Tenho saudades!
Saudades de ter saudades.
Saudades de ter alguém.
Vivo rodeado pela solidão.
Vivo no meio da solidão
Tenho saudades de uma carta. Carta essa que nunca chegou.
Pelo menos o carteiro não a entregou.
Será que a extravio?
Sinto saudades do ponteiro acelerado que tenta desesperado ultrapassar o meio-dia.
Fujo do Futuro e refugio-me no passado.
Escuto a solidão! Não ouço ruído nenhum.
O Amor afastou-se e o dia deu lugar à noite.
Sou um dado que foi lançado por um jogador que não sabe jogar.
Rodo e rodopio. Não sei quanto tempo me vou aguentar assim.
A campainha tocou em tempos. Mas o seu som confunde-se com o ruído que o asfalto reflecte.
Timidamente passeio no jardim que me faz recuar no tempo.
Respiro avidamente a frescura que as saudades me trazem.
Tentando a todo o custo decifrar a mensagem que as duas árvores corpulentas gesticulam na minha direcção.
Será esta a mensagem escrita na carta? Será que a carta nunca existiu?
Eu digo que sim. Que ela existiu.
Mas o tempo responde logo de imediato que essa carta nunca o tempo a viu.
Tenho o orgulho ferido. Tenho saudades de ter saudades.
Vivo só. Vivo cercado por uma multidão que me dá dó.

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bomnorte
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