encerrado.

1.9. AUBT

Nos primeiros meses de 1981 graças aos esforços de Clério José Borges, começaram a surgir representações da União Brasileira de Trovadores no Espírito Santo.
A primeira seção fundada foi a de Vitória, no dia 30 de março. Seu presidente, o advogado Carlos Dorsch, contando com a presença, em sua diretoria, dos trovadores: Eurídice de Oliveira Vidal, Elmo Elton, Clério José Borges, José Wiliam de Freitas Coutinho, Eymard Cardoso de Barros, Argemiro Seixas, Matusalém Dias de Moura, Luiz Carlos Braga Ribeiro, Albécio Nunes Vieira Machado, Fernando Buaiz e Vicente Nolasco Costa.
Essa representação da União Brasileira de Trovadores foi instalada em conseqüência do trabalho de proselitismo desenvolvido por Clério José Borges, desde os inícios de 1980, delegado municipal da UBT em Vitória.
A segunda seção da UBT, no Espírito Santo, surgiu em 25 de abril de 1981, na cidade de Vila Velha.
Ali, também, esteve presente o esforço de Clério José Borges, pois o delegado local da UBT, Andrade Sucupira, por urna questão do foro íntimo, é bastante descrente quanto a entidades trovadorescas.
A UBT de Vila Velha ficou sob a presidência da professora Valsema Rodrigues da Costa e as demais funções da diretoria distribuídas entre os seguintes trovadores: Erasmo Cabrini, Rosalva Fávero, Irene Ramos, Argentina Lopes Tristão, Vicente Costa Silveira, Solange Gracy Barcelos, Tânia Mara Soares, Verany Maria de Souza, Julieta Lobato Barbosa, Aldinei Fraga de Carvalho e Inis Brunelli.
Em Vitória, Clério José Borges manteve o boletim informativo ESTANDARTE, que continuou sendo editado sob a responsabilidade da seção ubeteana local, o mesmo acontecendo em Vila Velha, com Andrade Sucupira, que criou o CANELA-VERDE.
Mas não ficou apenas aí a penetração da UBT, que conquistou representações em Cariacica, com Nealdo Zaidan, em Serra, com Anselmo Gonçalves, e em Cachoeiro de Itapemirim, com Byron Tavares.
Além disso, foram surgindo delegacias da UBT em outras cidades.
Saliente-se que as seções da UBT, em Vitória e Vila Velha, seguindo os caminhos abertos pelo CTC, já de início, realizaram concursos estudantis de trovas, sob os temas ALUNO e MÃE, respectivamente.
Eis aqui o resultado oficial do Concurso Infantil de Trovas, promovido pela UBT de Vitória:

1º lugar – CARLA CRISTINA JUFFO (13 anos):
Não ligo que o mundo rode
se minha MÃE ficar bem.
E penso como é que pode
gostar tanto assim de alguém.

2º lugar – SHEISE BARROSO (14 anos):
Quem é esta bela criatura
que Deus fez com perfeição?
Mãe, grande e linda figura
guardada em meu coração.

3º lugar – MANOEL S. DA ROCHA MONTEIRO (9 anos):
Quando te vejo, mãe amada,
Fazer tranqüila o crochet,
me lembro da "Mãe Sagrada”
que parece com você.

4º lugar – SONIA MARIA COSTA (13 anos):
No céu escolhi uma estrela.
No jardim escolhi a flor.
No mundo escolhi uma mãe,
para ser meu grande amor.

5º lugar – ADRIANA R. DA COSTA (8 anos):
A minha mãe é mulher
e é mulher “maravilhosa”!
Dá mil voltinhas por dia
tentando ajudar suas filhas.

Menções honrosas, foram conferidas às seguintes trovas:

I – Uma criança veio ao mundo
porque uma Mãe assim o quis,
sendo surdo, sendo mudo
ficará sempre feliz!
MARISA HORTA (14 anos)

II – Mãe, palavra angelical,
Nos faz pensar em amor.
O amor que dá é total.
Vem direto do Senhor.
MARISA HORTA (14 anos)

III – Minha Mãezinha querida,
Te amo mais que outras mil.
Peço a Deus para abençoar
todas as mães do Brasil!
ADRIANA DA CONCEIÇÃO SANTOS (11anos)

IV – Mãe, teu nome pequenino
– amor, ternura, perdão.
Ele é um poema divino
escrito em meu coração.
FABÍOLA TRANCOSO CARVALHO (13 anos)

V – Para a mamãe, neste dia,
eu vou lhe dar uma flor,
a bela flor da alegria
e junto a rosa do amor!
ANA LIZA R. DA COSTA (11anos)

VI – Ser mãe é ser como a flor,
ser a flor mais colorida.
É a flor de um grande amor;
é o amor da minha vida!
ANDRÉ ANDERSON DE OLIVEIRA (11 anos)

VII – Minha mãe, minha alegria,
meu tesouro grandioso.
vou guardá-lo com carinho
porque é muito valioso.
ROSINETE ALVES MATIAS (16 anos)

VIII – Flores, mamã, pra você
é tudo que tenho em mim.
A culpa é sua porque
fez do minh`alma um jardim.
MARTA HELENA VANCONCELOS (11 anos).

IX – E quem respeita à menina
à futura mãe respeita.
Mãe é linda obra divida
a for mais bela e perfeita.
VIVIANE GARCIA (11 anos)

X – Ser mãe não é brincadeira,
não é somente viver.
É subir, descer ladeira,
é lutar pra não morrer!
MARILDA LIMA NASCIMENTO (12 anos)

1.10. O “FIM” DO CTC

Um fato bastante desagradável para o Trovismo ocorreu durante as festividades do primeiro aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas, entre os dias 1º e 3 de julho de 1981.
O CTC preparou festividades bastante sérias, com prestação de contas de sua diretoria, no dia 1º; palestras de Rodolfo Coelho Cavalcante e Eno Teodoro Wanke, no dia 3.
Lamentáveis foram os fatos ocorridos após a palestra de Eno Teodoro Wanke. Ali o autor afirmou, após aludir à dificuldade da missão que lhe foi imposta ao ser convidado para pronunciar uma das conferências:
“Sobre o que escrever então? Sobre a História e as realizações do CTC? Isso cabe ao Clério, que, melhor do que ninguém, saberá recolher os dados e os expor num relatório que deixará muita gente perplexa com o quanto se pode fazer em tão pouco tempo.
Pois Clério, com todo o dinamismo que é capaz, conseguiu neste curto ano, colocar a trova em seu verdadeiro caminho, o caminho da rosa. Suas realizações não se limitam ao CTC, mas também à UBT, com o renascimento da seção de Vitória, de Serra e diversas delegacias. Além disso, conquistou para a trova novos espaços, tanto nos jornais, como na televisão, nas escolas, como em boletins especializados, bem escritos e recheados de inovações e notícias sobre o mundo trovista. Realizou e provocou não sei quantos concursos. Foi um ano “de abertura” para a trova, não só em terras capixabas, mas em todo o Brasil. O CTC está ressuscitando aquele impulso que levava a trova milenar, na década de 1960, a ser considerada o centro do um movimento literário de grandes proporções, com o apoio de todos os grandes jornais do Rio de Janeiro, e repercussões no público de lá e outros centros.
Realmente, se pode parecer aos capixabas que o movimento do CTC é apenas regional, local, na verdade não é assim. Na correspondência que recebo, de todas as partes do Brasil, se fala, com escandalosa freqüência, e sempre em termos de admiração e louvor, no “Beija-Flor”, desde os mais recatados jornais provincianos, até os mais descabelados boletins vanguardistas. Acho que isto é o que vale, para a trova. É preciso não cair no nefelibatismo em que se encontra hoje a UBT, que deveria dar o exemplo de abertura e união, como abertamente escrevi em meu livro “O Trovismo”, da página 407 a 418, sem “meias palavras”. A UBT, lamentava eu, em resumo, tomara o caminho (também válido, porém parcial) de só promover festas e jogos florais, quando qualquer movimento artístico ou literário tem que, necessariamente, envolver o púbico, agitá-lo, principalmente através dos meios de comunicação, divulgando as produções geradas, interessando e abrindo o caminho para os novos, pois de sangue novo é que se faz a renovação, e renovação é que dá continuidade ao movimento”.
Mais adiante, após historiar a forma com que se encontrou com Clério José Borges, escreve:
"Clério (...) com seu jeito objetivo de resolver as coisas, pediu-me orientação de como "ressuscitar" o trovismo em terras capixabas. Matutei. Que dizer a ele? Seria cômodo mandá-lo "engatar-se” na UBT, tornando-se mais uma sucursal do “turismo” ubetista. Não confundir tal "turismo” com o turismo de massa, aquele que é uma indústria, que traz dinheiro à terra onde é exercido. O turismo da UBT é elitista, exercido por uma certa quantidade do trovadores, dentro do círculo fechado onde estão as informações sobre os concursos. É tão fechado esse círculo, que mesmo os trovadores interessados, como eu, na trova, não conseguem facilmente o acesso a tais informações. Cheguei mesmo a assinar, certa vez, um desses boletins de UBT, enviando um cheque em favor do presidente local, conforme as instruções de assinatura do próprio Informativo, e babau! Não recebi nem o dinheiro de volta, nem uma explicação (...).
Por isso, que me perdoem os amigos que, felizmente, possuo em grande quantidade dentro da UBT, mas eu não poderia, naquele momento, honestamente, colocar este jovem e dinâmico líder sob a tutela do um órgão fechado. Ora, existia na ocasião, o Clube dos Trovadores do Vale do Paraíba, do meu amigo Francisco Fortes, que, independente da UBT, e por ela criticado por isso mesmo, estava fazendo algum movimento. Lembrei-me, baseado nesse exemplo salutar, de propor ao Clério, não a filiação à UBT, mas a criação de um Clube independente, local, que com o tempo, poderia se estender por todo o Brasil, (como aliás, sucedeu à UBT, entidade baseada no GBT, criado por Rodolfo Cavalcante em Salvador, em 1958)".
Essas colocações de Eno Teodoro Wanke, quanto à UBT, revoltaram o trovador Joubert de Araújo Silva, capixaba, que já foi alto dirigente da UBT Nacional.
Eis o que conta José Borges Ribeiro Filho, em artigo publicado no jornal A GAZETA, de 29 de julho de 1981: "Agora, em A Gazeta de 18 do Julho de 1981, leio o artigo intitulado “Desparabéns" de autoria do Sr. Eno Teodoro Wanke, autor dos livros: "A Trova Popular", “A Trova”, “A Trova Literária” e "Trovismo”, em que é denunciada a ingerência de um determinado trovador ligado à UBT Nacional, e que já se encontrava em Vitória há vários anos e nada fez pela trova nesse período, para extinguir o CTC. Estive no último dia do Seminário Nacional da Trova realizado em Vila Velha, no dia 3 de julho e lá observei a movimentação de determinado trovador, defendendo interesses da UBT Nacional, em tentar acabar com o CTC. Lembro-me bem que, quando procurava argumentar suas idéias o citado trovador foi interrompido bruscamente pelo poeta Andrade Sucupira que de alto e bom som afirmou “enquanto eu viver, o CTC não morrerá. Ninguém vai acabar com o CTC”.
José Borges Ribeiro Filho comete um engano ao afirmar que Joubert de Araújo Silva encontrava-se em Vitória há vários anos. O trovador de Cachoeiro de Itapemirim reside no Rio de Janeiro e se encontrava em vitória desde inícios de 1980.
Após esses incidentes, Clério José Borges afastou-se definitivamente da União Brasileira de Trovadores, através de uma "CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA UBT NACIONAL NO RIO DE JANEIRO", publicada no CORREIO POPULAR, de Cariacica, número referente à semana de 11 a 23 de julho de 1981.
Inicialmente, historia as atividades do CTC, sua nomeação para delegado da UBT em Vitória (mesmo com a presença de Joubert no Espírito Santo) e a organização da UBT em solo capixaba. Depois afirma:
“O CTC continuou com suas promoções, realizando concursos internos, expedindo o informativo BEIJA-FLOR e promovendo a realização do concurso REI, PRÍNCIPE e MADRINHA dos trovadores capixabas, no qual os sócios do CTC tiveram oportunidade de votar em diversos nomes. O concurso foi lançado por esta coluna, no dia 16 de janeiro de 1981 (Nota: Clério José Borges refere-se à coluna “Trovas e Trovadores”), no CORREIO POPULAR e no dia 21 de janeiro de 1981, no jornal TRIBUNA DO POVO, da cidade de Guarapari. No dia 30 de janeiro, nova divulgação foi feita no jornal CORREIO POPULAR, onde, inclusive, sugeríamos que Elmo Elton era um candidato nato, assim como Zedânove Tavares, Paulo Freitas e Evandro Moreira. O jornal CORREIO POPULAR, que é enviado a todos os sócios do CTC, pareceu-me o jornal ideal para o lançamento do tal concurso, posteriormente divulgado no Beija-Flor, onde colocamos, inclusive, uma cédula de votação.
O concurso foi realizado com a eleição de Elmo Elton, a minha e a de Andrade Sucupira. À exceção da minha escolha, realizada como uma homenagem ao meu modesto trabalho, considerei a eleição feita, democraticamente, bastante justa. Elmo Elton é membro da Academia Espírito-Santense de Letras e tem vários livros publicados. Paulo Freitas e Evandro Moreira, que também concorreram ao título de rei, são integrantes da Academia Espírito-Santense de Letras e possuem vários livros publicados. Como a promoção foi do CTC, entidade cultural independente, achamos tudo altamente válido.
Agora, surge um elemento estranho ao CTC a criticar o concurso, como se desejasse ter sido escolhido rei, só por ter o título do Magnífico Trovador dos Jogos Florais do Nova Friburgo. Não é bastante conhecido como trovador no Estado e nem pertence à Academia Espírito-Santense de Letras.
Está pregando a discórdia entre os trovadores capixabas e, o que é pior, o aniquilamento e a extinção do CTC. Chegou a propor-me que acabasse com o CTC, que ele incentivaria a criação de novas seções da UBT no Estado e posteriormente seria formado um conselho estadual da UBT, no qual meu nome seria indicado para presidente. Esta atitude revoltou-me e, aqui, dirijo-me a V. Sa., renunciando a quaisquer vínculos que ainda me unam à UBT”.
A seguir, reafirmando suas ligações com Eno Teodoro Wanke, ex-alto dirigente da UBT Nacional, hoje condenado pela entidade, acrescenta:
“O CTC realmente foi criado com base numa idéia de Eno Teodoro Wanke. Todavia não obedece e nem está servilmente colocado a serviço do senhor Eno Wanke. Apenas o admiramos corno escritor e, por isto, promovemos sua vinda a Vitória, onde brindou-nos com uma magnífica palestra, tendo, na oportunidade recebido, juntamente com Rodolfo Coelho Cavalcante, o título de MAGNÍFICO TROVADOR, dado pelo CTC e o título de sócio de honra da UBT de Vila Velha, conferido pela trovadora Valsema Rodrigues da Costa, numa demonstração de que nós, os capixabas, estamos acima de fofocas e intrigas (...)".
Temos, aí, historiado a partir de documentos, o que aconteceu com a proposta de extinção do CTC, feita por Joubert de Araújo Silva.
Cremos que se está passando com o Trovismo um fenômeno que ocorre com as correntes religiosas provenientes da mesma origem ou com os partidos marxistas. Para os integrantes de quaisquer uma das primeiras, apenas os membros da sua confraria irão para o céu (ou sei lá para onde acreditem que irão), pois estão com a verdade; para os integrantes dos partidos marxistas apenas os militantes da sua organização têm capacidade de modificar o mundo, pois estão certos e os outros errados...
Esse fenômeno, na análise das idéias sociais tem um nome: Sectarismo; na análise da Literatura, chama-se Aulicismo.
No caso do movimento dos trovadores contemporâneos apenas os de determinada entidade (seja qual for) estão agindo corretamente e são os melhores.
Parece que os trovadores esqueceram-se de que seu padroeiro (São Francisco de Assis) sempre se guiou pela humildade.
Quanto aos títulos de "sócio de honra”, outorgados pela UBT de Vila Velha parece-nos que eles fogem ao que dispõe item 7, do artigo 55, do “REGIMENTO INTERNO GERAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES”, publicado no jornal "TROVAS E TROVADORES", nºs 20-21, set-out de 1967, que foi "Órgão Central da União Brasileira de Trovadores”, onde assegura que “São atribuições dos Presidentes Estaduais: (...) 7 – Propor e assinar títulos de Sócio Benemérito e Honorário, previamente aprovados pelo Conselho Estadual”.
Evidentemente, a trovadora Valsema não tem culpa se a edição daquele Regimento estiver esgotada.

1.11. BIBLIOGRAFIA

ACADEMIA CACHOEIRENSE DE LETRAS, REVISTA DA, ANO V, – Nºs 3 e 4. Cachoeiro de Itapemirim, ES, 1967.
BORGES, CLÉRIO JOSÉ, – TROVAS E TROVADORES (Coluna). CORREIO POPULAR, Cariacica, ES, 15 a 21 de Maio do 1981.
BORGES, CLERIO JOSÉ, – O TROVISMO NO ESPÍRITO SANTO. Jornal MENSAGEM, Alegre, ES, 15 de julho de 1980.
BORGES, CLÉRIO JOSÉ, – CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA UBT NACIONAL NO RJ. CORREIO POPULAR, Cariacica, ES, 17 a 23 do julho do 1981.
BORGES, CLÉRlO JOSÉ, – RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DE CLÉRIO JOSÉ BORGES QUANDO PRESIDENTE DA UBT DE VITÓRIA DEPOIS DENOMINADA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES DE VILA VELHA, Três páginas datilografadas, s/d, s/l.
CTC, – ESTATUTOS DO CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS, Um página datilografada, s/d, s/l.
JORNAIS – BEIJA-FLOR e CANELA-VERDE, de Vila Velha, ES, Diversos números dos anos de 1980 e 1981.
MOREIRA, EVANDRO – POETAS CAHOEIRENSES, COLETÂNEA ORGANIZADA E COMENTADA POR – Gráfica Pagé, Ind. E Com. Ltda., Alegre, ES, 1975..
OLIVEIRA, SOLIMAR DE – SANGRANDO MÁGOAS..., Gráfica Tupy, Rio de Janeiro, RJ, 1957.
OTÁVIO, LUIZ – CARTAS DE LUIZ OTÁVIO PAPA SOLIMAR DE OLIVEIRA. Dez cartas escritas entre 28-4-1951 e 15-2-1961. Cópia datilografada fornecida por Solimar de Oliveira. Treze folhas.
RAMIRES, A. ISAÍAS – MOVIMENTO TROVADORESCO. A GAZETA, Vitória, ES, 29 de julho de 1981.
RIBEIRO FILHO, JOSÉ BORGES – ESTE OF THE EDEN. A GAZETA, Vitória, ES, 29 de julho de 1981.
TAVARES, ZEDÂNOVE – AS NOTAS DO ENO. A GAZETA, Vitória, ES, 27 de novembro de 1980.
UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES – REGIMENTO INTERNO GERAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES. In Trovas e Trovadores (jornal), Ano II, Setembro-Outubro de 1967, Nºs 20-21, Rio do Janeiro, RJ.
WANKE, ENO TEODORO – A TROVA, Editora Pongetti, Rio de Janeiro, RJ, 1973.
WANKE, ENO TEODORO – O TROVISMO (História do Primeiro Movimento Poético-Literário Genuinamente Brasileiro), Companhia Brasileira de Artes Gráficas, Rio de Janeiro, RJ, 1978.
WANKE, ENO TEODORO – AS MINHAS NOTAS. A GAZETA, Vitória, ES, 20 de dezembro de 1980.
WANKE, ENO TEODORO – PALESTRA DO I SEMINÁRIO NACIONAL DA TROVA. Seis folhas datilografadas, s/d (1981), s/l (Vila Velha, ES).
WANKE, ENO TEODORO – DESPARABÉNS. A GAZETA, Vitória, ES, 18 de julho de 1980


SEGUNDA PARTE
- ANTOLOGIA -


2.1. A. ISAÍAS RAMIRES

Alberto Isaías Ramires é capixaba de Vila Velha, onde nasceu em 8 de setembro de 1924. Um dos mais representativos trovadores do Espírito Santo. Há vários anos residente no Rio de Janeiro. Militar (Capitão Rh do Exército). Autor de diversas obras e membro de várias instituições culturais do país. Ganhador de vários concursos literários.

Quando eu morrer, por favor
coloquem na minha cova
um epitáfio de amor
escrito em forma de trova!

Da vida, pelos caminhos,
uma coisa aprendi bem:
a roseira dá espinhos,
mas nos dá rosas, também...

Por nascer pobre, o Divino
num gesto compensador,
despertou, em meu destino,
a lira de trovador...

Não entendes meu desgosto,
mas aprende esta lição:
nem sempre pomos no rosto
as mágoas do coração.

Via-a rezando, contrita,
com os olhos fitos no céu.
Quanto pecado escondido
debaixo de um fino véu!...

Falar mal da vida alheia
é coisa que não convém;
quem tem telhado de vidro
não fustiga o de ninguém...

Lá se foi a meninice,
meu barquinho do papel,
minha ingênua peraltice,
meu doce Papai Noel...

2.2. ÁBNER DE FREITAS COUTINHO

Ábner de Freitas Coutinho, que também usa o pseudônimo de Percy Guido, é advogado e economista. Natural do Santo Antônio, Estado do Mato Grosso, onde nasceu no dia 15 de dezembro de 1926. Reside há mais de duas décadas no Espírito Santo. É professor e integra diversas instituições culturais.

Caravelas portuguesas,
mensageiras da História
foram, levando incertezas,
voltaram cheias de glórias...

Se poupança a gente encara,
logo descobre a verdade:
nossa metade mais cara
é nossa cara metade..

Meu pai, figura esquecida,
eterno semblante mudo,
o que fiz em minha vida
só a ti eu devo tudo...

Se pensar no seu irmão,
um instante, por favor,
sentirá no coração,
renascer fraterno amor!

2.3. ALYDIO C. DA SILVA

Alydio de Carvalho e Silva pertence a diversas entidades culturais do país. É natural de Santa Cruz, Espírito Santo, onde nasceu em 11 de abril de 1917. Industriário aposentado, reside há quase 30 anos, fora de seu estado natal. Além de poeta é romancista. Autor de centenas de trovas e outros poemas. Tem vários livros inéditos e participou de diversas antologias.

Vi num jornal estampado
o perigo que há no beijo.
Antes ser contaminado
do que morrer de desejo.

Quando passei pela estrada
e ouvi teu canto distante,
senti que a mágoa passada
reviveu naquele instante.

Carnaval, fraternidade
transitória e resumida,
onde se esconde a verdade
dos sofrimentos da vida.

Se passas muito apressada,
fugindo à minha atenção,
eu sinto a tua pisada
esmagar meu coração.

É doce morrer no mar...
Cayme receita a dose.
Só Cristo pra transformar
tanta salmoura em glicose.

2.4. AMAURY DE AZEVEDO

Também usando o pseudônimo de Yruama, Amaury de Azevedo, capixaba de Alegre, onde veio à luz em 1º de agosto de 1935, é comerciante e reside em Campos, no Rio de Janeiro. Mesmo afastado de sua terra natal, há mais de 27 anos, Amaury continua mantendo intercâmbio com poetas do Espírito Santo.

O capixaba não nega
O que lhe pedem com jeito.
Também não foge do pega,
Estufando logo o peito.

Quando toda a Cristandade
Vê passar mais um Natal,
Surgem novas esperanças
De uma paz universal.

2.5. ANDRADE SUCUPIRA

José de Andrade Sucupira é sergipano de Pacatuba. Há mais de 35 anos reside no Espírito Santo, onde militou na imprensa e foi funcionário público. Hoje está aposentado e reside em Vila Velha. Desde os anos 30 faz trovas, divulgando-as pelas páginas dos vários jornais em que trabalhou. É um dos Príncipes da Trova Capixaba, escolhidos pelo CTC. Nasceu em 22 de junho de 1909.

Meu espelho mostra a cara
sem vergonha, encarquilhada,
no corpo setenta anos,
muita canseira, mais nada.

Pela tapera da vida
O homem nasce lutando.
Luta, luta, lida, lida
e morre... sempre esperando.

No Brasil, coisa mais feia,
e coisa que mais consome...
Poucos de barriga cheia
e a maioria com fome.

Esses seus olhos traquinos
e vivos, vivos de mais,
têm nossos céus nordestinos
no verde dos coqueirais.

Sempre amar. Eis a verdade
do berço de qualquer vida.
Se o amor não tem idade...
Venha aos meus braços, querida!

Saudade... doce ternura,
espinho que se bendiz,
flor que fere com doçura
e deixa a gente feliz.

2.6. ANSELMO GONÇALVES

Pertencendo a diversas entidades culturais e por sua prática em favor da trova, Anselmo Gonçalves, capixaba de Vitória, onde nasceu em 21 de abril de 1929, é um dos mais atuantes trovadores do Espírito Santo. É funcionário público estadual e colabora na imprensa de sua terra natal.

Meu coração bate, insiste,
vai sacudindo, batendo.
A tudo ele bem resiste,
mas continua doendo.

Vela branca passa ao largo
Lá fora, longe, no mar.
Sua vida, sem embargo,
morre distante do lar.

Uma vida! Nosso amor
degringolou de repente.
Caiu da planta uma flor
resta a lembrança somente!

Toda tua indiferença
não consegue me vencer.
Sou todo amor e sou crença,
sou vida, e sou bem-querer!

2.7. ANTONIO TAVARES SUCUPIRA

Nascido em Vitória, no dia 12 de outubro do 1956, Antonio Tavares Sucupira é filho do trovador Andrade Sucupira. É, no campo profissional, engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Saudades dela? Talvez?
Se se pudesse voltar
Eu nasceria outra vez
Com a mesma mãe para amar.

E um certo amigo dizia
À sua cara-metade:
Já fui preso, que ironia!
Por querer a liberdade.

Seria o mundo feliz
E só haveria glória
Se todo o povo da terra
Nascesse aqui em Vitória.

2.8. ASSUMPÇÃO BOTTI

Manoel Assumpção Botti nasceu em Vitória no dia 15 de agosto do 1916. É advogado. Autor de muitos poemas e trovas.

Que não me empolgue a subida,
Que a humildade viva em mim,
Que eu suba sempre na vida
Sem me esquecer de onde vim.

Se pintor eu pintaria
A vida com duas cores:
Um pingo azul de alegria
Num fundo roxo de dores.

Quantos contrastes abriga
Minha existência bizarra:
Obrigado a ser formiga,
Eu que nasci pra ser cigarra.

Os meus tristes olhos baços
Do que sou dão a medida:
Um coração em pedaços
Num corpo quase sem vida.

2.9. CARLOS JOSÉ CARDOSO

Fluminense, Carlos José Cardoso é bancário e reside há pouco tempo em terras capixabas. Cursou Contabilidade e Filosofia, que não chegou a concluir. Nasceu em 2 de abril de 1953.

Coração, amante louco,
E que carrega em seu cerne,
De toda verdade um pouco
Que Deus, amando, concerne.

Traze-me, vento da noite,
Toda a paz que a alma precisa.
Afasta de mim o açoite
Dando-me amor por divisa.

Nem tudo na vida tende
Àquilo que nós queremos;
A vida de Deus depende,
A sorte, nós a fazemos.

Vento que passa em meu rosto
Lembra teu beijo, querida,
Traz ao meu corpo o desgosto,
Dando-me em ti nova vida.

2.10. CLÉRIO JOSÉ BORGES

Clério José Borges de Sant`Ana é capixaba de Vila Velha, onde nasceu em 15 do setembro de 1950. É funcionário público estadual e professor. Está concluindo cursos de Direito e Pedagogia. Poeta e jornalista. É a figura máxima do trovismo capixaba, nos dias de hoje, por seu dinamismo. Organizou algumas coletâneas com outros trovadores.

Que mimo, estás a meu lado
Tão próxima, tão fagueira,
Enquanto eu embaraçado
Fico mudo a noite inteira.

São luzes de certo os sonhos
cheios de graça infinita
a iluminar-nos risonhos
na escuridão da desdita.

O belo luar prateado
e as estrelas cintilantes
formam conjunto encantado
na FOLIA dos amantes.

2.11. ELMO ELTON

Elmo Elton dos Santos Zamprogno é natural de Vitória, cidade em que vejo à luz em 15 de fevereiro de 1925. Poeta e ensaísta, é autor de diversas obras. Durante vários anos residiu no Rio do Janeiro. Recentemente retornou ao Espírito Santo e foi eleito Rei dos Trovadores Capixabas.

Conheço bem teu valor,
trilhamos igual caminho:
– Sei que te chamam de flor,
mas, nessa flor, quanto espinho!

Minha filha, não te iludas
com os beijos que te vão dar,
que os descendent


poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos

 
Autor
PAULOMONTEIRO
 
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