Poemas : 

À Procura do Poeta e da Vida no meio dos Peixes

 
O que o Mundo diz não se escreve nem se tem em conta!
E o que os Homens fazem também não!
Então, que tenho eu a dizer se não que está calor
Um calor monstruosamente tremido e gélido?!
E que me doem as pernas e os músculos e os olhos!
E que me dói a mente a alma e o Ser!
Mas eu não sou…
E se sou, desculpem mas Não Quero Ser!
E o Resto?
O Resto apenas É!
E embora eu não saiba o que É nem o que Foi e muito menos o que virá a Ser,
É, apenas, e É-lo muito!

Vejamos e digamos:
Estou enviesadamente e inteiramente disperso!
Porque o Resto foi e eu não fui, tentei, mas não deu!
E só comigo, vim buscar o aconchego de um Poeta…
Poeta, na poderosa e imbatível essência de o Ser!
Virei-me de costas para não o importunar…
(Os Imortais merecem e regurgitam-se com o seu altar!)
E defronte à beleza parada da Vida frenética envolvente,
Mergulho com os Peixes da água podre!
E como é estrondosamente belo o Mundo visto do verde-sujo!
Pedi aos Peixes para nadar com eles no Nada que Tudo possui
(Sim, porque Tudo o que carecem, têm, sem querer ter mais)
Mas rejeitaram-me!
São estranhamente inteligentes e eu percebo-Os:
Para quê um negro gasto em redor de tanta Vida?!
Obrigo-me a apoiá-Los e retorno ao Poeta Imortal.
(Que ironicamente vê apenas o que lhe mostram…)
Mas eu invejo-o.

Ó Poeta deixa, por isso, que eu me enterre junto de ti
E possa, desta forma, reaver o raio de Vida e do Sonho que hoje perdi!...

<br />Há momentos na nossa efémera passagem por determinados locais, em que nos dá vontade de lá permanecer indefinidamente... Foi o que me aconteceu, no meio primeiro dia de aulas do ensino superior, quando tudo parecia virado contra mim, num único propósito, que era enterrar-me. Estava exausto e cheio de uma enorme dor interior. Encontrei, subitamente, o Jardim da Cordoaria no Porto, onde existe um lago e uma estátua de António Nobre (um dos poetas realmente POETAS) e perdi-me naquele local. Daí resultou este poema... Um profundo retrato do momento que vivi compulsivamente!

 
Autor
PauloQueiros
 
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