Crónicas : 

PELOS CAMINHOS DA MÚSICA

 



PELOS CAMINHOS DA MÚSICA

Ir ao passado é imperativo da minha natureza. Não tenho culpa de ser assim. Parece que pensar ou sentir deste modo não está muito nos conformes do pensamento moderno que às vezes dá mostras de ter ganas de abdicar do passado, por já não interessar. Afinal de contas é passado. Bem ou mal está vivido e está para trás. Interessa é o que está para a frente, o que há-de vir.
Ao ver-me nesta linha de pensamento, não raro recordo uma pessoa que em princípio para todos nós foi preciosa. Refiro-me à minha mãe. Às palavras que muitas vezes dela ouvi, mas referindo-me nesta nota às que tinham que ver com o seu próprio passado, as suas vivências, o conhecimento que guardava daqueles que a precederam. Acho que lhe devo um certo encantamento por aquilo que de positivo já lá vai longe e que para mim tem o valor do alicerce de uma construção que se quer sólida. Ao mesmo tempo devo-lhe um tipo de sensibilidade que considero inestimável, que é a paixão pela música. Subtilmente transmitiu-me essa mensagem que não tem preço. E é na música que reside o inestimável instante que hoje me permito visitar, exclusivamente. Reduz-se a breves palavras: estava eu uma noite de verão na praça central da minha terra a aguardar um concerto pela Banda local. Estava com um colega, leigo como eu em música, mas ambos solicitados no nosso intimo para ouvir os acordes da nossa Banda. A peça com que iniciam o concerto mexe com os cordelinhos da minha sensibilidade musical e como se alguém perto de mim pressentisse esse meu sentir, um amigo um tanto mais
Velho e mais sabedor abeira-se de mim e diz-me: isto chama-se «CAPRICHO ÁRABE». Bebi aquela peça musical como se de um cálice de vinho do Porto (que eu adorava) se tratasse. Esta melodia teve inclusivamente o condão de me transportar ao mundo Árabe, imaginar Teerão e outras cidades Orientais que habitavam o meu imaginário. Nunca mais esqueci «CAPRICHO ÁRABE» e acho que descobri nessa noite de arte o meu fascínio pelo mundo oriental, que ainda hoje me persegue. Este um mero episódio mas que como dei a entender já, atribuo em grande parte a um tipo de sensibilidade que recolhi da minha mãe, cuja memória neste momento venero.

Antonius

 
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luciusantonius
 
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Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 31/08/2010 22:42  Atualizado: 31/08/2010 22:42
Colaborador
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 Re: PELOS CAMINHOS DA MÚSICA p/Antonius
O passado é o que somos hoje. De ti a tua mãe aqui lembrada e parece ter tido muito influência nos alicerces.
Depois o texto em si, que como sempre é para ler e reler.

Por fim a música que me deixou queda. Já a tinha ouvido mas desconhecia que era árabe. tem um misto de valsa,lirismo italiano, gitana e sensualidade.

Enfim um prazer enorme ler este texto.

bj
Eduarda

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 01/09/2010 12:47  Atualizado: 01/09/2010 12:47
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Mensagens: 11253
 Re: PELOS CAMINHOS DA MÚSICA
Os caminhos antigos são os traços de hoje em viva memória e em experiências que nos marcam. Temos todos um pouco das nossas raízes uma mãe é sempre [ou quase sempre] um alicerce importante na vida dos filhos. A música tocada ao vivo é sempre um fantástico momento, eu que adoro música fiquei fascinada por esta.
Um bom texto como é apanágio.

Beijos

Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 01/09/2010 13:22  Atualizado: 01/09/2010 13:22
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: PELOS CAMINHOS DA MÚSICA
Meu estimado poeta!
Seremos sempre frutos do meio, por mais que o
tempo e as circunstâncias da vida nos vá moldando
em pequeníssimas questões.
A sua crónica, muito bem escrita, descreve com transparência, a grande importância que tem uma mãe, um pai, no meu caso, um avô. Pela sensibilidade que nos incutiram ao ensinarem-nos a ver a beleza até nas mais insignificantes coisas.
Gostei muito de ler, Lucius. Fica o meu abraço amigo
extensivo à querida Olema,.
Vóny Ferreira