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O Carvão

 
O mar estava calmo. E na ilha o Faroleiro. E o Farol era antigo.
O Faroleiro atravessava o mar na sua jangada para pedir carvão ao Carvoeiro, que o esperava na praia, todos os dias, pela manhã, com o saco na mão.
O carvão era a sua vida. E da do Faroleiro. Enquanto o carvoeiro o produzia, o Faroleiro gastava-o no seu farol.
De noite e em dias de névoa, a luz do farol mostrava o caminho a barcos, barcaças e peixes. O Faroleiro sabia isso. Por isso, todas as manhãs, ele ia à praia. E sabia que o Carvoeiro estava à sua espera, sempre, e em ponto.

Um dia o farol apagou-se. A humidade do ar apagara a fogueira que iluminava barcos, barcaças e peixes.
E o Marinheiro perdeu-se. Não deu à costa, ficou em alto mar, aflito. Aflito e cansado, pois vinha de descobertas inimagináveis, de locais paradisíacos. E queria contar o seu feito às suas gentes.
Perdido em águas longínquas, ouve uma voz: o Sol. Dizia que não o podia ajudar, mas se esperasse pela noite, uma luz brilhante do céu o guiaria a terra. Deveria seguir a sua direcção.

Mas esse momento nunca mais acontecia. Até que o Sol se lembrou que tinha que se pôr. Tinha que morrer para que o Marinheiro se salvasse.

Nunca tinha visto coisa mais bela, este Marinheiro. O Pôr-do-Sol em águas profundas fez-lhe lembrar as vezes que o Faroleiro se metia em seu Farol para que ele pudesse chegar a bom porto. Lembrou-se também das vezes em que o Carvoeiro se metia dentro da sua mina para que o Faroleiro pudesse atiçar o fogo do farol.

E assim aconteceu. A estrela do Norte o guiou e as gentes o esperavam por novas e presentes do mundo novo.

Também lá estavam o Faroleiro e o Carvoeiro.

 
Autor
António Baguinho
 
Texto
Data
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1795
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