Contos : 

viagem...

 
No inicio da minha longa viagem pelo cantos mais remotos do nosso hospitaleiro mas às vezes inóspito planeta, comecei por fazer a viagem pelo ponto que mais me cativava a tenção visto adorar arqueologia e o Cairo ser riquíssimo nesse aspecto.
Mal desembarquei no aeroporto, a minha decepção começou a surgir, por ver a completa desorganização aí existente, meu guia contratado na viagem estava lá a um fundo com um enorme cartaz com o meu nome mal escrito, e com uma cara de quem fazia aquele trabalho realmente por obrigação, mas pensei um pouco na situação dele visto aquilo ser um modo de subsistência e eu estar lá como mais um turista relaxado em férias.
Para minha surpresa, o português que ele falava não era muito rudimentar e isso para mim foi um alivio pois pensei que iria ter que falar tudo em inglês, e logo que abandonamos o aeroporto e iniciamos viagem no seu automóvel, ele explicou me que o pais estava a passar por uma época difícil, de tentativa de transição de regime politico e que lá as pessoas ainda viviam muito no medo e na sombra de um regime que os obrigava e forçava a ser reservados e fechados entre eles próprios.
Explicou me também que eram quase forçados a ser simpáticos e hospitaleiros com os turistas visto serem um modo de subsistência grande para o país, e enquanto tudo isto era absorvido por mim, fui vendo a vivência da população nas pequenas ruelas todas aglomeradas e cheias de mercados espalhados na rua, onde se podia ver um pouco de tudo desde sedas e tecidos, até animais vivos e frutas da época e onde se via muitas crianças quase nuas a brincar nessas pequenas ruas mas cheias de movimento e vida, e aí abri um pouco o vidro da porta do carro e veio me um suave cheiro pitoresco ao clima misturado com um perfume que parecia ser canela misturada com outras especiarias.
Chegados ao hotel, paradisíaco por acaso, o meu guia queria logo tratar me das bagagens, mas para grande surpresa dele, convidei o para vir tomar uma bebida refrescante visto estar um tempo quente e a viagem ter sido comprida, ao inicio mostrou se um pouco relutante até mesmo desconfiado, mas eu insisti talvez porque depois de o ter ouvido a falar fiquei mesmo a pensar que o que para mim seria um período de férias e de lazer, para ele seria mais um trabalho, e assim seria um modo de lhe tornar a tarefa menos árdua e tão autónoma.
Fomos até á esplanada do hotel, onde ele tratou de pedir depois de eu lhe ter dito o que desejava para mim, visto ele ter falado na língua natal para o empregado e trouxe me um chã gelado de gengibre e o mesmo para ele, e aí tive a primeira percepção dos sabores lá existentes no Cairo, longe daquela azáfama toda existente no ocidente e das bebidas alcoólicas lá muito em voga. No final de termos degustado a bebida, o que para mim foi uma nova descoberta, insistentemente agradeceu-me e eu lhe disse que para mim não era um empregado, mas sim uma pessoa como eu.
Desejou-me um resto de boa tarde e foi tratar das minhas bagagens, enquanto eu aproveitei para ir a o terraço da esplanada e aí constatei a enorme diferença do que tinha visto até ali, uma zona de construções todas ordenadas com os seus majestosos jardins e piscinas, onde consegui também deslumbrar ao longe as pirâmides o que para mim era o meu ponto de interesse numero um vindo depois o museu do Cairo, e só no final tentar apreciar mais uma vez a vivência humana lá existente, em redor dos grandes centros mas também aquela mais afastada e remota.
Lá no hotel todos os empregados sorriem para mim, protocolo ou não do hotel, mas ajudou bastante no ambientar do estranho clima que eu falsamente adivinhara no inicio destas férias. Subo então para o meu quarto, e é ai que me deparo com uma enorme varanda com uma vista fenomenal para a zona exterior de lazer do hotel e exausto me deito ao comprido na cama, esticando as pernas e músculos um pouco doridos da longa viagem de carro. Olhei um pouco para o lado, e reparei na subtileza de todos os pormenores do quarto e decide-me a ir tomar um banho refrescante.
Uma casa de banho majestosa, a imitar um pouco a construção daqueles palácios faraónicos, com muito espaço e uma banheira de hidromassagem gigantesca, o que me fez logo desistir da ideia de tomar um duche rápido e me demorar num longo e relaxante banho de imersão.
Só nesse banho tive a impressão de estar lá semanas a fio deitado naquele gigantesca banheira e aí me apercebi o quanto a minha vida de escritório me roubava aqueles doces prazeres só os encontrando nestas mais que merecidas férias.
Nem sequer a estranha sensação de dormência nas pernas que me vinha a incomodar há algumas semanas me fez despertar para a minha monótona rotina a que antes me presidia todos os dias.
O corredio do escritório, a rotina daquelas reuniões sem fim, e o deitar tarde finalmente estavam a ficar para trás. Decidi-me então me vestir e ir ver melhor o que o hotel me tinha para oferecer. Desci no elevador e sai na entrada principal onde havia mesas cheias de tâmaras e figos, fruta predominante daquela região , provei uma tâmara e degustei aquele sabor para mim estranho, mas ao mesmo tempo saboroso.
Mais tarde jantei, provando mais uma especiaria egípcia, a qual me agradou bastante e no final fui até ao bar do hotel onde para minha surpresa havia muitas mulheres no bar, tantas ou mais que os homens lá existentes mas deviam ser turistas como eu, e logo meti conversa com uma turista inglesa, muito simpática por sinal e onde chegamos ambos á mesma conclusão que o Egipto fora daquelas quatro paredes era muito diferente do que nos era apresentado.
Quando ela me disse que seu objectivo principal era visitar as pirâmides, fiquei radiante e perguntei-lhe se não se importava de eu lhe fazer companhia, onde ela por meio de um sorriso tímido me respondeu que não se importava nada e que até me queria sugerir o mesmo mas tinha medo que eu recusa-se. Sorri para ela, e disse lhe que nunca iria recusar uma companhia como a dela e dei por mim a olhar para ela de uma maneira não muito habitual em mim.
Não devia ter mais de 27 anos, sua pele era surpreendentemente morena para alguém que era britânica, seu vestido negro mostrava um decote que não era exagerado convidando mesmo a minha imaginação menos própria a funcionar e suas pernas belas e esguias acabavam num traseiro divinal. Ela me perguntou o que estava bebendo e eu respondi-lhe meio envergonhado que se tratava de chã gelado, onde contra todas as minhas ideias ela ficou radiante porque me confessou não gostar de bebidas alcoólicas e pretender o mesmo para ela e eu nesse exacto momento lembrei-me do gesto que tinha tido com o meu guia e como isso agora me estava a ser útil. Falamos horas a fio, nem demos pelo tempo passar e quando eu já pensava que a noite iria acabar por ali, ela sugeriu me meia envergonhada meio decidida, se não queria a acompanhar até ao seu quarto.
Apesar do chã que tinha já ingerido, minha garganta ficou seca e só consegui responder com um sorriso tímido. Dirigimo-nos ao elevador onde eu amaldiçoei aquele empregado do elevador por naquele exacto momento estar ali a mais. Ela olhou para mim e como se tivesse apercebido de meus pensamentos, sorriu de maliciosa, e eu sorri também. Chegamos ao andar dela e logo ao sair do elevador sou quase surpreendido por um beijo quente e avassalador, e meu Deus como aquela mulher beijava bem, nossos corpos próximos um do outro me fez estremecer, e sou quase que literalmente arrastado para a porta do seu quarto.
Nesse momento, minha cabeça está a mil, não sei que pensar e ajo quase por instinto.
Minhas mãos correm todo o seu vestido negro, enquanto minha boca devora e é devorada pelo seu apetite animalesco. Dou por mim com uma mão atrás das suas magras costas e a outra no seu traseiro firme e duro e puxo-a para mim como se nos separa-se quilómetros de distância. Tento balbuciar algo em inglês, mas aquela mulher simplesmente não me dá tréguas e pelo pouco espaço de tempo de seus loucos beijos dá sorrisos de pura malícia.
E louco de desejo a empurro subtilmente para a cama, ao que ela não me oferece nenhuma resistência, e aí perco-me no tempo e no espaço, não desejando mais explorar coisas mortas á 5000 anos mas sim aquela mulher bem viva á minha frente e que lentamente me faz a mim ressuscitar com todo o seu desejo. Tiro-lhe o vestido e dou por mim a ver o que julgo ser mais belo e intenso que a própria Cleópatra, seu corpo bem delineado por uma lingerie sensual e muito suave ao toque, ao que ela me arranca literalmente a camisa e eu dou graças a Deus por ter perdido tanto tempo cuidando de minha forma física, pois vejo pela reacção dela que não ficou indiferente ao meu corpo trabalhado por longas horas de ginásio.
Nos amamos por horas a fio, e dou por mim deitado na banheira dela com seus negros cabelos tocando meu peito e simplesmente nós os dois olhando para o infinito e silenciosamente sem dizer uma única palavra nos compreendíamos e desejávamos que aquele momento fosse eterno, tal como os faraós desejariam á muitos anos atrás viver para sempre no além. Mas meu desejo não era viver no além mas sim acompanhar no momento aquela bela mulher de pele morena a todo o lado que ela me permitisse, e assim lhe perguntei no meio de um sorriso se ainda estava em pé aquele convite para a acompanhar, e ela nada dizendo me tocou na cara e me deu um beijo bem demorado.
Fui me deitar ao seu lado e ela me abraçou com carinho e deixei-me adormecer embalado pelo seu toque, e quando acordei pela manhã e me virei ela simplesmente não estava lá ao meu lado. Perplexo, ainda um pouco ensonado, pensei logo na possibilidade de ela simplesmente ter tido um affair comigo, e já triste com a situação me levanto mas eis que aí ouço a água do chuveiro a correr e ouço a mesma voz sensual do dia anterior me dizendo num inglês com sotaque para me juntar a ela e que já tinha mandado vir um pequeno-almoço para os dois. Sorri, como uma criança, por ver a tolice que me tinha invadido o pensamento não tinha nenhum nexo, e a beijei instantaneamente mal entrei naquele chuveiro e ela quase lendo meus pensamentos me disse sorrindo, que nossa louca viagem ainda não teria fim.
Nos amamos naquele chuveiro e confesso que saí do chuveiro com um apetite descomunal, e vendo o pequeno-almoço tão sumptuosamente servido, me deliciei entre beijos e carícias, das mil e uma iguarias que me eram dadas a degustar.
Sem apetite nenhum para o almoço visto termos tomado o pequeno-almoço tão tarde , viemos os dois até ao terraço do hotel, e onde para minha surpresa encontro lá o meu guia que me olhando, sorriu inocentemente, percebendo logo o porquê de minha bela companhia. Então virou-se para mim e me disse num português bem fluente, que eu já estava a conhecer as mil e uma belezas de visitar o Cairo. Disse-lhe no meio de um sorriso que a culpa também era dele, porque me tinha aconselhado o chá gelado e tinha sido graças ao chá gelado que eu em certa parte tinha conquistado aquela doce mulher. Ela embora não percebesse nada do que dizíamos, me abraçou num abraço caloroso e me deu mais um beijo .
Confesso que já não me interessava nada ir fazer o papel de turista, e ir visitar monumentos longínquos e antigos, quando tinha á minha beira um monumento vivo e que me deixava louco de desejo de sim a ela e completamente sozinho a explorar de um recanto a outro .
E foi exactamente o que se passou, enquanto os outros turistas iam tirando fotos e explorando o que já tinha sido explorado por milhares de pessoas, nós nos divertíamos como dois adolescentes beijando-nos dentro daquela pirâmide que mais parecia concebida para aumentar nosso desejo, não decorei nada sobre a história egípcia, seus hieróglifos ou o reinado de seus faraós mas sim beijei aquela mulher em cada pedaço, e em cada trilho que nós explorávamos.
Ao cair da tarde , fomos passear num barco pelo Nilo a dentro, onde observamos enormes crocodilos nas suas margens e onde ela se aconchegou bem á minha beirinha dizendo que aqueles animais lhe metiam medo. Beijei-a na testa e lhe disse que não lhe deixaria que nada de ruim lhe acontecesse e ela se abraçando mais a mim disse que comigo se sentia completamente segura e eu sorri para ela e dei graças a Deus ter escolhido aquela viagem para mim me rindo mesmo com a decepção inicial que eu julguei estar a ter.
Hoje e contra todas as probabilidades, essa bela turista é também minha mulher, e meu Deus como recordamos aquela viagem ao Cairo onde sinceramente deixei a arqueologia para segundo plano e tal e qual me disse o guia fiquei verdadeiramente a conhecer toda a beleza do Cairo.

 
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kripy
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