Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 011

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
1001


Aberto o coração quero janela...
Eu caço teu luar à minha beira.
A fonte dos desejos foi mais bela.
Lidando com distâncias e ladeira,

O sol estando a prumo me revela
Espíritos divinos padre e freira...
Paixão improvisada fogo e vela.
Instrumentalizando mais matreira...

Nas bênçãos que proclamas não consigo
Meu sequioso espírito te via.
Esplendores de raios que persigo.

Nas terras prometidas nunca havia.
Calabares famintos, um perigo...
Dos mares que naufrago, ventania...



1002

Aberto o coração, sagrado campo
Estende na varanda a clara lua,
No brilho em que se mostra um pirilampo,
Reflexos vão tomando toda a rua.

Eu quero ser o quanto tu mais queres,
O quase; há tanto tempo sublimei
Na plenitude encontro os meus poderes,
Fazendo deste sonho regra e lei,

Numa metamorfose incansável,
Mosaicos multicores vão surgindo,
Caleidoscópio vivo, imaginável,
Adentro este cenário, perseguindo

Eu sinto o vento insano a me tocar,
E sonho com delícias deste mar.



1003





Abertos velhos portos teimam barcos,
Os erros se repetem; nada faço.
Os medos que inda trago, mesmo parcos,
Não deixam pra esperança algum espaço.

A vida ao descrever antigos arcos,
Parábolas diversas ora traço,
Hedônica ilusão, ferrenhos marcos,
Tropeço nos cordames que embaraço.

Afago as velhas feras que não domo,
E se possível, tento e ainda somo,
Mudando o resultado em meses, anos.

Velhacarias tantas cometidas,
Exércitos de luzes vãs, perdidas,
Transformam em inúteis, velhos planos..


1004


Abismo inebriante da loucura
O amor que não pudera mais conter
Ousando muito além de algum prazer
A sorte de tal forma configura

Marcando o que tentara e se assegura
Vencendo o meu caminho eu posso ver
O rústico cenário a se tecer
Gerado pela angústia, esta amargura.

Não tento contornar qualquer engodo,
E piso tão somente o velho lodo,
Num antro em súcias feito e nada mais.

Dos ermos dos meus versos, vejo o resto
E o todo se desenha mais funesto,
Prepara para os ermos funerais.


1005

Abismos percorridos, desencanto,
A gueixa traz as queixas costumeiras,
As deixas demonstrando que as bandeiras
Ficaram esquecidas nalgum canto.

Qual fosse ilusionário celacanto
As cordas arrebentam quando queiras
Os beijos desta moscas costumeiras
Bicheiras te servindo como manto.

Assíduas ilusões já não freqüentam
O velho coração de um marinheiro
Nem mesmo as fantasias atormentam

Nas sementes goradas pela vida
O medo se tornando corriqueiro
História sem memória ou despedida.



1006

Ao abarcar com fúria o quanto tento
Vencer e nada vejo, nem sinal,
O passo se desenha em ledo grau
E o dia se traduz alheamento,

Vestindo o meu caminho e desatento
As roupas vi quarando no varal,
Ousando noutro enredo, menos mal,
O tempo se mostrando alheamento.

Esbarro nos meus erros costumeiros
E tento com ardis, novos luzeiros
Ardumes da esperança, vãs lanternas,

E quando se apresenta alguma chance
A voz sem ter sentido ao não se lance
E apenas o sutil tormento; externas.

1007


Aboiando o passado dolorido
Mugindo essa saudade no meu peito,
Num choro lamentoso e tão comprido,
Achando que talvez tenha o direito

De ter o meu destino, assim, cumprido
Na sorte que me deixa insatisfeito,
Por muitas vezes, nunca, ter agido,
Conforme a consciência, quando deito...

Nas quebradas da sorte te encontrei,
Com força e a coragem feminina,
Quem fora só vaqueiro vive rei,

Agradecendo a Deus, a nova sina,
Depois desta amargura que passei,
Doçura, na menina, descortina!



1008


Abortando ilusões, torpes falácias.
Erguendo um templo ao deus louco e profano,
Estrumes de nós mesmos, desengano,
Roubando vampiresco, tais hemácias

Na estúpida esperança de farmácias,
O verme que se entrega, quase humano,
Expondo o meu cadáver, tira o pano
Empáfias disfarçadas em audácias.

Egresso de outros tempos mais felizes,
Espectro perambula em cicatrizes
Do amor que tantas vezes trouxe o sonho.

E agora este flagelo me consome,
Desmembro-me da vida, enquanto some
O gozo que eu busquei; me decomponho...


1009


Aborto um roseiral em primavera.
Na fera que me toca, numa espreita,
A lua enegrecida nada espera
E foge desta noite, contrafeita.

Espinho e vergalhão, a dor desperta
Coroando um caminho com senões.
A porta que nem sempre fica aberta
De tantos e diversos corações.

Vestígios destes tempos me decoram.
Andorinhas perdendo a migração
Os dias de esperança já se foram
Tomados pela turva solidão.

Sem primaveras, flores, roseirais;
Apenas paladares canibais...



1010


Abra as portas; te juro... Vale a pena!
Estrela matutina em luz tão pura,
Deitando sobre a terra pálida ternura
Estrada deslumbrante que se acena.

A vida sem te ver já se apequena
Um porto que a viagem assegura
Encanto que me toma e que depura
Tornando a caminhada mais amena.

Durante esta alvorada em matiz nobre
Beleza que em ternura nos recobre
Virá na melodia em que busquei

Teus olhos, tua pele, teus regaços,
Tomando devagar teus calmos braços
imperceptivelmente chegarei



1011


Abraça toda a terra que domina
O rumo em desatino não me importa,
Requebra em minissaia esta menina
Batendo devagar em minha porta.

A luz que não paguei não ilumina,
E inspiração, decerto já se corta
O jeito é procurar em outra mina
Que a minha amanheceu calada e morta.

Fazer no final boca de siri
Do quanto não recebo, eu investi
E tive como paga este deboche.

Montando num cavalo sem ter sela,
Verdade tão cruel que se revela
Deixando para trás o velho coche...



1012



Abraçado contigo minha amada,
Passando pelos astros por estrelas.
Caminho sem temer as tempestades
Vivendo sem nenhum medo maior.

Decoro meus desejos nos teus olhos,
Luzeiros deslumbrantes, vida e sorte.
Douradas essas sendas que percorro,
Adentro os bons portais do meu desejo.

Querida não se esqueça um só segundo
De todo grande amor que nos nasceu.
Desvendo teus mistérios, pouco a pouco.

E vibro por poder ser teu amante
Nos olhos da esperança pude ver
O brilho dos teus olhos refletidos...


1013

Abraças os cadáveres que crias
Jazendo dentro em ti minha esperança
Sarcófago dos sonhos, fantasias,
Mordaça que me cala enquanto avança

Os versos do passado, hipocrisias,
A mão jamais seria assim tão mansa.
O amor trazendo em si, tais embolias
Matando suavemente quem se cansa.

E trêmulo, observando cada passo
Que deste pela vida, sigo os rastros
Sem ter em tal viagem sequer lastros

Os restos de nós dois, às vezes caço,
E vejo-te entranhada em cada poro,
Na fúngica ilusão qual fora esporo...



1014


Abraço a moça bela toda noite
E deste abraço sinto palpitar
O coração batendo feito açoite
Começa ao mesmo instante a disparar.

Portando o teu sorriso nos meus lábios,
Nos beijos que eu te dei, revelações.
Os dedos se tornando bem mais sábios
Começam sem limite explorações

Buscando os teus recônditos caminhos,
Vencendo os desafios, destemido.
Escuta-se na noite este gemido

Causado por audazes, bons carinhos,
Fazendo estremecer o nosso quarto,
Do terremoto intenso, eu não me aparto!



1015


Abraço essa morena, meu amor
Com gosto e com desejo persistente
Te quero, moreninha minha flor
Vem logo, o teu amor me faz contente.

Eu quero teu carinho redentor
Beijar a tua boca é mais urgente.
Eu busco o teu amor por onde for,
Não quero mais saber, nenhuma gente.

Lá longe o coração sempre te acena
Chamando para a gente namorar,
Na boca delicada da morena

O gosto do desejo acalentado.
Na fonte, no horizonte ou no luar,
Eu quero amor gostoso e acochado...



1016


Abraço o teu retrato como fora
A corda que se entrega num naufrágio.
O coração de audaz, tornou-se frágil
E nada do que tive, resta agora.

O lodo que me inunda e me decora,
Cobrando deste amor terrível ágio
Por mais que a fantasia se mostra ágil
O tempo de sonhar já foi embora.

Mas vendo a tua face em minhas mãos,
Os dias talvez fossem menos vãos
E os sonhos se fariam renovados.

Rascunhos do que fomos estampados
Na foto que deixaste, por acaso,
Trazendo um brilho insano ao meu ocaso...



1017



Abraço quando é dado com carinho
Transfere uma energia positiva,
Nos braços desse amigo já me aninho
À vida saudações, portanto viva!

Amigo nunca troca de camisa,
É sempre mais leal e companheiro
Mesmo que venta, trama calma brisa,
Fazendo da amizade seu celeiro...

Meu amigo guardado aqui no peito,
Bem sabe destas dores que sofri,
Nos laços que criamos; mais perfeito,
O belo desta vida, sempre aqui...

Natal que se aproxima, estou contigo,
Espero, com ternura, abraço amigo...


1018


Abraço-te com força
E deito sobre ti,
Amor que se reforça
No qual me soergui

Prazer que vem em poça,
Num cálice sorvi,
Vem logo minha moça
Te espero, estou aqui.

Sentindo entorpecer
Propago pelas ruas,
O mágico prazer

De nossas peles nuas,
Nos beijos converter
Delícias todas tuas...



1019


Abrão segundo as ordens de Javé
Abandonando a casa onde nasceu
Longínquas terras, ele percorreu
Guiado tão somente pela fé.

Com sua esposa segue pra Canaã
Chegando finalmente a seu destino,
Porém a fome e a seca em desatino
Levaram ao Egito, intenso afã.

Minha irmã! Disse assim ao soberano
Apresentando Sara; moça bela,
A ira de Javé, pois se revela,

E ao perceber ser vítima do engano
Faraó que os cobrira de presente,
Partida do casal, enfim consente...



1020


Abrão sem ter o filho desejado,
Numa visão escuta de Javé
Que a recompensa para tanta fé
Será um bem enorme e abençoado.

Pois Ele sendo escudo é proteção,
Fazendo na aliança um sacrifício,
Novilhas, cabras, pombas, num ofício
Trará depois de tudo a redenção.

Promessa de total felicidade
Domínio de um reinado gigantesco,
Porém escravidão e sofrimentos

Até chegar enfim a liberdade
Encerrando um período tão dantesco
Em anos, completados quatrocentos!



1021


Abrão tendo por Deus, obediência
Fazendo com Javé uma aliança
Que toca o coração com esperança
Traz da fecundidade, a consciência.

Sonhando com seu filho prometido,
Agora se chamando, pois de Abraão,
Tendo em Isaac enfim a concepção
Gerado após o tempo estar vencido,

A Sara, Javé deu fecundidade
Apesar de avançada a sua idade
E as bênçãos a Ismael também legou.

Cumprindo desde então Sua promessa,
A glória de seu povo assim começa
No sêmen que em velho útero brotou...



1022


Abrigos desvalidos e sem força
Nos préstimos negados, desalento.
Por mais que uma esperança seja moça
Não cabe no embornal do pensamento.

A pele da menina quase louça
Rachando com o sol desabamento,
Dos olhos tantas águas formam poça
Depois irei dormir neste relento.

A casa da menina tem porteira
Ponteia uma viola noite e dia.
A lua se mostrando companheira

Amor faz mais folia e não reclama,
Meu Deus como teria uma alegria
Se a moça desse abrigo em sua cama.


1023


Abrindo a minha porta, vou à rua
E vejo em ventania, a tempestade,
Rasgando o coração, ninguém mais há de
Impedir a minha alma que flutua

Tomando a direção da bela lua,
Rasgando todo o vento, em liberdade,
Andando pelas praças da cidade,
Alçando esta esperança, rara e crua.

Beijar a tua boca num momento
Vagar pelos espaços; ir ao Céu,
Montado numa estrela, meu corcel,

Chegando à fonte rara feita em mel.
Não tenho mais temor, busco emoção,
Em pleno temporal, bebo o trovão...



1024


Abrindo a velha porta
Aonde nada houvera
Senão tanto que importa
A sorte em vã quimera,
O vasto quando aborta
O sonho em turva esfera,
O todo não mais corta
A morte destempera,
Ousando em harmonia
O tanto que pudesse
O salto noutro dia,
A vida em dura messe,
O quanto não viria,
Aos poucos se padece.


1025


Abrindo estes portais
Diversos paraísos
E neles sensuais
Caminhos mais precisos,

E sei dos divinais
Anseios sem juízos
E quanto quero mais
Os templos sem avisos

Diviso a cada instante
E o todo se garante
Na foz de cada sonho

Pudesse apenas isso,
O tanto que cobiço
E o vasto onde me ponho.

1026


Abrindo então as travas, vivo o amor,
As trevas; assassino em teu jogral,
No verso em que pretendo recompor
Palavra se tornando sensual
Estendo o meu canteiro em plena flor,
Trazendo em minha cama todo astral.

Astrologicamente incompatíveis,
Na bacia das almas, vamos nós.
Vencendo as tempestades, noutros níveis
Jamais caminharemos soltos, sós.
As mãos que nos empurram, invisíveis
Entregam às tristezas, medos dós.

O vento que balança este coqueiro
Entranha o mais gostoso e doce cheiro...


1027

Ainda quando eu quero
A sorte mais sincera
O todo que se espera
Gerando este sincero
Caminho onde tempero
E nada destempera
E marca qual pantera
O sonho enquanto esmero.
Apresentando o fato
Deveras me retrato
Na sorte mais audaz,
E o canto sem declínio
Gerando este fascínio
Que tanto satisfaz.


1028


Abrindo esta porteira, coração
Não pude controlar os sentimentos.
Tomado pela força da paixão,
Deixando para trás velhos lamentos.

O tempo de sonhar, em tentação
Mudando a direção de antigos ventos
Causando neste amor transformação.
Pacificando assim, os pensamentos.

O sol nos aquecendo, intenso brilho,
No encanto em que me perco e maravilho
Permite finalmente uma alegria

Dourando o meu caminho em luz segura
Destino mais tranqüilo me assegura,
Tornando mais sereno cada dia...


1029


Abrindo estes botões eu vejo os seios
Que tanto desejei, belos romãs.
Prazeres se mostrando em seus afãs
Deixando para trás velhos receios.

Percorro vorazmente loucos veios
E quero repetir todas manhãs
Felicidades fartas, temporãs,
Do mundo seguiremos mais alheios

Da diva mais safada, em pleno sexo
Não quero nem sabre se existe nexo,
Apenas desfrutar de cada orgasmo

A gata faz de mim gato e sapato,
Ficando assim de quatro. Quero no ato
Poder usufruir de cada espasmo...


1030

Abrindo mil caminhos
Em passos bem mais fortes,
Abarcas novos ninhos,
Encontras outras sortes,
Bebendo doces vinhos,
Curando tantos cortes.

Ao erguer os teus braços,
Superas as montanhas,
Atando nossos laços,
Eu ganho enquanto ganhas,
Refaço velhos traços,
Nas luzes que tamanhas

Clareiam tempestades,
Reforçam amizades...



1031


Abrindo no meu peito esta cratera
Espero outro momento pra contar,
O verso que não fiz inda tempera
Gerando cada raio de luar

Que adentra esta tapera, novamente,
E regenera o sonho antes vencido.
Poema que se mostra num repente
Aos poucos pelo tempo corroído.

Ouvindo o que dizias; sacramentos.
Não quero conceber outra imersão.
Adubo que se faz dos excrementos
Garante um bem maior à plantação.

Nas cinzas do cigarro que ofereces
Amor faz seus leilões, suas quermesses...




1032


Abrindo no meu peito uma escotilha
Acendo da esperança, o fogo intenso.
Na sina que se fez uma andarilha,
No vago logo após às vezes penso,

Carrego dentro em mim tanta mobília,
Escombros do que fui. Mergulho tenso
E nada se percebe além da trilha
Vazia que sobrou de um mar imenso.

Erguendo um brinde à vida, morro aos poucos,
Os gritos incontidos saem roucos
Prenunciando apenas um adeus.

Porém ao ver de novo o meu porão,
Vislumbro a derradeira solidão,
Tocado pela luz dos olhos teus.


1033

Abrindo o coração que se deleita
A festa prometida não termina,
Vontade que se faz, assim, aceita
Encharca de alegria qualquer mina.

Menina; vê se nina quem te quer
Não deixe pra amanhã, festeje agora,
Nos seios delicados da mulher,
Desejo de ficar, não ir embora.

Ser pente que passeia em teus cabelos,
Serpente que te encanta, um paraíso.
Vontade de saber e de vivê-los,
Momentos sem pecado e sem juízo.

Marcando nossa pele em tatuagem,
Juntinhos, sem destino, essa viagem...



1034


Abrindo o meu jornal, notícias sempre iguais,
A morte de fulano, o roubo de sicrano...
Congresso faz a lei, pagamos nós, boçais,
O povo vai entrando, enorme, imenso, cano...

Meus versos de amor, sem dúvida banais,
Sem fibra ou poesia, e digo, sem tutano,
Um mero devaneio. O corvo diz jamais
Serás um bom poeta: esqueça qualquer plano!

Realidade volta e me incomoda tanto.
O sonho tem o encanto embora mentiroso
De assim trazer à tona um mundo mais charmoso

Não quero só lamento, e dele, dor e pranto,
Quero o gozo do falso, incrível diamante
Que possa me alentar ao menos num instante...



1035


Abrindo este caminho
Em meio aos temporais
Deserto abissais
Aonde desalinho

O tempo mais mesquinho
Ousando muito mais
Que tantos desiguais
Cenários; adivinho.

Esbanjo fantasia
E nada mais teria
Sequer o quanto eu quis.

Mergulho neste vago
Momento enquanto afago
A sorte por um triz.


1036


Abrindo tuas pernas num altar
Aonde percebendo em catedral
O gozo sem limites. Profanar
Este templo divino e sensual.

Bebendo desta fonte e me fartar
Prazer que assim percebo sem igual.
Lambendo cada parte devagar
Molhando minha boca com teu sal.

Insaciável vontade de viver,
Deixando os meus temores para trás,
Na ardência que este jogo sempre traz

Até não mais poder me entorpecer
Dos ópios, dos delírios teus incensos
Amores sem limites, fogos densos...



1037


Abrindo uma cortina, adentra o sol,
Beijando a bela ninfa delicada;
Recende tal ternura em arrebol,
Ela se entrega nua, extasiada.

Seu corpo se enrodilha, caracol,
Aos lábios deste sol, dama encantada,
Um paraíso imenso, em raro escol,
Abraça esta princesa desnudada...

Ousado, devorando esta nudez,
O astro rei derramando seu tesouro,
Cobrindo o belo corpo com fino ouro

Demonstra sua força em altivez
Fecunda com seu sêmen vaporoso


1038



Abrir o peito às forças da Natura,
Sem ter o que temer; ser libertário,
Tampouco me concebo solitário,
O amor sem ter medidas nos depura.

Matando com sorrisos, a amargura,
O canto que nos une, solidário,
As marcas mais profundas do Sudário,
Heranças enraizadas; vera cura.

Contemplo a vida como fosse um rio
Que segue; mesmo inglória, em desvario,
Até chegar à foz no mar imenso.

Na bela artilharia do Perdão,
Vencer com calmaria o furacão,
No Cristo ressurreto, assim eu penso.



1039


Acabando com mata ciliar
Assoreando os rios, erosão,
Ao destruir com tal sofreguidão
Da vida quase nada vai restar.

O duro é que apesar desta lição,
Ainda existe gente a se mostrar
Ao tentar, imbecil justificar
Em nome de uma civilização

Aonde se concede para nós
Poder tão soberano sobre a Terra.
Problema é que o vazio logo após

Pairando qual fantasma a vida enterra.
Em nome do bom Deus feito amizade,
Destroem com total iniqüidade...


1040


Acácias amarelas, roxo ipê
Lembranças que transbordam nos meus sonhos.
Momentos que passamos – eu você
Em dias tão fantásticos, risonhos.

O tempo faz da vida temporal
Arrasta tudo e nada deixa em troca.
Amor se transformando, tão banal,
Em simples solidão, já desemboca.

De tantos sentimentos, nada resta
Senão esta saudade que inda amarga,
A vida vai pesando, e assim atesta
O quanto é dolorosa a fria carga

Que trago nos meus ombros, desde então,
Saudades loteando o coração...



1041


Acácias paineiras e dracenas
Uma alameda feita de esperanças.
Enquanto em fantasias tu me acenas,
Aromas exalados nas lembranças

Crisântemos, jasmins, rosas, hibiscos,
Delírios e vontades, mago olor,
Não quero mais correr antigos riscos,
Vibrando de emoção, em tanto amor.

Pomares e quintais, sublimes quintas
Jardins feito em dulcíssimo perfume
Veredas que nos sonhos, queres, pintas
Nesta aquarela imensa, brilho e lume

Nas mãos delicadeza em tintas nobres,
De amores e delícias me recobres...



1042


Acalantos de amor em noite clara,
Dedilho um violão, e ao pontear
Deitando nosso amor sob o luar
Sonhando com teu corpo que me ampara

Estrela que num brilho, fonte rara
De todos os desejos, vem tocar
Emoldurando um sonho, devagar,
Além do que talvez imaginara

Um coração que busca pela estrela
Raiada em madrugada seresteira.
Mulher, no fogo intenso, feiticeira

Cigana que desnuda em noite bela
Adentra minha cama e vem comigo
Fazendo do prazer, o nosso abrigo...



1043

Acalantos, palavras de carinho
Ninando nosso amor em noite clara.
No peito de quem amo, eu já me aninho
E a mão de quem desejo já me ampara.

Não faça mais barulho, de mansinho
Amor adormecendo em noite cara,
Permite que se chegue de mansinho
Ao adoçar a vida tão amara

Amor; nosso menino necessita
De toda esta atenção que dispensamos.
A jóia mais perfeita e mais bonita

Que em versos e canções, tanto velamos,
Cuidando deste amor real pepita
Tesouro deslumbrante que encontramos..



1044


Acalmando a amargura, violenta,
Meus dias serão mansos, nisso eu creio.
A força dominante que apascenta
Percebe e reconhece logo o veio

Aonde ao derramar as fartas luzes
Os olhos da esperança vão sublimes,
No quanto dentro da alma reproduzes
É tudo na verdade o que suprimes.

O pranto que se seca com carinhos
Ainda nos permite ver o sol.
Tomando em amizade estes caminhos
O brilho dominando este arrebol.

Esqueça toda a mágoa que tiver.
Felicidade é tudo o que se quer...



1045

Acalme o coração, não te deixei,
Jamais me afastarei do meu caminho
Tu sabes quão profundo é meu carinho
Nas mãos de eterno Amor, a minha lei.

Por mais que esteja escura, a velha grei,
Um pássaro retorna ao mesmo ninho,
Não quero um triste canto, vão; sozinho,
Eu nunca, podes crer, te abandonei.

Apenas tão somente noutra senda
Sementes de esperanças necessárias
Vencendo com ternura uma contenda

O coração de um pobre sonhador,
Em luzes que divinas, mesmo várias,
Plantou com temperança, paz e Amor...



1046

Com estrambote


Ação que nada serve se não oca
A mor de todas dores amorosa...
O cômodo sentir que não estoca,
Augustos esses anjos, mansa rosa...

Meus fâneros feridos farta foca...
O preço que pedi não paga a prosa.
Da terra que me encerra, uma minhoca.
Ouviram do Ipiranga rancorosa...

Ação que nada serve faz mentiras,
Omissos paisanos perigosos,
As danças que torturas, mansas liras,

Os ombros que empinaste, orgulhosos,
Com mãos que me carinhas, também tiras,
Os troncos que lanhaste, são frondosos...
Cortaste tantos sonhos, de saída,

Fingiste mansidão que vai perdida,
Açoitas quem beijaste, secas vida...


1047

Acaricio o corpo de quem amo...
Devagarzinho, manso, bem suave...
A voz macia, leve já te chamo
Para a vida, voarmos nossa nave.

Ao não te ver depois, então reclamo.
Não permitindo mais nenhum entrave,
O medo de perder-te. Nele inflamo.
Retirar de teus olhos triste trave...

O corpo de quem amo, acaricio...
Suave noite cai, trazendo ardor...
Em todos os momentos deste cio,

Amo-te demais; fina e bela flor!
Amar-te é droga, nela me vicio...
Embriagado, vivo desse amor!



1048


Acaso não terei mais um minuto
Sequer de paz na vida? Não domino
O fogo que incendeia forte e bruto,
Causando o mais completo desatino,

Mesmo exaurido e insano, ainda luto,
O sol queimando pleno; segue a pino,
Meu olhar se escondendo, quis astuto,
E o meu final inglório; vaticino.

Embrenho pelas sendas mais fechadas,
Tentando vislumbrar nas madrugadas
A bela redenção da clara aurora,

As nuvens entornando intenso gris,
Avisam: se jamais eu fui feliz,
Não posso esperar nada bom; agora...




1049


Aceito a contradança que propões,
Trazendo uma alegria sem igual,
Deixando estas tristezas nos porões
Vivendo o mais sublime carnaval,

Por mais que a vida traga más lições
Eu vejo a solução mais magistral
No balançar dos corpos, seduções
Delírios deste encanto sensual.

Dançando a noite inteira, vou contigo
E saiba, quanto amor inda consigo
Trazer ao coração desta menina.

Que enquanto rebolando me conquista,
Estando pra negócio nesta pista,
Requebra enquanto em fogo me alucina...




1050


Acelerando o tempo tento a fuga,
Carinho assim, mecânico, eu não quero.
Se tudo o que queria, o medo suga,
Desejo um sentimento mais sincero.

A cada novo dia, uma outra ruga,
As rusgas vão servindo de tempero,
Esqueça, caia fora e não me aluga,
Amor merece sempre, um trato, esmero...

Quem dera se inda houvesse um meio termo,
O coração talvez sem ser tão ermo
Pudesse inda arrumar esta bagunça.

Porém a sorte sendo assim, jagunça
Não vejo solução para este caso,
No amor vejo, sem dó, um triste ocaso...



1051


Acende em brasa imensa, a velha chama,
Macabros versos solto em profusão,
Fazendo a mais completa confusão,
Na combustão dos sonhos, minha trama,

Não sendo teu escravo ou teu patrão,
Irmanado contigo, céu e lama,
Quem ama, na verdade não difama,
Nem mesmo que repita a negação.

Patrolas estas rotas podres, rotas,
Carinho que me dás em conta-gotas
Deixando vez em quando o que não deixas,

Soprando sobre nós o mesmo vento,
Usando esta cangalha, o sentimento,
Não tenho mais na vida, quaisquer queixas.



1052


Acende o mundo inteiro e chega ao céu
Pintando este horizonte em mil balões,
Abrindo quaisquer ruas ou portões
Lacrando o que devia ser cruel.

Vivendo cada qual o seu papel
Nós somos os heróis, somos vilões
Mentimos ironias dois bufões,
Porém ao bem de sermos sigo réu.

Cedendo vez em quando, outras nem tanto
Gargalho quando secas o meu pranto
E vago sem perguntas, noites, dias.

Nas mãos que me torturam, mil carícias,
Entranho no teu corpo tais sevícias,
Produtos da delícia em fantasias.



1053


Acende tão somente uma ilusão
O gosto da maçã em tua boca.
Sentindo a mais sublime tentação
Meu sonho no teu corpo já se aloca.

Amor que aromatiza enquanto cura,
Extrai todo o desejo em gozo pleno.
Cansado de viver só na procura
Encontro o que buscara – encanto ameno.

Recebo cada afeto com sorriso,
Esplêndidas manhãs se prometendo.
A sorte que chegando sem aviso
Caminho que ao teu lado, assim desvendo.

De todo o sentimento, se faz dona;
O brilho em minha vida vem à tona...




1054


Acendes a fogueira em que me lanço
Ardendo de vontades e desejos.
Não quero com certeza algum descanso
Somente lambuzar-me nos teus beijos.

Desculpe se o sinal, afoito, avanço,
Mas gosto de teus belos relampejos,
Momentos tão gostosos; quero e tranço
Bebendo os teus prazeres, sem ter pejos.

Na transparência audaz, a camisola,
Permite que se vejam teus mamilos
Que, túrgidos, me excitam num convite.

Aí um temporal voraz assola,
Meus gozos encontrando em ti asilos
Demonstram ser o céu nosso limite.


1055


Acendes a saudade no meu peito
Fazendo tempestade em copo d’água,
Não sei por que guardaste tanta mágoa,
O amor não se maltrata deste jeito.

É claro que, contudo, amor aceito,
Meu peito em teu amor cedo deságua,
Da lua que se deu e que ora trago-a
Eu vejo o belo lume, satisfeito.

Ajeito com carinho a nossa cama,
Lençóis enluarados de esperança.
Mas peço, por favor, não faças drama

Que tudo que eu queria, inda me alcança
E mesmo que eu maltrate a poesia
O amor que tanto tinha, sempre havia...


1056


Acendo alguma luz ao fim de tudo,
E meço com palavras o que digo.
Se faço do meu verso um vaso antigo,
É como se soltasse a voz no agudo,

Seria bem melhor, mas não me iludo,
Vestir a liberdade, doce abrigo,
Mas quero ser assim, e assim prossigo
Se for para mudar; eu fico mudo.

Mas mudo de repente, e vejo o sol
Brilhando fortemente no arrebol
E bola para frente, é mesmo assim.

Requebros sedutores de quadris,
Nas quadras, desenredo, e sou feliz,
Com seca ou com fartura em meu jardim.



1057


Acendo essa fogueira adormecida
Nas brasas que me queimam sensuais...
Eu quero derreter-me em tua vida
No fogo onde vertemos rituais.

Teu beijo me incendeia totalmente,
Qual fosse uma queimada na floresta,
E vejo nosso amor, tão forte e quente,
Saindo até fumaça pela fresta

Da janela deixada quase aberta,
Na sala, vizinhança até na rua,
Os gritos e o calor servem de alerta,
Deitando-me por sobre a carne nua,

E rimos tão felizes, nesse incêndio,
Selamos outro tomo do compêndio...



1058


Acendo o meu cigarro e penso em ti,
Nas espirais dos sonhos sempre estás.
Esfumaçam as dores que senti
Adentra a minha casa, chama em paz.

Os versos mais bonitos que eu já li,
Uma canção que o vento, hoje, me traz.
Vontade de te ter comigo, aqui,
Deixando uma tristeza para trás...

O dia que renasce em teu olhar
Estrela, peço a luz pra mais um dia,
É muito bom poder, a ti, amar

Sentindo o teu perfume junto a mim,
Amar-te, com certeza, o que eu queria,
Saber que tu és minha... amor... enfim...



1059


Acendo o meu cigarro e penso enquanto
A noite se desenha muito aquém
Do quanto necessito e nunca vem,
E ao ver o desalento, enfim me espanto

Apenas a mortalha em vão garanto
E o rumo se aproxima do desdém
Matando esta esperança, sou refém
Do mundo transformado em queda e pranto.

Escondo minha sorte e nada vejo
Sequer o que pensara em azulejo
Amortalhando o dia mais atroz,

E o quanto poderia e não mais visse
Traduz dentro de mim lenda e crendice
Tomando este sentido atroz em nós.




1060

Acendo o meu cigarro
E vejo o teu olhar
Distante a procurar
O quanto desamarro

Das sortes, ledo sarro
E nelas vou buscar
O todo sem lugar
Voltando ao velho barro.

Espúria fantasia
De quem se fez sem rumo,
O todo que podia

Agora não resumo
No caos em utopia
Das dores, farto sumo.



1061


Acendo o meu cigarro em noite escura
E parto em solidão para o infinito.
Carente de carinho e de ternura
Ninguém pode escutar meu triste grito.

Porém ao perceber que enfim vieste
Depois de tanto tempo sem ninguém
De uma esperança nova, amor reveste
E encontra finalmente o grande bem.

De um coração deveras sonhador
Em praias tão distantes, passarinho,
Encontra finalmente o bom do amor
E nele uma promessa em terno ninho.

E a dor que outrora tive se esfumaça
Jogada feito guimba em plena praça...



1062


Acendo o meu cigarro, escuto uma canção
Dirigindo o meu carro, as curvas tão fechadas
Buscando o meu caminho encontro nas estradas
As marcas que deixaste apontam direção

Prossigo em cada andança ouvindo o coração
Batidas no meu peito estão aceleradas
Ouvindo num instante- amor – tuas chamadas
Promessa de encontrar, contigo, a salvação.

Pisando bem mais fundo neste acelerador
As luzes da cidade agora estão mais fortes,
E cada vez mais perto, eu ouço a voz do amor.

Voltando a imaginar teu corpo junto ao meu,
Cicatrizando assim antigos, duros cortes,
Parece que o desejo, enfim, tudo venceu.


1063


Acendo o meu cigarro, tiro um trago,
Olhando para trás, vejo teu rosto,
Curando a cicatriz feita desgosto
Na lúcida expressão de um doce afago.

De todas as lembranças que hoje eu trago,
A mansa sensação deste recosto
Deixando o coração quase que exposto,
Emocionado, amada, eu sempre afago.

O encanto que talvez pensei ser meu,
E um dia em correntezas se perdeu,
Marcou eternamente. Não me esqueço.

E quando uma tristeza se aproxima,
Felicidade em ti encontra a rima,
O amor que foi além do que eu mereço...



1064


Acendo os meus desejos com vigor
Palhaço sem juízo nem perdão,
Queria um fogaréu no coração,
Porém já não suporto mais calor.

Se tanto quanto existo por favor
Teria em coerência outro refrão,
Arrasto meus poemas pelo chão
E teimo ser artífice do amor.

Um ser tão vagabundo que nem eu
Que sabe com certeza que perdeu,
Um joão-teimoso cego sempre insiste.

Arcando com meus versos, um turista
Bancando sem firmeza um otimista
Até quando se mostra amargo e triste.



1065


Acendo tua chama em meu desejo
Nesta ânsia de poder te cultivar
Regada com prazer e muito beijo,
Depois numa ventura decolar...

Assim do lago azul de onde te vejo
A ninfa mais gostosa a se banhar,
Na taça dos prazeres eu prevejo
Esta vontade imensa. Embriagar...

Dançar tua nudez a noite inteira,
Depois sem ter segredos, teu descanso.
Visão desta vontade qual fogueira

Que teima em nos queimar, a pira acesa
Voluptuosamente, mas tão manso,
Tomar-te enfim comigo, com certeza.

1066

Acendo um cigarro,
Sozinho no quarto,
A vida faz sarro,
De amor ando farto,

Eu ligo meu carro,
De noite, e já parto,
Na lama, no barro,
A sorte, eu descarto.

Porém resta o brilho
De ser teu amigo,
Num velho estribilho

Um sonho prossigo,
Seguindo o teu trilho,
Encontro um abrigo...



1067


Acendo uma vontade em cada beijo
Quais seixos que recebem cachoeiras,
Querências e loucuras eu porejo
E bebo das divinas corredeiras.

Num turbilhão de fogos e desejo
Tocando tuas furnas, nas ribeiras
Dos sonhos mil prazeres eu prevejo.
Um pássaro que voa entre soleiras.

Num átimo percebo o teu sorriso,
Audácia me tomando, passo a crer
Possível adentrar no paraíso

E cada novo fruto recolher,
Do amor que se faz lúdico e preciso,
Certeza de alegria e bem querer...



1068

Acendo uma vontade
E nada mais se vendo
Sequer o medo horrendo
Aonde se degrade

O canto aonde brade
A sorte se revendo
E o medo percebendo
O fim em tal saudade.

Vacilo, mas prossigo
E venço outro perigo
Após a curva em vão,

E o charco que adentrasse
A vida sem impasse
Traduz a precisão.


1069



Acerca do que fomos, cada verso
Avesso às tempestades, vendavais,
Vagando em solidão pelo universo
Escuna dos amores perde o cais.

Não posso ter teu lábio junto aos meus,
Tampouco tu te lembras da casinha
Que um dia, pequenina disse adeus,
Na noite que julguei tu fosses minha.

Polvilhaste esperança nesta estrada
Que liga o Paraíso ao duro inferno
Não sobra deste sonho quase nada,
Nas crateras da terra eu já me interno

E colho cada gota de suor
Do amor que antes pensei ser o melhor...



1070


Acerca dos abortos que carrego
Na multifacetária poesia,
Vivendo do que o sonho, inútil, cria,
No rito da palavra, assim me apego.

Não posso disfarçar, sou quase cego,
E nisso, o diabetes faz folia,
O quanto sou somente alegoria,
Não quero ser martelo nem ser prego.

Despedaçando pétalas só restam
Espinhos do que quis ser buganvília
Ao destruir já toda esta mobília

Cadáveres dos sonhos ora atestam
O quanto se fez tolo e placentário
O canto muito além do imaginário...


1071


Acero preparado para a ceva,
O coração sublime da poeta.
Enquanto a poesia ainda neva
Encontra a forma rara e predileta.

Alheio, tantas vezes tive a treva
Nestas tramas abstratas, dor concreta
Seguindo em frágeis bandos, a alma leva
Ao destino cerzido pela seta

Arranjos tão diversos, vozes santas,
Arcanjos desfilando em asas plenas.
Os sonhos que irradias quando cantas

Erigem do vazio, catedrais,
Das mansas primaveras que me acenas,
Espero finalmente ter meu cais...


1072




Acesa esta vontade de te ter
Deitar línguas e dentes sobre ti,
Aos poucos teus segredos conhecer
Eu sinto o paraíso ser aqui

Meus dedos passeando por teus seios
Encontro logo a fonte dos desejos
Tocando com meus lábios os teus veios
Estrelas vão brilhando em relampejos...

E desce uma cascata tão gostosa
E sinto tua boca sobre mim,
Ao ver tua explosão maravilhosa
Também chego ao final, é bom assim

Compartilhamos tudo, amor e gozo,
No fogo do prazer, voluptuoso...



1073



Acesos os pavios da loucura
Que em cios e desejos se completam.
Salivas que se trocam, na procura
Dos mares que se inundam, se repletam...

Explodem multidões de tempestades
Tornando nossos ventos mais bravios.
Rondando nossos corpos, ansiedades
Nos sonhos mais gostosos e vadios...

Nas ondas do prazer as explosões
Roubando a calmaria destas noites...
Tornando bem reais as tentações
Dos lábios sensuais, nossos açoites.

Vazante desta enchente em maremotos
Nas erupções divinas, terremotos...



1074


Achando-me na selva tenebrosa
Vagando pelas sendas da tristeza
Não via no caminho uma beleza
Qualquer em vida amarga e desgostosa.

Uma esperança chega tão frondosa
Nos braços da mulher, a fortaleza,
Que mostra, num momento de incerteza
A sorte a transformar, maravilhosa.

Saveiro que me ajuda a navegar
Por mares turbulentos, procelares.
Guiado por estrelas e luares

Encontro o meu caminho devagar,
Rondando tua luz em liberdade,
Farol que me ilumina, uma amizade...



1075


Achar na treva a luz que necessito,
Achar em teu carinho a salvação,
Vivendo em cada sonho o mesmo rito
De ter nessa promessa, a solução...

Eu vivo transbordando de alegria
Sabendo que encontrei uma saída.
Não deixo mais que a noite tão vazia
Invada nossa cama assim, querida...

Vim de longe, dos ermos do passado,
Tateando, bar em bar, me embriagando,
Teus olhos me deixaram fascinado
Aos poucos me salvei em ti, amando...

Quando pude tocar-te, finalmente,
A luz cegou as trevas totalmente...



1076


Achara bem melhor eu não te ver
Depois destes momentos delicados
Em que não conseguia perceber
Toda complexidade desses fados

Decorridos de amor que sei demais.
Ciúmes que temperam trazem sal,
Agora, nunca é bom ter sal a mais;
Apenas a pitada é o ideal.

Entenda que jamais te quis mentir,
Nem ser o que não sou e nem seria.
Por essas é que tento te impedir
De ver o que esse olhar nunca olharia.

Achara bem melhor eu sempre estar
Disposto nesta vida, a te adorar!



1077

Achava meu caminho tão incerto
Perdido em fantasias, tantos medos...
Vagando sem ter rumo num deserto
Imerso em meus temores e segredos.

A sorte nunca vinha, longe ou perto,
Apenas sensação de dor,degredo...
Agora em minha vida, estou desperto
Bem sei que poderia ser mais cedo

Mas sinto que inda há tempo de lutar
E arregaçando as mangas, meu amigo,
Não deixo mais a vida me tragar.

Eu te agradeço o apoio, companheiro;
Agora sem temor, venço o perigo
E ao mundo não me nego, vou inteiro



1078


Açodam-me as vontades mais audazes
De ter uma estrelar constelação,
Desejos que se mostram mais vorazes
Permitem devorar, sofreguidão,

Ao mesmo tempo sei que são capazes
De trazer a total transformação
Deixando para trás dias mordazes
Estrelas salpicando em meu colchão.

Teu vulto passeando pelo quarto
U’a sílfide fantástica, um colírio
A quem imaginara ser delírio

Amor que me fizesse pleno e farto,
Agora uma tristeza eu já descarto
Legado ao meu passado, um vão martírio...




1079


Açoda-me a saudade de um amor
Que sei, valeu a pena totalmente,
Lembrança que em verdade a gente sente
Nos diz do sentimento o seu valor.

À luz deste sublime refletor
Caminho, peito aberto, vou pra frente,
Sabendo que vivi, que fui contente
Por isso faço aqui este louvor.

Eu sei quanto se sofre estando só,
Porém jamais eu quero pena ou dó,
Orgulho-me da vida que vivi.

Olhando para os lados, sinto ainda,
Presença sempre viva, clara linda
Daquela a quem amei. A sinto aqui.



1080


Açoda-me a vontade de saber
Aonde te escondeste, em qual cometa
Tomaste uma carona. Posso ver
No rastro feito em luz, pegada e seta

Resquícios que deixaste, sem querer.
Quem dera se pudesse ser poeta,
E ter na fantasia tal poder.
A vida mudaria rumo e meta.

Mas nada do que fomos neste espaço,
Nas sendas mais distantes, te procuro.
Ao ver o céu sombrio, amor, eu juro

Depois de tantas buscas, estou lasso,
Vencido pela ausência- noite escura,
Embrenho nas searas da amargura...



1081


Acolho o teu carinho em meu desejo,
Teus rastros pelo quarto, amor, persigo,
Querendo desfrutar de cada beijo,
Eterno companheiro, amante amigo,

A transparência exposta sempre vejo,
Servindo, com certeza de um abrigo
Momentos preciosos que eu almejo
Buscando o teu carinho, assim prossigo.

Quem fora um aprendiz amor declara
Mostrando que apreendeu a jóia rara
E traz a sua imagem sempre perto.

Amor que enlanguescendo, a paz expõe
Além do que procura e se propõe,
Tornando o coração bem mais experto.


1082


Acolho-te em meus braços na delícia
De ter tua nudez junto comigo.
Num toque sensual, tanta carícia
Trazendo o gozo intenso que persigo.

Na concha que descubro; tal beleza
Que logo me inebria e me conquista.
Adoro ser a caça, tua presa,
Sentindo tua mão que me revista

Até chegar ao ponto principal,
Aonde tu percebes meu desejo.
Mulher maravilhosa e sensual,
No fogo do querer, logo latejo

E sinto em tua pele arrepiada,
A lava de um prazer já derramada...



1083


Acolho-te querida. Estou aqui,
Espero que tu venhas mais depressa
O rumo tantas vezes eu perdi,
Mas meu amor intenso se confessa

E baila nos meus sonhos, pois em ti
Eu encontrei amor que se professa
Maior do que pensei, mesmo vivi.
E peço que jamais disto se esqueça.

Eu estarei contigo em cada passo
Na direção da tal felicidade
Que é nossa e que recobre cada espaço

Sonhado e desejado por nós dois.
Vem logo desfrutar desta verdade,
“Não deixe tanta vida pra depois”.



1084


Aconchegadamente nos teus braços,
Felicidade à mostra num sorriso.
Seguindo eternamente nossos passos
Invadem alegria sem aviso.

Passeiam pelos campos dos abraços,
Chegando ao grande Vale Paraíso,
Deitando no teu colo, meus cansaços,
Incrível: eu teu corpo em me matizo.

Ipês e quaresmeiras, matas, relvas,
Veredas, alamedas, bulevar..
Espaços, astronaves, serras, selvas...

Viajo no teu corpo e vou contigo,
Aonde o pensamento nos levar,


1085

Aconchegado estou nos braços teus,
Em tréguas sem procelas ou contendas
Nos lumes tão sutis esqueço os breus
E peço que esta senda assim; desvendas.

Levando cada cântico em fascínio
Rogando pela sorte de poder,
Estar como eu desejo em teu domínio
Desabrochando um mundo de prazer

Seguindo par em par imensa trilha
Que leva ao infinito num instante,
Saber que desfrutei da maravilha
De ter esta mulher tão radiante

Deixando os dias tristes para trás
Nos braços deste amor que tanto apraz...



1086


Acontece que eu te quero
E não me canso de dizer
Que em teus braços recupero
Alegrias e prazer.

Onde havia desespero
Felicidade a dizer
Que o amor, nosso tempero
Tão gostoso de saber.

Sentimento grandioso
Que mudou o meu destino,
Nele enquanto me alucino

Bebo à farta tanto gozo,
Este canto inigualável
É decerto inquestionável...



1087


“Acorda, minha bela namorada,
Vem ver a maravilha deste sol
Que irrompe nos trazendo esta alvorada,
Iluminando assim, todo arrebol.

Depois de tanto amor na madrugada,
As marcas estampadas no lençol,
Vontade de ficar, não fazer nada,
Apenas dos teus olhos, girassol.

A noite foi perfeita, em raro encanto,
Inesquecível mesmo, ouso dizer,
Imerso em alegrias e prazer.

Estrelas se espalhando em cada canto,
Envoltas por teu brilho insuperável,
A fonte de uma luz interminável...



1088

Acordando as almas
Dentro dos sepulcros,
Espinhos são fulcros
Xucros cães acalmas

Lamas repartidas
Repatrias sonhos
Que por mais medonhos
Representam vidas.

Ávidas estrelas
Como é bom contê-las
Mesmo que distantes

Pois já representam
Poeiras que assentam
Luas fascinantes...


1089


Acordando o fantasma que carrego
Durante tanto tempo adormecido
Eu vejo o quão devia ter sabido
Do velho desdentado, amaro e cego.

Burrego no cercado; não me entrego
Ao carcará deveras conhecido,
E mesmo que eu me sinta destruído
Poder ao protetor jamais delego.

Se às vezes eu me esqueço, não renego
O mundo há tanto tempo concebido,
Nem deixo me levar, jamais olvido

De quem mordeu tal isca, e como um prego
Fazendo da esperança um mau emprego
Matou o amor que um dia, eu quis ungido...



1090


Acorde minha amada, o sol nasceu,
E trouxe nos seus raios a esperança.
O mundo que julgava fosse teu
Renova com vigor em nova dança...

Não quero mais sofrer inutilmente
As dores de quem sabe que não tem
Amor que se tornara tão premente,
No fundo não querias mais ninguém!

Os raios deste sol nesta manhã
Trazendo tanta luz sobre meus dias.
Promessas de viver um novo afã,
Em vidas que precisam harmonias...

Talvez se tu quiseres inda veja
Os raios deste sol que não deseja...



1091


Acordei te procurando, o sol lá fora a nascer
Era só um sonho e eu tão longe de ti a te amar
Talvez quimera minha contigo sonhar
Se pelo menos meu amor quisesses ter

Essa noite sonhei com a princesa
Mais bela que encontrei nestas coxilhas.
Mostrando em cada gesto a realeza
Tornando a fantasia em maravilhas...

Chegava tão cansado da procura
Ao ver em tal castelo esta riqueza
A vida se entornando de ternura,
Fazendo-me feliz, pois com certeza

A sorte renascia para mim
Que,vindo uma vida em amargura,
Achando-me bem próximo do fim
Encontro finalmente a minha cura...

Quem dera se... Princesa... Eu fosse rei...
Mas tudo foi um sonho... Eu acordei...



1092

Acordo de manhã e te procuro,
Mas nada percebendo, vou embora
Se toda a solidão ainda aflora,
O pão do dia-a-dia está mais duro.

Por vezes, falsidade; ainda aturo,
A lua se desnuda a qualquer hora
Não quero ter teu braço e sem demora
Distante do teu corpo, salto o muro.

E parto sem destino por aí,
Os rastros deste amor, eu já perdi
E nada impedirá felicidade

De quem não se contendo, vai liberto,
Bebendo cada gota do deserto
Que vejo no horizonte, após a grade...


1093


Acordo de manhã, pão com manteiga,
Tua presença amada e lisonjeira
Mulher maravilhosa nua e meiga
De tantos desafios, companheira.

Estende a nossa roupa no varal,
Os pássaros pousando na varanda.
E descompromissada, casual,
Beleza sensual corpo demanda.

E ali depois de um rito de conquista,
A brincadeira sempre recomeça.
Delícia sem igual olhar avista
Mirar tua nudez, peça por peça

Olhando com tesão e com cobiça
O fogo sem juízo que me atiça...



1094


Acordo destes sonhos e te vejo,
A sílfide que sempre desejara.
No teu olhar um brilho de azulejo,
Tua boca perola jóia rara.

O manto que te cobre, dum verdejo
Raríssimo. Trazendo ares de Iara
No respiro suave do desejo.
Estrelas te servindo de tiara...

Quem sou eu para estar tão perto assim
Da deusa que chega e me tortura?
(A morte vem raiando e é meu fim)

Depressa, num segundo se desfaz
A imagem dos meus olhos some, pura...
Será que foi um sonho e nada mais?



1095


Acordo e nada vejo, sigo só.
Vencido pelas duras ventanias,
Roubando toda a luz dos novos dias,
Estrada me legando apenas pó.

Minha alma num moinho encontra a mó,
Rompendo-se ao final destas orgias,
Nas lúgubres promessas, fantasias,
Estilhaços espalho; fujo à dó.

Não quero mais sarcásticos sorrisos,
A vida se passou sem dar avisos,
Invade a correnteza, velho ninho.

Minha carcaça exposta em cada rua,
E o vento sem limites, continua
Fazendo da amargura o doce vinho.



1096


Acordo e não te vendo desespero...
Procuro-te nas ruas, avenidas.
Sem teu amor é vida sem tempero,
É perder, dos caminhos, as saídas...

Porém ao retornar: felicidade!
Encontro novamente o meu sorriso.
Refeito deste susto e com saudade
Voltamos num segundo ao paraíso.

Tu falas da preguiça tão gostosa
Do amor que se faz forte e sedutor.
Perfume inebriante desta rosa;
A rainha absoluta mulher/flor.

E somos tão felizes, desse jeito,
Da rosa ; eu recebendo o amor perfeito....



1097

Acordo e não te vendo
Procuro inutilmente
E mesmo que inda tente
Mistérios não desvendo
E sei que sou remendo
Do sonho onde apresente
A vida em penitente
Caminho em duro adendo.
Escárnio sou e sinto
O sonho agora extinto
Matando a primavera,
E o tanto quanto eu quis
Jamais me fiz feliz,
A vida em vão espera.


1098


Acordo no calor dos braços teus
E sinto em teu perfume a redenção
Dos dias que passei, caminhos meus,
Aonde não havia direção.

No fundo de teus olhos eu percebo
O brilho da esperança refletido,
Um mundo tão fantástico concebo
Deixando o que eu vivi já esquecido.

Chegaste em minha vida abençoando
Na glória que se faz em luz intensa.
Futuro fabuloso se mostrando
Recebo o teu amor em recompensa

E a vida assim prossegue em plena paz,
No gozo deste amor que a noite traz...



1099

Acordo no calor
Do sonho mais audaz
E nada enfim se traz
Aonde eu quis propor
Um dia em raro amor,
Mas nada satisfaz
E o passo outrora em paz
Agora em nova cor,
Agrisalhando o passo
Enquanto nada resta
Sequer o que ora traço
Em noite mais funesta,
Apenas o cansaço
E a morte dita a festa.


1100


Acordo uma esperança adormecida em mim,
Depois de tanto tempo a vida prosseguindo
O medo dominando, o dia se esvaindo
Restando simplesmente amor que sei sem fim,

O gosto de teu beijo, a boca carmesim,
O dia anoitecendo, o medo perseguindo
O quase que chegando, o nunca perseguindo
Meu verso te procura e nada encontra enfim.

Mas sei que longe vens em passo galopante
E logo chegarás, mulher que tanto eu quis.
Entrando em minha casa, em riso triunfante

Mostrando que bem sabe o quanto necessito
Do braço que distante, ao me deixar aflito
Retorna neste instante, e me faz tão feliz...

 
Autor
MARCOSLOURES
 
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