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PAÍS DE DELÍCIAS

 
PAÍS DE DELÍCIAS


Meu nobre Portugal, quem te conduz,
Na senda do progresso e dos aumentos?
Quem poderá comprar roupa, alimentos,
Se o dinheiro não chega para a luz?!

Essa luz, que tão bem nos ilumina,
E só nos deixa às cegas, quando calha…
Faltando, os nossos nervos arruína,
Dificultando a vida a quem trabalha.

Puxa, Sr. Ministro! Outro passeio?
Pois claro! Isto é zelar pelo meu povo!
Sabe? Não me convence o seu paleio.
Promete, e nunca dá um mundo novo.

Promessas? Estamos fartos. Excelência!
Discursos, não nos enchem a barriga!
Cuidado! Se nos falta a paciência,
Vai sair-lhe bem cara essa cantiga…

As dívidas alheias que pagamos,
Neste regime, onde há “democracia”,
As misérias que temos, empenhamos,
Sendo este o nosso pão de cada dia!

País maravilhoso e progressista,
Aonde há mais comícios que trabalho.
Das torres dos palácios, que se avista?
Mendigos, aos milhões, sem agasalho…

Que mudança foi esta, Santo Deus!
O que significou revolução?
Ficarmos sendo apenas europeus?
Termos cada vez mais falta de pão?...

Lá de longe, faláveis contra a guerra;
Contra o regime atroz, de ditadura!
Deu-se a reviravolta; e a nossa terra
Está livre; e, de pobreza, há mais fartura!

Elucidai o povo, apartidário,
Que já não sabe mais o que fazer!
Coitado! Bem que estica o seu salário,
Não consegue jamais sobreviver…

Se defendeis assim a classe pobre,
Que confiou em vós, nas eleições,
Tomai cautela; pois, se alguém descobre,
Ainda vão chamar-vos aldrabões…

Não vos queixeis, depois, quando for tarde:
A fome dá fartura de rancor!
Encheis a pança, sem fazer alarde,
Ante a revolta do trabalhador…

Se antigamente não se abria a boca,
Com medo dos castigos, na prisão,
Na santa liberdade, que nos toca,
Pode-se hoje à vontade ser ladrão…

Fascismo… reacção… democracia…
Vocábulos sem fim nos ensinaram!
Quatro anos, bem contados, dia a dia,
E em todos eles, só nos enganaram!

Se o dinheiro ia para o ultramar,
Que fazem dele, agora, meus senhores?
Gastam-no, enchendo a mula, e a passear,
E este país é casa de penhores…

Se a força da razão já não impera,
Então mandemos tudo à outra banda!
Pretendeis transformar o povo em fera?
Pode-vos devorar… é quem mais manda…

Seria bom; porém, tão desunido,
É presa fácil, como vos convém!
Protesta, cada um, desiludido,
Sem medir o valor que a união tem…

À morte o “orgulhosamente sós”!
Urgente é sepultar tempos passados!
Idolatrai, com fume, o novo algoz,
Mas “orgulhosamente” depenados!...

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FRANCISCO QUARTA
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/12/2007 17:20  Atualizado: 23/12/2007 17:20
 Re: PAÍS DE DELÍCIAS
bons versos, caro francisco.

Enviado por Tópico
Arménio Cruz
Publicado: 23/12/2007 17:26  Atualizado: 23/12/2007 17:26
Participativo
Usuário desde: 03/09/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 12
 Re: PAÍS DE DELÍCIAS
Muito bem amigo Francisco, que leitura perfeita deste país sem rumo e governação!... Realmente, só nos resta a esperança. Um abraço amigo.

Enviado por Tópico
Juli Lima
Publicado: 23/12/2007 19:22  Atualizado: 23/12/2007 19:22
Colaborador
Usuário desde: 02/08/2007
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 989
 Re: PAÍS DE DELÍCIAS p/ FRANCISCO QUARTA
Boa tarde! Aplauso! Expressiva e reflexiva crítica. Acredite... Parece com meu Brasil. Triste recorte de um momento. Boas festas! Bj poesia