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Amando ao Avesso

 
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Será que ela vai demorar muito?


Sinto vontade de gritar tudo em poucas palavras;antes dizer tudo assim...sem parecer fácil,mas também sem perder tempo com rodeios.


Agora não havia mais nada,modelava palavras coloridas com meu sorriso mais delirante,explicaria tudo desviando minha atenção do fato que teatro e ficção sempre fica coberto com um manto de faz-de-conta,sem remetente nem vestígios eu não espero que ela me ame mais por isso,nesse pedacinho de natureza humana que me sobra,construo uma certeza -não existem mentiras nos olhos de quem nos deseja de verdade-ela sabe disso!
Ela espera que no mínimo eu saiba dividir nossa vida em detalhes prazerosos de serem relembrados.


Misturei um pouco de prosa nisso,será seco demais não querer fingir um orgasmo ao abrir a boca?
Ela era a ultima coisa...coisa?Já a trato sem nome ou caráter...passou a ser simplesmente mais uma coisa no meu retrato de cabeceira.Tínhamos o habito de inventar paixões platônicas por nossos brinquedos.


Entrava aos poucos quando já era tarde da noite,ela sabia que meu sono era leve,mas ainda assim tinha coragem de insistir,sua prova de amor com aquela dose de desafio que ela adorava encontrar em tudo,entrar calada querendo não me despertar.Me despertou para tantas coisas...a ultima que deveria se sentir culpada era por me acordar a noite.


Parece que ouvi passos lá fora,tentava caminhar sussurrando;a ansiedade provoca todo tipo de ruído e nosso coração tira o volume das coisas reais e tudo fica colorido de ilusões;na verdade...ainda não existe nada,melhor ir me deitar,quando estou na cama essa angustia sufoca tanto que sou capaz de crer que o tempo parou e resiste em me torturar,com essa vontade de encontrar o certo ou o errado escrito matematicamente nas linhas paralelas do meu juizo,amanhã...o melhor é que amanhã eu diga isso a ela.


A cama esta fria,os lençois tocam minha pele e eu lhes peço conforto,peço silencio,mas aquele perfume de tecido lavado me faz pensar em tantas coisas...me distrai bastante,então sinto minhas mãos mornas correrem por meu corpo,minha mão entra de cúmplice com a imaginação para mudar meu foco de lugar,tento reconhecer meu cabelo,encontrar novas coisas nos meus cantos e dobras,aos poucos vou mergulhando naquelas luzinhas que ficam passando la fora,parece que o tempo esta claro,nem saberia dizer quando o dia começa de verdade,quando amanhece...


Novamente ouço aqueles passos,mas eles acontecem dentro de mim,eles caminham tortos por minhas coxas, meus dedos caindo em meus labios e vejo aquela aliança que manteve ela aqui junto de mim enquanto eu estava me preocupando com o horário,no meu jeito de levar essa relação por esse tempo todo.


Meu suspiro ergue meu joelho para o lado,vou me deitar de costas para a porta...não quero imaginar como seria tentar acordar com o susto de vê-La entrar.nesse impulso de dizer coisas que na verdade seriam melhor...calar?fingir que não aconteceu vai ser pior.


Preciso relaxar,já esta doendo de verdade isso dentro de mim,eu permiti acontecer,cheguei até aqui,implorei para ser verdade,ser sincero o que sentia;não significa que não foi de verdade,apenas surgiu na mesma onda engolida pelo oceano.Água,eu levanto meio que escorrendo pelos cantos,vou tentar mergulhar numa chuva morna,naquele lugar que amei em tantos sentidos,posições,em tantas ocasiões temperadas de pecado e insinuação.


Tirar a roupa ganhou um sentido teatral,fazer assim por necessidade não tem sabor,isso me decepciona por poder esperar mais um pouco por aquelas mãos que me conheciam,aqueles braços do elemento “erótico”,sempre me chamava de anjo,dizia que minhas asas estavam escondidas nos cachos pintados,ela nunca teve medo de esfregar minhas costas,costurava suas unhas com sabão e língua em mim,enquanto tentava arrancar aquela pureza implícita nos nossos lábios.

O espelho do armário estava embaraçado,mas eu vi seu vulto passar sem prestar atenção em nada;se estivesse morta no banheiro,ali permaneceria,pois não recebi aquele boa noite medido em notas cintilantes.


Estávamos somadas no espelho,mais um pouco,mais um pouco eu teria saído dali nua e ditado imperativa meu ódio disso ser somente um detalhe,quero desaparecer da minha vida inteira.


O vapor estava na casa toda,fervia pelas portas,aquecia a cozinha e preenchia meu espaço de neblina com aromas de pele.


Tudo o que desejamos determinar,acontece quando não temos respostas ,nem disposição para esclarecer tudo facilmente.


Sai,sentei-me desconfortável no sofá,ela sabia que aquele olhar não tinha malicia,não havia desejo para me despir,era serio o que estava dentro de mim,era por conta propria,um total de respostas e perguntas nascendo repentinamente.


Ela me olhou,desviou o olhar e guiou minha atenção para um embrulho dourado ao lado da porta; tinha aquela rara mania de me surpreender.


Eu nem quis quebrar o encanto que se elevou no ar,estava morrendo;de alegria,de medo,de angustia,de ansiedade,de tantos súbitos estados de espírito.
Disse enfim:
-Estou grávida!
O embrulhou?ela trouxe um coelhinho de pelúcia;o presente foi uma surpresa.Ambos os presentes.

 
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Anjuh223
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