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AS RUAS DE SÃO PAULO

 
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Gê Muniz

AS RUAS DE SÃO PAULO

As ruas de S. Paulo transmitem-me enorme agressividade. O trânsito desumano dos carros associados aos pedestres, aqueles trejeitos faciais todos com ar autossuficiente e descolado de metrópole, como que sabendo exatamente de onde vieram e para onde irão e porque agem e vestem-se com aquele charme blasé de cidadãos universais causam-me um estranho e patético constrangimento. Por que eu no meio disto, justo eu que não sei de onde vim, para onde irei ou por que faço isso e não aquilo? Eu que não tenho qualquer experiência prática em lidar com truques e peripécias civilizadas de convivência urbana nas cidades de grande monta? Sou presa fácil para a indiferença absoluta desses caras. Não que isso me incomode muito além do constrangimento. O caso é que qualquer situação intimida-me na minha essência anulada, porque me pegará sempre em lugar e estado de espírito errados. E sinto um altivo orgulho imbecil em nada ter a dizer a eles, nem a ouvir deles. De certa busca podre por aceitação, fraqueza mesmo, capto uns poucos ecos desse papo-furado que me desagrada visceralmente. Dá-me a impressão de que esse povo não age individualmente no trato da própria vida, porque a imensa, poderosa e orgulhosa personalidade coletiva da cidade lhes impinge cacoetes. O importante é que eles acham legítimo transmitirem esse código viral entre eles, afinal são paulistanos e estão confortáveis em participar do jogo. Consideram-se criaturas naturais, animais urbanos, enfim, a última coisa que considero serem... Onde eles veem graça e originalidade cool, enxergo enfadonha imitação e mecanicidade. Neste ponto, para suportar o descalabro, combato-me as emoções com minha infinita introspecção e cínica humildade: se, afinal, nem de mim consigo definir algo concreto, o que poderia eu captar assim de tão performático neles todos? Talvez eles estejam certos, talvez não, talvez tenha de ser assim, talvez, ainda - e o mais provável - não haja certo ou errado para esta situação e o errado em ser tão passivo e repulsivo diante às circunstâncias externas seja mesmo eu.

(Gê Muniz)
 
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GeMuniz
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/10/2013 09:47  Atualizado: 01/10/2013 09:47
 Re: AS RUAS DE SÃO PAULO
há uma robotização do indivíduo nas cidades grandes. cada pessoa é uma peça da grande máquina. viva a simplicidade da vida no campo. abraço, Gê.


Enviado por Tópico
Betha Mendonça
Publicado: 03/10/2013 00:09  Atualizado: 03/10/2013 00:09
Colaborador
Usuário desde: 30/06/2009
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Mensagens: 6700
 Re: AS RUAS DE SÃO PAULO
Gê,

Um texto muito bom.Tais considerações
que fazes cabem a todas as cidades grandes
e até as não tão grandes, como a que moro
e percebo e sinto as mesmas coisas.
Abraço